Inovação Simpática, Mas Antipática sem as Crianças

Em vez de apenas assistir a um jogo, o público busca interagir, vibrar, socializar, e vivenciar momentos únicos que vão além do esporte em si. O uso da tecnologia está sendo vital para esse objetivo, porém o toque humano continua sendo o elemento que arrepia e deixa as emoções ainda mais à flor da pele.

É fato que o Cerimonial como um ecossistema dinâmico e vivo tende a receber inúmeras variações, conforme seu tempo e o próprio espaço de sua execução.

E um exemplo disso é a edição atual da Copa do Mundo de Clubes da FIFA, referente ao rito de entrada dos jogadores no início da competição.

Com total inspiração nas partidas de basquetebol da NBA, o torneio de 2025 realizado nos Estados Unidos, inovou com a entrada individual dos jogadores dos dois times no gramado, com seus nomes e imagens anunciadas nos telões dos estádios.

Um por um, os jogadores entram em uma espécie de portal de leads, nas cores de seus respectivos times e uma fumaça, totalmente desnecessária, gerando um efeito “big star”.

Posteriormente, os times não ficam mais perfilados e sim frente a frente e apenas um coletivo se desloca em direção ao outro para entrega da flâmula, pelo capitão da equipe, seguida dos cumprimentos, na maioria das vezes gélidos, entre os atletas. As bandeiras gigantes dos times ao lado de cada time no gramado foram mantidas.

Todas as inovações são bem-vindas, ainda mais com uma referência cultural tão forte, em sintonia com o esporte mais amado do anfitrião, o basquete. Até porque, ano que vem a Copa do Mundo terá também esse território como uma de suas sedes.

Porém, a retirada da simpática prática de crianças entrarem em campo com jogadores de futebol foi um grande erro.

Em um momento de tanta necessidade de encontramos esperança no futuro, confesso que a ausência das crianças nesse roteiro inicial de uma partida, transmitida para grandes audiências globais, me deixou insatisfeita. Elas deveriam continuar sendo coprotagonista do cerimonial de abertura.

Além do mais, esse rito tão emblemático e emocionante, que se tornou comum em jogos pelo mundo, tem um histórico tupiniquim, pois sua origem foi Brasil na década de 1970.

O relações públicas e colega de Academia Brasileira de Cerimonial e Protocolo, ABCP, cadeira XIV, Ronan Ramos Oliveira, na época, diretor da área do Atlético Mineiro introduziu tal rito justamente para atrair mais famílias aos estádios. Inicialmente, havia a exigência de que as crianças se parecessem com os jogadores, mas essa norma foi flexibilizada com o tempo.

A estreia dessa prática aconteceu no jogo contra o América, onde 11 crianças entraram em campo junto com os jogadores, e o Atlético venceu por 1 a 0. Ainda deu sorte!

A iniciativa foi tão bem-sucedida que rapidamente se espalhou por outros clubes e até pela FIFA, que enxergou a entrada de crianças em campo como uma forma de celebrar a paixão pelo futebol, simbolizando a esperança e o futuro do esporte, além de reforçar a ideia de que o futebol é para todos, independentemente da idade, inclusive trazendo atitudes de inclusões pela diversidade de gêneros, étnicas, raciais e de deficiências físicas e neurológicas.

Os jogadores entram concentrados, com a adrenalina bem elevada, e o contato com as crianças evoca um momento de afeto, de relação do fã com o ídolo, do olhar de admiração de um e olhar de crença na continuidade de sua arte do outro.

Ficamos órfãos dessa sensibilidade, o que me preocupa, já que os eventos estão cada vez mais high tech e precisam impulsionar mais o high touch, afinal partidas presenciais, movimentam o conhecido Sportainment.

Conhecido como a união dos termos "sport" (esporte) e "entertainment" (entretenimento), essa nova representação social possibilita integrar elementos de entretenimento em eventos esportivos para oferecer experiências mais imersivas e memoráveis aos participantes e espectadores.

Em vez de apenas assistir a um jogo, o público busca interagir, vibrar, socializar, e vivenciar momentos únicos que vão além do esporte em si.

O uso da tecnologia está sendo vital para esse objetivo, porém o toque humano continua sendo o elemento que arrepia e deixa as emoções ainda mais à flor da pele.

Caso contrário, é melhor ficar com os jogos eletrônicos nos videogames.

E sinceramente, é bom... mas não se compara a vivência de uma prática tendo, nesse caso do futebol, a plateia como décimo segundo jogador de seu time.

FIFA, volta com as crianças, por favor!

Comentários

  • Sergio Junqueira Arantes, IP, CEM
    domingo, 29 de junho de 2025 às 20h52
    High Tech, High Touch. Acredito ser possível aliar a tradição norte-americana e a participação das crianças.
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