Um olhar brasileiro sobre a Palestina
Antes de falar, criticar ou mesmo elogiar, vamos conhecer primeiro. Este é meu lema. E, neste Blog, procuro falar, realmente, sobre cidades e culturas que conheço, sejam elas boas ou más experiências. Meu assunto hoje é a Palestina, que neste momento está no “olho do furacão” com notícias tristes e mortes de inocentes por todos os lados. Nada justifica esta matança – palestinos e israelenses têm o direito de viver suas vidas em Paz. Enfim, é apenas um desabafo de alguém que ama o Oriente Médio, ama a cultura de todos os povos e é feliz, todo ano, visitando estes países.
Ramallah foi a cidade escolhida. Capital da Cisjordânia, impressiona pela organização, pela limpeza e por um povo bonito e atencioso. Cafés, restaurantes modernos e segurança em andar pelas ruas a qualquer hora. Até o trânsito que em muitos países do oriente médio é bem maluco, aqui é diferente. E, este meu roteiro também foi diferente e teve um propósito – queria fazer fotos diferentes para um projeto futuro (uma exposição) e, pensei em algo que também trouxesse alegria às crianças de lá.
Outra coisa importante é ser brasileiro. Como os povos, sejam eles de onde for, amam o Brasil. Claro que o futebol é o item mais lembrado seguido de Pelé, Ronaldo, Ronaldinho, Romário e até Dunga. E, foi com isto em mente que resolvi levar camisetas da seleção brasileira para encher os olhos da criançada. Mesmo sem um patrocínio, mandei fazer camisetas com Brasil com S e PAZ grafados em português. Pode parecer bobagem, mas quando se viaja para estas regiões, onde se briga por conflitos religiosos, políticos e se nota um povo carente de sentimentos, receber um sorriso, abraço, quando se apresenta como brasileiro é um verdadeiro presente, uma felicidade sem fim e faz imensa diferença nestas viagens solitárias.
A princípio, a ideia era homenagear as crianças palestinas que sofrem diariamente com os conflitos na região contra Israel. Mas a logística tinha impacto, afinal eu entraria em Israel antes de chegar na Palestina e, chegaria em solo israelense por terra, vindo do Egito. Minha preocupação era que na fronteira de Israel achassem que eu era um sacoleiro e levava camisetas para comercializar.Então resolvi dividir este pequeno volume de camisetas com Etiópia e Egito, por onde passei antes.
Amigos abrindo os caminhos
Enfim, a chegada a Israel foi tranquila e, agora, acredito que não teria tido problema com as camisetas. Através de uma amiga, consegui contatos de brasileiros que vivem na Palestina e quando souberam da minha ideia se emocionaram e me ajudaram muito. Uma dessas pessoas é o palestino Akram, que foi meu anjo da guarda em todos os momentos. A primeira visita foi a uma escola dentro de um campo de refugiados palestinos e, depois a outra escola onde brasileiros dão aula de português para crianças palestinas, filhos de brasileiros.Tudo isso só foi possível graças a esta rede de amigos e de pessoas que queriam me mostrar a realidade palestina. E, uma constatação se faz necessária - mesmo que a grande imprensa seja, quase sempre, sensacionalista, em muitos lugares, a realidade dos conflitos entre palestinos e israelenses é bem real e cruel.
Saímos logo cedo para o campo de refugiados palestinos a poucos quilômetros da cidade, Este campo tem mais de 15 anos e, ali encontramos famílias palestinas que foram expulsas de suas terras e casas em Israel, mas decidiram continuar ali. É até meio estranho, um campo de refugiados palestinos na própria Palestina, com pessoas que estão dentro da sua própria terra.
Usando o jeitinho brasileiro, falando da exposição das fotos e do objetivo que é o de mostrar um pouco da Palestina para os brasileiros, o diretor acabou autorizando nossa ação e, as crianças adoraram fazer um jogo de futebol. No final, o premiado fui eu que ganhei um presente especial dessas crianças.
Depois das fotos, fui conhecer melhor o próprio campo de refugiados. Lembra muito um bairro de periferia no Brasil. Percorri ruas estreitas, conheci a administração e vi outras crianças pelas ruas que sorriem e fazem posepara serem fotografados. São crianças lindas e alegres que vivem, literalmente, em uma prisão a céu aberto.As histórias, são muito tristes: se a bola de futebol cai fora da escola, somente o exército israelense pode autorizar a recuperação; se as crianças jogarem suas mochilas para fora da escola serão recebidas com balas.E isso não é exagero. Isso é realidade. Não é justo comparar pedras com tiros de metralhadora de última geração.
Brasileiros da Palestina (outra realidade das crianças acima)
À tarde, fui auma escola que uma condição financeira melhor. Nesta, brasileiros se reúnem para dar aulas de português para crianças palestinas, filhas de brasileiros.Todos se reuniram a pedido do meu amigo Akram (meu anjo palestino na região) e fui convidado a falar sobre o projeto das camisetas, respondi às perguntas, incentivei para continuarem estudando português e os convidei a virem conhecer o Brasil, que um País deles também.
Fui recebido por professoras, mães, alunos e pelo diretor da Escola que me receberam com grande carinho e, me contaram sobre o projeto que desenvolvem por lá – Os Brasileiros da Palestina. Fizemos algumas fotos em um campo de grama verde com bandeiras do Brasil e Palestina.Infelizmente, já não tinha mais camisetas da seleção brasileira, mas nem por isso deixou de ser uma experiência muito especial e emocionante.
Sai da Palestina com uma certeza - quero voltar e conviver um pouco mais com este povo. Mas sai também com uma preocupação maior com aquele povo do bem, que quer apenas viver em paz na sua terra e não ter suas plantações de oliveiras destruídas por bombas e poder trabalhar e viver com segurança com suas famílias.
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