Nascem as Feiras do Caio

“É o desejo que cria o desejável e o projeto que lhe põe fim.” Simone de Beauvoir

Queridos leitores, quando JK foi eleito se vivia no Brasil uma euforia do desenvolvimento, do crescimento e da “felicidade” consumista. Juscelino Kubistchek aproveitava de todas as formas esses ares que se espalhavam por toda parte e Caio já com o terreno adubado tinha pressa para fazer suas FENITs e mais outras Feiras. Sentia a ebulição econômica do momento e sabia que se ele não começasse logo a fazê-las, alguém as fariam. Por intuição tinha certeza de que a maioria dos países, em pouco tempo iriam participar de um mercado comum, Caio foi uma das primeiras pessoas a falar da globalização e tentar convencer os empresários e industriais de que o Brasil não podia ficar de fora dessa comunhão com a modernidade.

Sintonizado com os maciços investimentos estrangeiros na indústria automobilística, Caio já pensava em fazer um Salão do Automóvel como o da Alemanha. Ele tinha muita urgência, urgência daqueles que sabem do que estão falando. Caio começou uma cruzada contra o tempo, contra a mentalidade vesga dos industriais brasileiros e como um Don Quixote sem Sancho Pança, assumiu como missão empurrar o Brasil a todo custo para o desenvolvimento.

Sua intuição dizia que a FENIT não poderia ser exclusivamente uma Feira de Negócio, como costumavam ser as Feiras na Europa e nos Estados Unidos. Ele tinha certeza que o brasileiro, com o seu jeito de ser, mais afável, menos formal iria demorar mais tempo para aceitar fazer negócio nos moldes das Feiras de Snitow, com estandes de alumínio sisudos, nos quais os compradores mal acomodados, sentados em cadeiras duras de madeira, conversavam com os vendedores em volta de mesas estreitas, olhando de longe os produtos expostos, e muitas vezes só através de catálogos. Caio por mais que tentasse, não conseguia acreditar que esse modelo de Feira objetiva, fria, vingaria no Brasil, pelo menos não nesse começo. Ainda mais com o jeito do brasileiro de fazer negócio que primeiro é preciso transformar o comprador em “amigo” e não seria numa Feira tipo da europeia ou da americana que os compradores iriam se sentir bem recebidos.

E me parece, queridos leitores, que esse jeito de fazer negócio ainda continua em vigor, pois vários promotores de Feiras falam a mesma coisa.

Por causa disso, Caio sentiu necessidade de inventar um modelo de Feira que atraísse, chamasse a atenção e agradasse não só os expositores, fabricantes, compradores, mas também o público em geral e que sobretudo tivesse um clima de festa. Para isso era preciso que a Feira tivesse shows, desfiles, prêmios, e entretenimento para toda a família. Assim acabou criando um modelo de Feira 100% brasileiro.

Caio decidiu que a FENIT iria retomar a escassa e fracassada experiência passada de algumas tecelagens de trazer grandes costureiros para desfilar seus modelos no Brasil. Agora ele traria os melhores costureiros do mundo, mas de uma maneira muito mais profissional, muito mais glamorosa, e bastante “estrondosa”, para provar aos industriais que a indústria da moda é um negocio sério, que gera muito emprego e que movimenta milhões. Para começo de conversa ele não iria trazer um costureiro só, mas quatro deles, os mais importantes, e os mais famosos do mundo.

Depois de muitas negociações, envolvendo inclusive a Embaixada do Brasil, depois de pilhas de telegramas pra lá e pra cá, secretárias sem dormir, e uma trabalheira de proporções épicas, Caio finalmente viajou para a Europa, acompanhado de milhares e milhares de metros de algodão para serem entregues em mãos desses reis da moda internacional, tecido com o qual eles iriam confeccionar os modelos que iriam desfilar nas passarelas da FENIT.

Quando Caio chegou no tradicionalíssimo Café Le Deux Magots, na Praça Saint Germain du Près, Oscar, seu amigo que trabalhava na Embaixada Brasileira na França, e que o ajudou a contatar os costureiros, já estava esperando por ele. O lugar costumava estar sempre apinhado de gente, o que não foi diferente naquele dia, mas tiveram a sorte de conseguir uma simpática mesinha na calçada.

Enquanto arrumavam as cadeiras para se sentarem, um garçom rabugento e indelicado, como todos os garçons em Paris costumam ser, se colocou ao lado do Caio segurando um bloquinho e um lápis demonstrando claramente que estava com pressa. Caio pediu dois cafés e como sabia que não ia resistir, pediu também um daqueles maravilhosos croissants, que o Oscar declinou. Mas quando o croissant chegou fumegante, e Oscar viu Caio saboreando essa invenção francesa, tentando passar a manteiga nesse pãozinho folheado em forma de meia lua que de tão quentinho a manteiga escorria, e caia no prato, ele não resistiu e pediu um também. Mas Oscar estava ansioso e muito interessado em saber tudo sobre os costureiros, pois já fazia algum tempo que ele vinha acompanhando a luta do amigo para conseguir fazer esses convites e agora era todo ouvidos para escutar em detalhes as histórias que o amigo tinha para contar.

Caio contou a tremenda batalha que foi conseguir convencer os costureiros mais importantes do mundo aceitarem fazer coleções especiais com os tecidos brasileiros.

“Pois é, meu amigo, com esse time de costureiros que eu levarei para a minha FENIT, imagino, Oscar que a FENIT não pode dar errado, não é verdade?” Conversaram mais um pouco, mas Oscar como tinha outros compromissos, levantou-se para se despedir do amigo, deu-lhe um grande abraço, mas prometeu estar presente na inauguração da Feira, dizendo-lhe que tinha certeza que a FENIT seria um imenso sucesso.

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