Ninguém sai de uma boa conversa da mesma forma que entrou. Um bom papo amplia nossa visão sobre as coisas, principalmente quando acontece entre pessoas diferentes entre si.
Para que boas conversas aconteçam precisamos ampliar nosso repertório. E isso acontece a partir de novas experiências, vivências e diferentes conexões. Só conseguimos somar conhecimento a partir do que é diferente da gente. Conhecer histórias diversas nos dá uma perspectiva mais real da realidade, nos torna mais humanos e por consequência, nos torna também pessoas mais interessadas e interessantes.
Buscar ouvir mais, perguntar mais para entender quem é a outra pessoa, e julgar menos para multiplicar nossas possibilidades de novas conexões. É importante entender que opinião e preconceito são coisas distintas. Não podemos confundir liberdade de expressão com a ação deliberada de agredir ao próximo. A consciência de que o limite de nossa liberdade vai até o limite da liberdade e do respeito aos direitos das outras pessoas é fundamental. E fazemos isso a partir de boas conversas.
E podemos colaborar para que boas conversas aconteçam quando reunimos nelas pessoas de várias gerações. Suas diferentes visões nos revelam desafios reais e atuais que se parecem com os nossos, independente de sermos jovens ou adultos. Papos que nos alertam, por exemplo, dos riscos de presenciarmos passivamente a inexistência de uma revolução na educação, onde, principalmente as escolas públicas, ao não prepararem os jovens para o mundo digital, reforçam a desigualdade de condições no mercado de trabalho, condenando estes jovens às ocupações de base, com vagas mais operacionais, de baixa remuneração e poucas perspectivas de carreira.
Conversas assim nos fazem entender que o verdadeiro programa de intercâmbio que precisamos promover para os jovens de nosso país, é o de criar pontes entre os alunos e alunas da periferia de São Paulo até os escritórios das empresas globais da Faria Lima. Onde o desafio principal não é o de falar uma nova língua, mas sim o de facilitar o acesso para que estes jovens possam apertar um simples, mas inacessível botão nos modernos elevadores destes prédios.
Quando nos abrimos para dialogar, percebemos que o trajeto profissional de uma pessoa também mudou. No passado, definia-se o futuro profissional escolhendo entre cerca de no máximo 10 profissões possíveis – e geralmente facilitava-se esta escolha seguindo a profissão dos pais. Depois, as pessoas passaram a ter liberdade parcial de escolha, contando com os pais apenas para ajudar no processo. E hoje, diante de um leque de mais de 200 profissões possíveis, os jovens tem autonomia e são incentivados a escolher sozinho o seu destino. São tantas opções e caminhos que é praticamente impossível acertar de primeira. Por isso, assistimos longas jornadas acadêmicas, onde alunos e alunas ficam pulando de um curso para o outro, tentando entender na pratica como fazer umas das escolhas mais importantes de sua vida. Assim, prolongam suas jornadas acadêmicas de formação de 4 para 6 ou 7 anos. E nas empresas esta realidade se reflete em estagiários, cada vez experientes e com idade avançada, que batem à porta buscando a chance de exercitar seus novos conhecimentos.
E por falar em educação, carreira e profissão, uma boa conversa também é sempre garantida quando reunimos homens e mulheres para diálogos respeitosos e colaborativos sobre gênero no mundo corporativo. Entender que ainda hoje, em 2021, mesmo com tanta discussão e consciência, as mulheres seguem com menos espaço e ganhando menos que os homens. Principalmente nas posições de alta liderança, onde os homens ainda ocupam 95% das posições. E que, em termos gerais, a remuneração feminina ainda é 30% menor que a dos homens.
E quando temos a oportunidade de incluir os negros na conversa, ou seja, pessoas que se auto declaram pretas ou pardas, temos a oportunidade de entender que as coisas ficam ainda piores, pois no nosso país, embora representem 54% da população, os negros ainda ganham em média 50% menos que os brancos.
Claro que o conhecimento sobre um problema ou desafio não necessariamente se reflete em ações concretas para sua resolução, mas uma boa conversa é transformadora porque o conhecimento dos fatos é o primeiro passo para a gente perceber que um mundo melhor passa por nós. Que somos poderosos agentes de mudança e que nos tornamos ainda mais fortes quando nos reunimos em rede com outras pessoas que praticam boas conversas. Um bom papo amplia a visão, mostrando que este cenário tão desigual e contraditório que enxergamos também é um cenário cheio de oportunidades de mudança. Conseguimos ver inclusive que todo este caos aparente ainda é melhor do que um cenário de ordem, comprometido por uma cultura machista, sexista, homofóbica e racista, que não nos representa mais.
Por isso, se ainda não começou, comece a promover a sua revolução de inclusão a partir de boas conversas. E comece em casa, com a família, com os amigos, na sua comunidade, no trabalho – se conecte às diferenças também através dos programas que escolher ver no streaming. Conheça outras realidades e se prepare para as boas escolhas que você poderá fazer a partir de agora.
Ronaldo Bias Ferreira Jr é Sócio-diretor da um.a Diversidade Criativa
Formado em Comunicação Social e Marketing, é empresário, empreendedor e fundador do programa de capacitação MDI Mestre Diversidade Inclusiva, em parceria com a Pearson Educacional. É membro permanente do conselho da Ampro - Associação Brasileira de Live Marketing, colunista da AdNews, Promoview e Portal Eventos e atua ampliando a voz de protagonistas, como um forte aliado da diversidade, equidade e inclusão no mundo corporativo.
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