A palavra presente deriva do termo em latim praesentia, que significa alguma coisa que está perto, ao alcance de alguém. O ato de presentear, historicamente ativo em diversas culturas, ganha maior significância pelo fato de ser gesto que traduz a intencionalidade de estar próximo, mesmo à distância, de uma forma amigável, respeitosa e cordial.
Além disso, vai muito além de uma convenção social já instaurada, pois um presente também traduz apreço, fortalecendo vínculos e seu valor não pode ser vinculado a uma mera questão monetária e de status de privilégio, que pode soar até como algo pretencioso e arrogante.
Toda essa contextualização nos gera a identificação de que a ação de presentear torna-se uma verdadeira arte e que deve ser conduzida de forma muito estrategista e responsável.
Porém, a polêmica do presente institucional do STF está na contramão dessa demanda.
O órgão fez o lançamento de uma linha oficial de lenços e gravatas da Corte que serão usados para presentear autoridades em visitas institucionais ao tribunal, em diversas vezes em caráter de retribuição.
A gravata é da cor azul-marinho, com um padrão formado pelo símbolo do STF. Cada uma custa R$ 384, de acordo com o órgão. Já o lenço é de um azul mais claro, também com o logo da Corte.
E o Ministro Barroso ainda deu mais robustez para a situação, com sua fala:
“ A iniciativa partiu do “departamento STF Fashion”. “Nós lançamos uma gravata do Supremo Tribunal Federal, que todos estamos utilizando, e, para as mulheres, um lenço belíssimo, como o que está com a ministra Carmen Lúcia”
Logomarca em outros objetos impessoais é comum e representa o seu objetivo de gerar lembrança, mas em peças de cunho pessoal???
O STF também possui uma série de outros brindes e itens personalizados, incluindo canecas, copos térmicos, blocos de notas agendas e guarda-chuvas, que inclusive são vendidos na loja do orgão. Mas investir nesse tipo de acessório tão singular e pessoal para presentear seus visitantes ilustres? É dinheiro desperdiçado!
É praxe que, em encontros oficiais e com autoridades estrangeiras, haja troca de presentes e reforçando a percepção de gentileza e amabilidade, perfeitamente normal e incentivado como sinalização de consideração e reforço de relacionamento.
William Shakespeare já nos ensinou que “A excelência de um presente está muito mais em sua adequação e pertinência que em seu valor.”
O que realmente terá peso é a criatividade, funcionalidade e vínculo com o conceito e representatividade de quem oferece.
Por mais discreta que seja a logomarca em uma peça de uso pessoal, a mesma poderá gerar desconforto, desdém e até mesmo repulsa.
Por isso, um brinde, mimo ou presente deverá ser pensado de forma muito estratégica, com racionalidade e não emoção.
Na atualidade, o compliance torna-se uma referência em todos os espaços corporativos e públicos, e o ato de presentear nesse contexto não seria diferente. Se há legislações e recomendações empresariais, as escolhas devem mapear os comportamentos, respeitando os limites éticos, sem gerar desconforto ou sensação de imposição.
Sem dúvida alguma o valor gasto em tal “presente” seria muito mais apreciado se fosse investido em algo de relevância artesanal e cultural, impulsionando a economia criativa.
O olhar estratégico da equipe de cerimonial, certamente, não foi considerado e a situação acabou por gerar uma crise de reputação, em um momento tão delicado que a economia brasileira passa.
Muitos chegaram a entender a iniciativa como algo insensível e de uma total inadequação à realidade vivida pela população e associaram as peças como elemento de enforcamento, já que se sentem com “a corda no pescoço”.
Não era preciso mais caos no ambiente governamental, já temos factoides e perrengues suficientes.
E isso é porque acabamos de começar mais um ano... que sejamos resilientes mesmo com a gravata e o lenço no pescoço!
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