Queridos leitores, dando continuidade ao último Blog, vou contar agora para vocês o que o presidente da Rhodia disse ao Caio ser a estratégia genial que o Lívio adotou para vender os fios sintéticos. “Dr Caio” disse o Dr. Berthier “Lívio nos propôs que trocássemos esse tipo de incentivo por “Anúncios”. Seu plano era o seguinte: a Rhodia bancaria o anúncio de roupas confeccionadas com os tecidos feitos com os nossos fios, e a coisa funcionaria assim: a Rhodia anunciaria o seu fio sintético e ao lado, no mesmo espaço anunciaria o nome da fiação que teceu o fio, anunciaria também o nome da tecelagem que transformou o fio em tecido, e por fim anunciaria a confecção que transformou o tecido em roupa. Ele nos convenceu e passamos a fazer esse tipo de anúncio. Dr Caio, essa estratégia vem dando tão certo que tem sido como se estivéssemos assistindo a um milagre, “Moises abrindo as águas do Mar Vermelho”, tanto assim, que temos tido notícias de consumidoras que chegam a uma loja pedindo um maiô “Rhodianyl”, que não existe, é claro. O que existe é a coleção de maiôs da confecção X, produzido com o tecido da tecelagem Y, fabricado pela fiação Z, produzido com o nosso fio sintético Rhodianyl”.
Entusiasmado, Dr Berthier, contou ao Caio que Lívio tinha criado esse tipo de promoção que virou de ponta cabeça a maneira de se vender os fios sintéticos. Caio estava encantado com todo aquele relato e louco para saber mais detalhes sobre aquele gênio da propaganda. Dr. Berthier soltou uma baforada e propositadamente fez uma pequenina pausa para revelar os detalhes dessa imensa reviravolta dizendo: “Pois é Dr. Caio, além do Lívio ter criado uma nova forma de vender os nossos fios, ele também passou por cima de toda a cadeia produtiva e foi atingir diretamente e em primeiro lugar a consumidora final, mostrando à ela os nossos fios através da moda”. “Como assim?”, perguntou Caio, já um pouco confuso com tanta novidade em matéria de propaganda. “Pois é, Dr. Caio, é isso mesmo que o senhor ouviu, a genialidade desse italiano não tem fim. Esse rapaz hoje em dia faz o editorial de moda da revista O Cruzeiro, no qual as manequins exibem roupas com os tecidos fabricados com os fios sintéticos da Rhodia. Os resultados têm sido escandalosamente positivos, porque as consumidoras têm obrigado as lojas de tecidos venderem os tecidos que elas vêm na revista. E mais ainda, Dr. Caio, o mais espetacular é que ao invés do Lívio anunciar os nossos fios nas revistas especializadas das Indústrias Têxteis, ele anuncia os nossos fios nas Revistas Femininas, na sessão de Moda, não é sensacional?”. E Caio completou, “o que faz com que as mulheres aumentem a pressão para que o comércio tenha esses tecidos para vender, e que as tecelagens teçam os tecidos com os fios sintéticos, isso é de fato, simplesmente sensacional”.
Quando o Caio apertou a mão do Lívio, sentiu imediatamente que a FENIT era o evento certo para a Rhodia, e que ele era o homem certo para fazer sua FENIT decolar. Lívio era elegantíssimo, alto com porte aristocrático, carregava um sorriso aberto, mas tinha algo de misterioso, que Caio não conseguiu decifrar o que era. Lívio sentou-se na cadeira ao seu lado, a pedido do próprio Dr. Berthier, e Caio não perdeu tempo para explicar ao rapaz o que vinha a ser a FENIT, e sobre a importância da participação da Rhodia na Feira, principalmente com um estande maior do que a empresa havia se apresentado no ano passado.
Caio contou ao Lívio sobre o imenso potencial de propaganda que a FENIT tinha e como ela poderia ser útil para os fios sintéticos e imediatamente tirou da manga o seu mais precioso coringa, ou seja, o impacto que os desfiles dos costureiros internacionais causaram na I FENIT. Caio também explicou que a FENIT, além de ser uma Feira de Negócio, uma Feira da Indústria Têxtil, ela também poderia ser considerada um “Grande Show”, um “Grande e Inesquecível Espetáculo”. Tanto assim, que nessa II FENIT ele ia repetir a mesma fórmula e trazer novamente os maiores costureiros do mundo, com suas manequins, cabeleireiros, maquiadores, fotógrafos, além dos jornalistas internacionais que costumavam acompanhar essas estrelas mundiais, e aproveitou para dizer “com letras de forma” que também já havia contratado um dos maiores cantores brasileiros para realizar um grande show musical, isso sem falar nas outras atrações que já estavam contratadas.
À medida que o Caio ia falando, Lívio foi se esticando na cadeira, ficando cada vez mais comprido, como se até os seus ossos também precisassem escutar o que os seus ouvidos estavam ouvindo, enquanto os seus olhos brilhavam como fogos de artifício. Caio percebendo a transformação do rapaz, aproveitou o momento e foi colocando penduricalhos na história, como uma criança coloca enfeites na arvore de natal, para deixar sua FENIT o máximo possível atraente. Caio não esqueceu de nenhum detalhe quando falou dos desfiles dos costureiros internacionais, e do show que eles deram nas passarelas, falou sobre as milhares de notiícias que saíram sobre a Feira em todos os jornais, revistas, canais de televisão e rádios de todo o Brasil. Caio tinha certeza que estava aí, no poder ilimitado de propaganda que a FENIT tinha, que residia o grande interesse do Lívio pela Feira. Além é claro, da FENIT ser o único palco no Brasil que podia comportar um show de moda para os fios sintéticos da Rhodia.
Caio assistiu sentado a alma do Lívio se render e imediatamente aproveitou para convidá-lo para uma reunião na Alcantara Machado, para mostrar-lhe as fotografias e todo o material que tinha saído na imprensa sobre a Feira. Dr. Berthier deu carta branca ao Lívio para ele decidir o tamanho do estande, além de um orçamento ilimitado para ele fazer o que quisesse. Caio agradeceu muitíssimo o Dr. Berthier por tê-lo recebido, despediu-se dos dois, virou para o Lívio e disse: “Espero você então, nesta sexta-feira, até lá”.
Lívio e Caio passaram a manhã toda conversando, Caio contou sobre o seu passado nas Lojas Assumpção, dos shows que ele criou na frente das Lojas com os cantores mais famosos do Brasil da época, de como ele criou a “tarde de autógrafos”, de como ele teve a ideia de criar o seu programa no rádio chamado “Parada de Sucessos”, de quando ele criou a Almap, a Alcantara Machado Propaganda, e como todos o chamaram de louco, e de como ele criou sozinho a campanha para o Organdi da Paramount. À medida que Caio ia contando a sua história, Lívio ia se identificando profundamente com aquele homem rico, bem nascido, que lhe contaram que ele era e explicaram o que significava ser “quatrocentão”, bem brasileiro, respeitado por todos, empreendedor, corajoso, destemido, e Lívio, apesar de trazer consigo outro enredo, aliás completamente diferente, não sabia como explicar como que cada pedacinho da sua alma ia se encaixando e se parecendo com a desse homem, que mal conhecia.
Os cinzeiros já estavam transbordando de tocos de cigarros, mas como o Caio tinha pedido que ninguém os interrompesse, nem mesmo o garçom foi permitido que entrasse para esvaziá-los, e com os telefones mudos a conversa foi fluindo maravilhosamente e depois de trocarem mil ideias, quando Caio pediu ao Lívio que contasse sua história, o rapaz falou que não tinha nada para contar, porque sua vida tinha começado no dia em que ele desembarcou do navio Giulio Cesare em 1948, no porto de Santos, como imigrante vindo de Trieste. Caio então, compreendeu que o ar misterioso não vinha só do seu olhar, com certeza esse jovem rapaz era a pessoa mais reservada que ele tinha conhecido em toda a sua vida.
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