O Senhor dos Jacarés

“ Você não precisa procurar a sorte, é a sorte que te procura”.

Antes de mais nada, gostaria de parabenizar meus leitores pelo dia do Profissional de Eventos, no último dia 30, data em que se comemora também o nascimento deste personagem tão incrível. mesmo para aqueles que conheceram o Caio, tenho convicção de que muitos não conhecem os detalhes e acontecimentos que forjaram sua personalidade e o tornou quem ele foi e ainda permanece vivo como nunca em nossas memórias, tanto através desta humilde biografia e do Prêmio Caio. Então vamos lá!

Queridos leitores, como acontecia todos os dias, a sala do Caio na Alcantara Machado, já estava pronta esperando por ele. Até a vela em honra a São Francisco de Assis e a São Judas Tadeu, já estava acesa. Essa reverência religiosa, essencialmente católica chocava-se com o clima profano, folclórico, supersticioso que impregnava o ambiente, onde os jacarés reinavam soberanos no papel que lhes fora designado pelo próprio Caio, de amuletos da sorte. Os jacarés foram se multiplicando de uma tal maneira que um dia alguém resolveu contá-los e se deu conta que já passavam de mais de dois mil. Todos sem exceção, haviam chegado como presentes de amigos, parentes, conhecidos, funcionários, com a intenção de homenagear o “Dr Caio” que a essas alturas já era chamado pelos íntimos de “O Senhor dos Jacarés”. Como Alex Periscinoto dizia: “a população desses espécimes na sala do Caio é maior que da Everglades e do Pantanal juntos. A coleção só rivaliza em número com a de histórias engraçadas, que ele faz questão de manter no topo da memória”.

Esses charmosos répteis trazidos daqui e de acolá, de todas os lugares do Brasil e de todas as partes do mundo, eram feitos dos mais diferentes materiais possíveis e imagináveis de ouro e prata, de pão, pedra, madeira, plástico, osso , papel, pano, vidro, ferro, aço, chocolate de todos os materiais inimagináveis e até de pedras preciosas, de todos os tamanhos, e se apresentavam em diversas poses, alguns usavam luvas, lenços e chapéus, outros vinham metidos em casacos e casacas, alguns calçavam botas de couro enquanto outros usavam brilhantes sapatos de verniz, alguns ostentavam orgulhosos até mesmo “importantes” condecorações.

Kate, sua secretária estava esperando o Caio se acomodar, e depois de alguns segundos disse: “Dr. Caio, o Presidente da República deseja lhe falar com a máxima urgência. O secretário dele já telefonou hoje, duas vezes. Posso colocá-lo na linha?”. Caio deu graças a Deus da ligação não ter caído nas mãos da sua outra secretária, Vera, que embora já estivesse com ele há muitos anos e fosse uma pessoa excepcional, num caso como esse a notícia já teria “sem querer” se espalhado por toda a Alcântara, até o passarinho que costumava ficar lá na frente já estaria sabendo que o Presidente da República tinha telefonado.

Caio não fazia a menor ideia do que Costa e Silva queria com ele. Sentia horror da ditadura militar e estava longe de se simpatizar com o Presidente. Desde 1964 participava de um grupo de empresários, políticos, religiosos, intelectuais que secretamente se reunia para discutir a situação do Brasil, cujo objetivo era estar atento a qualquer oportunidade para poder dar início ao movimento da redemocratização do País. Mas enquanto isso não acontecia, Caio acreditava que nesses tempos difíceis o melhor que ele tinha a fazer era continuar trabalhando para o crescimento da economia, que no seu caso, era continuar gerando empregos através de suas Feiras.

Quando Caio falou alô, respondeu do outro lado da linha o secretário do Presidente que logo passou a ligação para Costa e Silva: “Dr. Caio, bom dia falou Costa e Silva, com voz de comando”. “Bom dia, senhor Presidente”. “Dr. Caio, serei breve e direto, não tenho tempo para perder e acredito que nem o senhor. Estou telefonando para lhe fazer um convite, gostaria muito que o senhor aceitasse. O Brasil precisa muito do senhor neste momento. Gostaria que o senhor assumisse a Presidência do Instituto Brasileiro do Café. Amanhã estarei no Rio de Janeiro, no Palácio Laranjeiras, gostaria de recebê-lo lá às 15h para uma reunião. É possível? Caio ficou alguns segundos em silêncio e depois fazendo um enorme esforço para não demonstrar o tamanho do abalo que sentiu respondeu: “Com certeza, Sr. Presidente”. “Ótimo, então nos veremos amanhã e espero que sua resposta seja positiva”.

Caio desligou o telefone em estado de choque. Pela primeira vez na vida achou que estava tendo o que as pessoas chamam de mal súbito, um suor frio começou a escorrer pela sua testa, suas mãos formigavam, seus olhos estavam tão embaçados que ele não conseguia distinguir os números do telefone para chamar sua secretária. Tentou respirar, mas não conseguiu o seu peito doía e estava duro como uma pedra. Fechou os olhos, e aos poucos muito devagarinho ele foi sentindo que estava voltando ao normal. Não saberia dizer quanto tempo tinha se passado, respirou fundo, secou o suor com um lenço e chamou sua secretária, fazendo de conta que nada tinha acontecido.

O Presidente Costa e Silva recebeu Caio pontualmente às 15 horas, estranhamente numa pequena sala do belíssimo Palácio Laranjeiras. Costa e Silva era o 2º Presidente militar da ditadura, havia tomado posse em março desse mesmo ano de 1967, sob grandes expectativas da sociedade brasileira, não só porque havia prometido à população que no seu governo levaria a nação a um progresso econômico significativo, como também prometera conduzir o Brasil rumo à redemocratização, ponto esse absolutamente determinante para que o Caio aceitasse o convite de ir conversar com esse militar aparentemente bem intencionado.

Costa e Silva mal cumprimentou Caio e depois que ambos se sentaram foi direto ao assunto: “Dr. Caio, muito obrigado por ter atendido prontamente ao meu pedido. Como o senhor deve estar a par o meu governo enfrenta uma série de desafios em diversas áreas, sendo a economia uma das minhas prioridades. O senhor já deve ter lido nos jornais que os meus objetivos são combater a inflação, fazer uma revisão na política salarial e ampliar o comércio exterior. Isso posto, o senhor deve imaginar os inúmeros problemas que venho enfrentando desde que assumi a presidência para começar a solucionar esses enormes desafios,” falou o Presidente querendo dar à conversa um tom mais intimo que soou ao Caio bastante falso. “Paralelamente a isso, eu tenho um outro grande problema que é encontrar uma pessoa que possa ocupar a presidência do Instituto Brasileiro do Café, que enfrenta hoje dois graves problemas que precisam ser resolvidos com a máxima urgência”. Caio percebeu que Costa e Silva estava se preparando para tentar seduzí-lo, mas é claro que como militar, ele não tinha a menor ideia de que maneira se fazia isso. Como Caio tinha decidido se manter absolutamente calado para ver até onde ia dar aquela conversa toda, o general foi se sentindo um pouco incomodado com o seu silêncio, decidiu dar uma guinada e resolveu se render, partindo para a pura bajulação: “Dr. Caio, nas reuniões com a minha equipe, fui bastante claro quanto ao perfil de quem eu queria colocar no comando do IBC. Em primeiro lugar não queria nenhum político e muito menos nenhum produtor de café, eu fazia questão que fosse alguém que viesse da iniciativa privada e que fosse capaz de criar novas estratégias, o senhor me compreende, completou o Presidente, alguém que criasse estratégias modernas para vender o café, alguém capaz de estabelecer novas políticas internacionais para colocar o produto no mercado internacional. Além disso, Dr Caio, eu entendo que essa pessoa precisava ser comprovadamente um administrador de grande calibre, alguém que conhecesse o mercado internacional, e que tivesse grande agilidade administrativa, fosse empreendedor e que tivesse grande capacidade de realização. Tenho que lhe confessar que o seu nome me foi indicado por unanimidade. E mais do que isso, o senhor foi indicado como sendo a única pessoa no Brasil, capaz de realizar tal façanha. Portanto, Dr. Caio, preciso da sua resposta já, se o senhor aceita ou não o meu convite”.

Caio observava cuidadosamente cada gesto, cada palavra do general com lente de aumento para descobrir qual a verdade que se escondia por trás daquele convite. Tirando todo o blá blá blá presidencial, não foi difícil descobrir, ou o melhor deduzir, o porque Costa e Silva queria colocá-lo na presidência do IBC. Como a ditadura militar no Brasil estava sendo muito mal vista, principalmente pelos países europeus, países estes que eram justamente com quem o IBC precisava negociar a venda do café, Costa e Silva se viu obrigado colocar um empresário, de preferência que tivesse prestígio internacional, como uma maneira de mostrar ao mundo que a ditadura brasileira estava sendo apoiada pelo empresariado brasileiro. Caio não era bobo e durante a conversa já tinha medido as consequências para si e para o Brasil se caso declinasse de tal “honroso” convite.

Caio percebeu que ele não tinha saída, ou ele aceitava ou aceitava o convite. “Coincidentemente”, no início daquele mesmo ano, 1967, Caio tinha apresentado para a Prefeitura de São Paulo, um projeto pessoal, aliás o projeto dos seus sonhos, que era a construção do maior Centro de Exposições e Convenções da América Latina, nos mesmos moldes dos que já existiam na Europa e nos Estados Unidos, no qual ele pretendia realizar suas Feiras, posto que o Pavilhão do Ibirapuera tinha ficado pequeno demais para elas, e também criar para São Paulo um espaço para abrigar Congressos e Convenções, tanto nacionais quanto internacionais, lugar que São Paulo, embora sendo a maior cidade da América do Sul, ainda não tinha. O maior sonho do Caio com esse mega Centro era inserir São Paulo no calendário internacional do turismo de negócios e eventos. E justamente, enquanto ele esperava pela autorização do prefeito Faria Lima, para poder construir o tal Centro às margens do rio Tiete ele recebeu esse “convite” do Presidente Costa e Silva.

Durante a conversa, Costa e Silva, fez questão de lhe perguntar sobre esse seu projeto, sobre suas Feiras, e Caio mais do que de pressa captou o sutil recado que se caso não aceitasse a presidência do IBC, o seu projeto, ( que mais tarde viria ser o Parque Anhembi) poderia não sair do papel e que talvez suas Feiras poderiam estar comprometidas pra sempre.

“Senhor Presidente”, respondeu Caio com firmeza: “Me sinto muito honrado com a indicação e nem sei se estou à altura e se corresponderei ao que o senhor e sua equipe esperam de mim, mas prometo que darei minha alma para prestar esse serviço ao Brasil, da mesma maneira que meus ancestrais um dia tiveram a oportunidade de servir à nossa Pátria”.

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