Um Espetáculo Adicional

Essa estratégia gera grande visibilidade e desperta interesse da audiência, mas demanda investimentos até três vezes mais alto que um orçamento de um evento realizado em um ambiente convencional.

A famosa grife de luxo Dolce & Gabbana recentemente surpreendeu o mundo ao promover o lançamento de sua nova coleção de alta costura na mítica cidade de Veneza, Itália, ao ar livre, em plena Praça São Marco, um dos mais visitados pontos turísticos da região. Com mais de 1.600 anos, o espaço foi alvo de passarela e do famoso burburinho do jet set fashionistas que a cada nova coleção ficam ávidos por espetáculos que surpreendam, não só pelo conceito expostos nos modelos, mas também pela transformação, cada vez mais frequente, de usar o que em eventos chamamos de “locações inusitadas”, ou seja, ambientes que não foram planejados para receberem eventos, mas são provisoriamente transformados para tal fim.

Essa estratégia gera grande visibilidade e desperta interesse da audiência, mas demanda investimentos até três vezes mais alto que um orçamento de um evento realizado em um ambiente convencional.

Isso porque a infraestrutura do local não foi arquitetada para tal desempenho e quase tudo, precisa ser providenciado, o que acaba exigindo a aplicação de mais recursos. Contudo, sabemos que o binômio custos x benefícios está atrelado aos eventos e a decisão por esse tipo de sede, será sempre muito bem estudada e analisada.

Aliás essa ação, foi a primeira após o período de isolamento que o mundo foi içado em 2020 em função da pandemia Sars Cov2 e a escolha por um ambiente ao ar livre foi recomendação para justamente evitar aglomerações em locais fechados, o que pode acelerar a propagação do vírus, mesmo parte da Europa já ter dito flexibilizações para a realização de eventos com ainda controle de público e a implementação de protocolos específicos.

O evento da moda contou com uma plateia que por si só também era estrelar, mais de 400 pessoas ligadas ao mundo fashion estiveram presentes e se inebriaram com o convite de vivenciarem 03 dias de puro glamour e surpresas promovidas pela marca. Entre os convidados pode-se citar celebridades como as atrizes Helen Mirren e Monica Bellucci, as cantoras Jennifer Lopez, Doja Cat e Ciara, o ator Christian Bale, e o rapper Sean Combs e a modelo Heidi Klum.

A programação do evento, antecedendo ao já consagrado Festival de Cinema de Veneza, incluía: no sábado, a exibição da coleção de joias da grife no magnífico Palazzo Ducale. No domingo, ponto alto da celebração, instalou uma passarela sobre as águas para o desfile de moda feminina e na segunda-feira, o desfile de moda masculina.

Se pudéssemos usar duas palavras pelas imagens transmitidas, nos dois primeiros acontecimentos especiais, poderíamos mencionar ostentação e impactante, mas entrelaçadas por muita delicadeza e um ode à cultura local, já que os estilistas proprietários da marca fizeram uma emocionante homenagem à cidade italiana recriando seus monumentos, como a torre do relógio, e tradições locais como os cristais coloridos da ilha de Murano e as máscaras do carnaval veneziano em bordados e estampas pintadas à mão. Cem gôndolas, outra tradição local, levavam às modelos até a passarela. Realmente algo nunca antes visto.

O vento acabou sendo um figurante que não atrapalhou, pelo contrário, gerou até um efeito esvoaçante para os longos e fluidos vestidos.

Mas... no final da tarde, o tempo ameaçou arruinar o desfile, numa fusão entre chuviscos e sol, que formou um arco-íris, que contribuiu, ainda mais, para a atmosfera de fantasia imaginada por seus criadores... um efeito naturalmente orgânico. Enquanto tocava “Quatro Estações” de Vivaldi e os designers recebiam uma ovação de pé da plateia, a chuva veio, mas nada assustador. Depois do desfile, Domenico Dolce confessou à revista Vogue: “Sabem que sou católico por isso pedi à Virgem, ‘por favor espere um bocadinho! Por favor’.”

Porém no último dia de evento, as preces não foram ouvidas... algo inusitado ocorreu... uma chuva de granizo... O fato ocorreu no Arsenal de Veneza, quando um vento forte soprou e grandes pedras de granizo começaram a cair enquanto os modelos apresentavam as peças da coleção de alfaiataria masculina da grife. A situação fez com que na disputada fila "A", poucas pessoas permanecessem até o fim do desfile. Já o pit - local no fim da passarela em que os fotógrafos se posicionam - ficou lotado de pessoas, buscando proteção.

Mesmo assim os produtores decidiram levar ao pé da letra “The show must go on” e os modelos, de um profissionalismo ímpar mantiveram sua linhagem e finalizaram a apresentação.

Guarda-chuvas logo surgiram e ajudaram a minimizar o impacto das pedras de gelo... realmente ... algo não imaginado, mas que no próximo, já estará nas variáveis de segurança a serem consideradas.

Claro que as questões climáticas relacionadas a um evento ao ar livre são pontos de grande vulnerabilidade, já que não há por lá um “Cacique Cobra Coral” como na cidade do Rio de Janeiro... aliás esse tema irei abordar em um artigo futuro... é muito interessante!

E como os eventos ao ar livre estão entre as tendências na retomada dos eventos presenciais... precisamos nos atentar – e muito – para essas questões.