Os anos passam, o mundo gira, mas há ranços que insistem em ficar. Mesmo ultrapassadas pelo desfiar incessante de novas tendências, ou desmentidas pelos fatos, há “verdades” que, a despeito de não passarem de versões, fincaram raízes nessa espécie de inconsciente coletivo a que chamamos “trade”. É preciso, porém, saber distinguir fatos de mitos, e estes das simples versões.
Quem participou como expositor da Feira das Américas encerrada no domingo dia 08/09 sabe do que estou falando. De cada dez pessoas que me abordaram no estande, sete queriam vender-me alguma coisa, e não comprar o meu produto. Essa nova (?) tendência é tão evidente que até as relações dos destinos com as operadoras mudaram radicalmente. Na reunião que mantive com uma das grandes operadoras brasileiras, cuja pauta deveria ser analisar de que maneira eles poderiam melhorar as vendas para Foz do Iguaçu, percebi que, na verdade, a operadora estava mais interessada em vender-me espaço publicitário em suas variadas mídias: vitrines das lojas, site, redes sociais, revista interna, newsletter e por aí vai, do que em vender meu produto! As grandes operadoras, cientes da força que têm como canal de distribuição, passaram a comportar-se como veículos de mídia e não mais como vendedoras do destino. É claro que ao anunciarmos nas mídias propostas acabamos por alavancar as vendas, mas que soa um pouco esquisito para quem está há mais de três décadas nesse mercado, lá isso soa! O modelo de negócio mudou, e precisamos acompanhar e entender essa mudança. O “oba-oba” faz parte do nosso dia a dia e é melhor que saibamos explorá-lo a nosso favor. Este é um dos mitos que precisamos derrubar. É preciso acabar com os eufemismos e chamar as coisas pelo nome. Eu faço questão de ir para os grandes eventos praticar o bom, velho e eficiente “oba-oba”! Não tenho do que me queixar, é mais produtivo do que desperdiçar folhetos com clientes que nem se interessam pelo meu produto!
Este ano participei da Feira das Américas no estande de Foz do Iguaçu. Como executivo do CVB local tinha alguns contatos a fazer. Ao longo de quatro dias mantive conversas com duas dezenas de fornecedores e posso dizer: foi muito proveitoso. Consegui, em quatro dias, falar com pessoas que demoraria meses a encontrar pelas vias normais do agendamento de reuniões. Perambular de estande em estande atrás de falar com quem te interessa ainda é o melhor resultado que se pode esperar de um evento como esse. Precisamos repensar a produção e distribuição dos caros materiais que, invariavelmente, acabam no lixo dos arredores dos pavilhões. Se é para jogar dinheiro fora, então há formas mais práticas e inteligentes. É urgente que nosso mercado adira aos materiais digitais e acabe com as toneladas de papel que custam fortunas. Os agentes de viagens realmente interessados nos nossos produtos não fazem mais nem menos negócios por influência de nosso material gráfico. Os estrangeiros, então, não entendem porque ainda investimos pequenas fortunas nesse tipo de divulgação. Um destino precisa ter um site completo e interativo, e mídias digitais fáceis de distribuir. Precisa saber usar as redes sociais e ser capaz de prover informação de qualidade na velocidade da era digital. Simples assim (ou nem tanto!). No mais, nada é mais efetivo para gerar negócios do que o bom e velho corpo a corpo, o bate papo com fornecedores, concorrentes e amigos, ou seja, o tal “oba-oba” que muitos criticam! Foi o que fiz este ano, e com excelentes resultados. Tenho certeza que Foz do Iguaçu vai continuar a ser um destino preferencial para a maioria dos (bons) operadores, e minha peregrinação pelos estandes da Feira das Américas, por certo, vai ajudar a alavancar o fluxo, a sedimentar relações de confiança, a esclarecer dúvidas, desobstruir gargalos e construir canais de diálogo que, inevitavelmente, levarão à realização de mais e melhores negócios. E já que o tema foi o “oba-oba”, que tal brindarmos a isso?
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