O peso de ser um Alcantara Machado

"É muito difícil ser um arbusto em meio a carvalhos seculares, que sem querer, tampam o sol que ele precisa para crescer”

Olá meus queridos leitores, hoje revelo a vocês uma das maiores dores do Caio quando era criança. Caio de cima dos seus 10 anos de idade, tinha certeza que ter nascido um Alcantara Machado, tinha sido a maior desgraça da sua vida. Vocês podem imaginar o que é carregar um sobrenome quatrocentão e não se sentir digno desse nome? Essa dor, Caio carregou até se tornar adulto. Para o seu pai, Dr. Brasílio, ser um Alcantara Machado significava ter a obrigação de fazer algo grandioso para o Brasil. Algo que esse garoto tinha certeza que não conseguiria fazer.

Para aumentar o sofrimento do Caio, seu pai dizia que temia que ele não desse nada na vida por causa do seu medíocre desempenho escolar, e ainda o acusava de não ter força de vontade. Suas notas baixas eram o atestado de que o seu pai precisava para educá-lo com mãos de ferro e quando necessário uma boa surra era importante para formar o caráter desse filho com cabeça de planeta.

Um dia quando o Caio entrou na biblioteca, um verdadeiro templo para o seu pai, deu de cara com o quadro da famosa Árvore Genealógica. Seu pai se referindo a ela adorava repetir: “ meu filho, esses nomes que estão gravados nesse quadro, são para lembrar que tipo de sangue você carrega nas suas veias, quem foram os seus antepassados, o que eles fizeram pelo Brasil e o mais importante, ela está aí para mostrar que você tem a obrigação de fazer igual ou melhor do que eles fizeram, ou seja, lutar e trabalhar para fazer desse país, um país melhor, mais justo, e transformá-lo numa grande nação”. A “Árvore” se sobressaia sobre um fundo branco acinzentado, quase prateado e bem embaixo, junto a raiz lia-se “Antônio Oliveira, fundador da Família Alcantara Machado, Cavaleiro Fidalgo da Casa Real de Portugal”.

Caio olhou para a “Árvore” novamente, e sem saber porque dessa vez sentiu um arrepio gelado percorrer lhe a espinha e com o olhar turvo pelas lágrimas leu novamente: “Antônio Oliveira: Fidalgo por herança familiar”, título que o igualava à família real, Antônio foi um dos nobres mais conceituados do reino, e em 1530, foi convidado pessoalmente por D. João, para junto com Martim Afonso de Souza colonizar o Brasil, na condição de Feitor da Fazenda Real.

Caio debruçou-se sobre os joelhos e chorou. Naquele momento ele sentiu uma profunda solidão. Quando já não tinha mais lágrimas, ponderou com mais calma que só a vontade que estava sentindo de morrer não o iria fazer morrer, resolveu então, que talvez a saída fosse descobrir como que os seus antepassados fizeram para realizar grandes coisas. Qual era o segredo? Como eles sabiam o que queriam da vida? O que será que eles tinham, que ele não tinha? Seria a tal “Força de Vontade”, que seu pai dizia que ele não tinha?

Caio encontrou numa das prateleiras o livro que seu pai insistia que ele tinha a obrigação de ler inteirinho. Era um livro sobre a história da família Alcantara Machado. O livro era lindo, repleto de gravuras e tinha um titulo pomposo: “A História da Família Alcantara Machado e os Feitos Honrosos dos Seus Membros desde 1530”. Caio carregou o livro para o seu quarto, já se preparando para passar a noite em claro.

Começou a ler linha por linha procurando descobrir o que fez essa gente toda conseguir tanto sucesso e ter um papel importante para a construção desse país. Depois começou a pular as páginas querendo chegar mais perto daqueles que ele via nos retratos no escritório do seu pai. Chegou na página que queria. E dali para frente foi um horror. Caio constatou que seu pai tinha razão, todos sem exceção trabalharam muito para o desenvolvimento do Brasil e brilharam mais ainda.

Seu tataravô Brigadeiro José Joaquim Machado de Oliveira, foi durante muitos anos, o principal conselheiro de D. Pedro II, recebeu várias condecorações e ocupou cargos importantíssimo durante o Império. “Uaú,” suspirou Caio.

Enchendo-se de coragem virou a página e leu sobre o seu bisavô. Barão Brasílio Augusto Machado de Oliveira que ganhou o concurso com apenas 19 anos para professor da Faculdade de Direito São Francisco, foi ele que inaugurou o ensino do Direito Mercantil. Foi também o maior catedrático de Medicina Legal do seu tempo. Este então, pensou Caio “é quase impossível acreditar que foi capaz de fazer tanta coisa, e ainda por cima recebeu até título de Barão”.

Caio decidiu que não iria ler mais nada a respeito do seu bisavô quando com olhos arregalados, o garoto leu que seu bisavô foi Presidente do Conselho de Ensino Superior da República, introduziu na carreira acadêmica a Livre Docência. Criou o exame vestibular obrigatório para o ingresso na faculdade. Foi professor dos estudantes: Afonso Pena, Rui Barbosa, Castro Alves e Joaquim Nabuco. Lutou sempre pelas suas duas grandes paixões: a libertação dos escravos e a disseminação do ensino público gratuito para todo o território nacional.

Caio fechou o livro mesmo sabendo que ainda tinham muitos mais registros a respeito dos grandes atos do seu bisavô, do seu avô, do seu pai e do seu famosíssimo tio Antônio. Mas fechou o livro com tristeza e se perguntando, porque não se ensina tudo isso nas escolas? Chegou à conclusão que estudar toda essa gente faria o brasileiro ter mais orgulho do seu próprio país. Apagou a luz para dormir e decidiu que iria fazer diferente do que seu pai mandava. Iria tirar o sobrenome Alcantara Machado.

Sala do Caio Painel de fundo de sua mesa que o "vigiava" constantemente em seu escritório.


Se você gostou da gotinha de história que você acabou de ler e, para matar a sua curiosidade e sua sede de conhecimento, sinta-se à vontade para comprar o livro inteirinho.

Ele só está à venda no site:bit.ly/2Wxh07O