O frio na barriga é natural quando atuamos em eventos. Não há profissional de excelência que não sinta essa estranheza no início de seu planejamento. Isso é até bom, pois lhe permite mais afinco e busca assertiva para a realização de todos os pormenores vitais para um resultado de sucesso.
O Brasil, na atualidade, vive essa situação com a responsabilidade de organizar e sediar a COP 30, a 30ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, agendada para novembro em Belém, Pará, no qual líderes de Estado globais, cientistas e empresas discutirão ações para combater as mudanças climáticas.
O país há muito sedia grandes eventos internacionais e já chegou a ser TOP TEN dos países que mais recebem eventos dessa natureza, pelo ranking de uma das mais prestigiadas entidades do setor, a International Congress and Convention Association (ICCA).
Porém, o destino escolhido, com todo mérito por sua localização tática, com referências ao pulmão do mundo, a Amazônia, maior floresta tropical do mundo e interesse em apresentar outras localidades como alternativa tupiniquim às existentes, tem tirado o sono de muitos profissionais do setor e de alguns membros do grupo político focado em sua organização.
Com uma população de 1,3 milhão de habitantes, Belém se apresenta como um polo regional, com um Produto Interno Bruto (PIB) per capita de R$ 20.562 bilhões, demonstrando uma economia diversificada e em crescimento. O município tem grande importância econômica para o estado e para a Região Norte, atuando como um centro comercial e logístico vital para o escoamento da produção da Amazônia para o resto do Brasil e o exterior. A localização geográfica da cidade, à beira do Rio Amazonas, faz de Belém um ponto estratégico para o comércio de produtos como açaí, guaraná, castanha-do-pará, cacau e peixe, além de ser um importante centro de indústria e serviços. Contudo, em termos de cadeia turística para o atendimento a dimensão desse evento, há desafios gigantescos.
A começar pela questão da hospedagem para os participantes do COP 30. O comitê local da organização do evento projeta em seu inventário de acomodações cerca de 19.000 leitos e que pretende ter 50.000 até o período do evento, ou seja, entre os dias 10 à 21 de novembro, já que essa é a expectativa do fluxo da audiência.
O cálculo matemático é bem simples e assustador: há um déficit de mais de 55% da necessidade projetada.
A resolução apontada irá focar em meios de hospedagem, sem classificação e critérios globais, já que a maior demanda será por meio dos espaços escolares, reformados para tal “gambiarra”, além de transatlânticos que serão deslocados para a região. Há também investimentos na construção de novos empreendimentos, mas não no número de unidades habitacionais necessárias.
É evidente o interesse do governo local e federal e isso fica configurado pela série de investimentos que fazem parte de um amplo pacote de obras estruturantes que não só atenderão às demandas do evento, mas também transformarão a cidade de Belém em uma cidade mais moderna, sustentável e integrada.
Tais preparativos envolvem a ampliação de ruas, saneamento de esgoto e drenagem de águas pluviais, entre outras ações, na capital paraense. o que sem dúvida são pontos muito positivos que poderão ser percebidos tanto pelos visitantes, quanto para os munícipes.
E outra iniciativa urgente diz respeito a qualificação da mão de obra, não só de hotéis, mas de toda a cadeia produtiva de um evento. O povo é muito vibrante, singelamente acolhedor, mas precisa de uma performance profissional alinhada com as boas práticas internacionais, afinal o mundo todo estará por lá.
Não adianta todo o investimento em questões operacionais e táticas, se o humano for negligenciado.
A questão também é já pensar à longo prazo, além de novembro de 2025: como realmente otimizar todos os investimentos e impulsionar o turismo na região?
Já temos inúmeros exemplos de localidades que realizaram investimentos vultosos e depois ficaram com verdadeiros “elefantes brancos” se deteriorando e com pouco retorno para a sociedade local.
Não podemos esquecer também das prerrogativas de cunho estratégico relacionadas aos objetivos do evento. Espera-se que o país tenha sua retórica habilidade como mediador conciliador e agregador visando ativar acordos e efetivamente trazer à tona resoluções que colaborem na tentativa de impedir um desastre ambiental maior, do que já estamos sentindo.
E isso tudo, em um cenário geopolítico sem os Estados Unidos, que com a posse de Donald Trump rompeu sua adesão ao Acordo de Paris.
É... as pontadas no estômago surgem e precisam ser alertas para que não deixemos passar mais essa oportunidade.
Belém sediará a COP 30, mas o Brasil é que será o anfitrião.
É preciso arrumar e preparar a casa, sem jogar a sujeira embaixo do tapete, mediante as condições possíveis de serem concebidas, afinal, agora é tudo ou nada!
E como boa brasileira, eu acredito na nossa força e gana de realização, com respaldo daqueles que nos colocaram nesse cenário, ainda muito nebuloso, mas com nuances de um horizonte iluminado... vai depender de cada um de nós!
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