Apesar do imenso prejuízo, Caio faz a II FENIT

“Não há nada que ensine mais do que se reorganizar depois do fracasso e seguir em frente” Charles Bukowski

Queridos leitores, Caio saiu do Banco Nacional do Comércio do banqueiro Wilton Paes de Almeida muito aliviado. Estava feliz com o novo empréstimo, mas precisava de mais dinheiro, e para isso já tinha conversado com Jorge Simonsen do Banco Noroeste, com Rubens Alves de Lima dono do Banco São Paulo e com José Adolfo dono do Banco do Comércio e Indústria e todos eles já tinham se comprometido auxiliá-lo. Seja porque sua fama no mercado era de bom pagador, seja pelo “sucesso” da I FENIT, que provou à todos que Feira no Brasil era um excelente negócio, ou seja pelos juros bastante salgados que cobravam, o fato é que conseguir mais dinheiro para a sua II FENIT não foi tão difícil assim, o mais complicado era saldar essa diívida monstruosa, mas como não tinha outro jeito, o melhor era tocar em frente, pensou Caio agarrado ao seu habitual otimismo.

Caio foi chamado por todos os seus amigos e pelo seu pai de louco. Fazer mais dívidas num momento que o mundo vivia tempos muito esquisitos, seus amigos e familiares acharam que o Caio estava indo na direção de um estrondoso fracasso. No inicio de 1959, Fidel Castro havia tomado o poder em Cuba, com a intenção de transformá-la num país comunista, com total apoio da União Soviética, isso em plena Guerra Fria. O comentário geral era que por causa de Cuba, o mundo passava a sofrer o perigo de uma III Guerra Mundial, que começaria justamente, entre os Estados Unidos e a União Soviética. Na verdade, caros leitores, Caio raramente pensava nessas coisas, tinha tantos problemas para resolver, tantos projetos para colocar de pé que de fato não podia se dar ao luxo de se preocupar se o mundo ia explodir ou não. Precisava cuidar do seu mundo, porque este sim, estava à beira de sofrer uma grande explosão e se espatifar em mil pedaços, se caso ele não corresse para resolver os problemas que estavam aí à sua frente, e ao alcance de suas mãos.

Uma das decisões que Caio tomou para realizar a sua II FENIT foi conversar pessoalmente com o presidente da Rhodia, a fim de convencê-lo a participar dessa II FENIT com um estande maior. De fato, ninguém tinha entendido por que o estande da Rhodia tinha sido tão pequeno, justamente agora que os fios sintéticos estavam despontando no mercado com tanta força, por serem a alternativa mais moderna que a Indústria Têxtil tinha para baratear o custo das roupas. Caio decidiu que daquele momento em diante, precisava abrir um espaço nobre na FENIT para o fio sintético, para que a FENIT não ficasse amarrada só nos fios do algodão.

O presidente da Rhodia já estava esperando por ele no corredor, em frente a porta da sua sala. Caio apressou o passo, sentindo-se muito lisonjeado com a deferência e só quando apertou a mão do Dr. Henri Berthier, percebeu que ele era mais baixo do que a lembrança que tinha dele. Belga de nascimento, Dr. Berthier era um homem muito simpático, falava baixo e com um sotaque francês muito carregado. Dr. Berthier fez um sinal para o Caio entrar na sala e entrou logo atrás dele. A sala era bastante ampla, mas mobiliada com uma simplicidade impressionante, tinha duas grandes janelas que davam para uma paisagem de fazenda, e um vasto gramado tomava toda a frente do edifício.

Terminadas as conversas iniciais de praxe a respeito do tempo, das chuvas, do calor, e do trânsito, Caio introduziu com muita habilidade a sugestão de um estande maior nessa II FENIT. Coincidentemente o próprio Dr. Berthier falou de uma mudança na política da empresa com relação ao tipo de propaganda. O presidente da Rhodia contou que ele havia contratado um rapaz italiano, Lívio Rangan, para o cargo de gerente de propaganda, com a missão de criar um mercado lucrativo para os fios sintéticos, que até aquele momento estavam dando muito prejuízo.

Quando o Caio apertou a mão do Lívio, sentiu imediatamente que a FENIT era o evento certo para a Rhodia, e que ele era o homem certo para fazer sua FENIT decolar. Lívio era elegantíssimo, alto com porte aristocrático, carregava um sorriso aberto, mas tinha algo de misterioso, que Caio não conseguiu decifrar o que era. Lívio sentou-se na cadeira ao seu lado, a pedido do próprio Dr. Berthier, e Caio não perdeu tempo em explicar para o rapaz o que vinha a ser a FENIT, e sobre a importância da participação da Rhodia na Feira, principalmente com um estande maior do que a empresa havia se apresentado no ano passado.

Caio logo percebeu, pela expressão do rapaz, ou melhor dizendo pela fata de expressão, que o rapaz não tinha se dado conta do imenso potencial da FENIT, e como ela poderia ser útil para os seus fios, e imediatamente tirou da manga o seu mais precioso coringa, o impacto que os desfiles dos costureiros internacionais causaram nessa I FENIT, em termos de propaganda. Caio contou também ao Lívio que a FENIT, além de ser uma Feira de Negócio, uma Feira da Indústria Têxtil, ela também tinha sido considerada um “Grande Show”, um “Grande e Inesquecível Espetáculo”. Tanto assim, que nessa II FENIT ele ia repetir a mesma fórmula e trazer novamente os maiores costureiros do mundo, com suas manequins, cabeleireiros, maquiadores, fotógrafos, além dos jornalistas internacionais que costumavam acompanhar essas estrelas mundiais, e aproveitou para dizer “com letras de forma” que também já havia contratado um dos maiores cantores brasileiros para realizar um grande show musical, isso sem falar nas outras atrações que já estavam contratadas.

Caio assistiu sentado a alma do Lívio se render e imediatamente aproveitou para convidá-lo para uma reunião na Alcantara Machado, para mostrar-lhe as fotografias e todo o material que tinha saído na imprensa sobre a Feira. Dr. Berthier deu carta branca ao Lívio para ele decidir o tamanho do estande, além de um orçamento ilimitado para ele fazer o que quisesse. Caio agradeceu muitíssimo ao Dr. Berthier por tê-lo recebido, despediu-se dos dois, virou para o Lívio e disse: “Espero você então, nesta sexta-feira”.

Stand da II FENIT
Querido leitores, Caio estava ansioso para que a sexta-feira chegasse logo, porque como ele era uma pessoa que enxergava o que os outros não viam, Caio tinha certeza que essa parceria da FENIT com a Rhodia seria uma coisa sensacional para os dois lados. Finalmente o rapaz chegou na hora marcada e Caio que tinha urgência, foi logo perguntando: “Lívio me conte o que é que você tem na cabeça, qual o seu plano para a FENIT?” “Começando pelos desfiles”, falou Lívio, “eu quero Dr. Caio que eles sejam memoráveis, longe daquele tipo em que as manequins se pareçam com cabides de roupa e que no final da passarela deem aquela melancólica voltinha. Eu preciso de manequins que sejam estonteantemente bonitas, cultas, que tenham postura profissional e principalmente muita personalidade”. Caio arregalou os olhos como se tivesse visto uma assombração e confessou ao rapaz que o que ele estava querendo era mais difícil do que ir para Marte. Mas que ele ia dar um jeito.

Lívio tinha de fato um projeto para a moda brasileira, moda esta que ainda não existia no Brasil, e mais do que isso, seu grande projeto era ajudar a impulsionar o crescimento da Industria Têxtil junto com a Moda Brasileira, projeto idêntico ao que o Caio tinha para a sua FENIT, só que a única diferença era que o Lívio pensava criar uma Moda Brasileira, na qual ele pudesse utilizar a arte e a cultura produzidas no País. “Dr. Caio, falou Lívio novamente com os seus olhos brilhando como fogos de artificio, minha ideia é que a associação da arte com a moda, amplie o valor cultural e nacional das peças que as manequins usarão no desfile”. Ideia que o Caio não só concordou, como achou brilhante e o apoiou plenamente.

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