Quando Atuar Não é Suficiente: A Importância da Análise de Risco em Eventos

A violência no clássico de futsal entre Ceará e Fortaleza não foi apenas resultado da falta de policiamento. Foi a consequência de uma falha anterior: a ausência de análise de risco. Rivalidade histórica, cenários de conflito e protocolos especiais não foram considerados. Segurança não se garante com força bruta, mas com planejamento estratégico e gestão competente.

Quando atuar não é suficiente: a importância da análise de risco em eventos. O episódio de violência no clássico de futsal entre Ceará e Fortaleza, que terminou no cancelamento da partida, mostra de forma clara que força tática sem planejamento estratégico é caminho certo para o fracasso.

O que realmente aconteceu não foi apenas falta de policiamento. O que faltou foi uma análise de risco antecipada que levasse em conta fatores óbvios e previsíveis: a rivalidade histórica entre as torcidas, os cenários prováveis de conflito e a necessidade de protocolos especiais para um clássico.

Profissionais com experiência acumulada em grandes eventos sabem que metodologias específicas fazem a diferença nesses casos. A metodologia que desenvolvi está alicerçada em três eixos: Comando – é o eixo central e inegociável. Representa a presença do Gestor de Segurança, responsável por criar o Projeto e o Plano de Segurança, integrando e liderando todos os agentes envolvidos. Sem esse comando, a operação perde coesão e se fragiliza diante do improviso. Sinergias – a essência da interoperabilidade. Segurança Pública, segurança privada, organizadores, brigadistas, socorristas, equipe médica e fornecedores: cada um, isolado, tem alcance limitado. Mas quando se conectam de forma estruturada, surgem fluxos coordenados, capazes de prevenir crises, reduzir vulnerabilidades e responder com máxima eficiência. A cooperação real transforma múltiplos atores em um sistema único de segurança. Doutrinas – não basta reunir forças; é preciso que todas falem a mesma língua. As doutrinas se materializam em teorias aplicáveis e protocolos operacionais claros, ajustados ao porte e ao tipo de evento. Devem ser testadas em simulações de interoperabilidade e calibradas conforme diferentes cenários de risco. É essa padronização que cria a gramática comum da operação, garantindo consistência e eficiência em situações críticas.

Antes de pensar em aumentar o número de policiais, é preciso respeitar a hierarquia dos controles de risco. Começa-se com a eliminação, questionando se o evento deve ocorrer diante da ausência de condições mínimas. Em seguida, a engenharia, com barreiras físicas, separação adequada e controle de acesso. Depois, as medidas administrativas, que envolvem protocolos, treinamento e comunicação. Só então, como último recurso, entram em cena a proteção individual e o uso da força tática.

O gestor de segurança é quem conduz essa lógica. Não é apenas aquele que aciona a polícia. É quem antecipa os cenários de risco, integra múltiplas equipes, faz ajustes em tempo real e mantém o foco na preservação da vida e na continuidade do evento.

A gestão de riscos em eventos, independentemente da complexidade ou da magnitude, deve ser entendida como compromisso de todos com a vida e a integridade das pessoas e do público. Mais do que uma exigência operacional, é a base que sustenta o mercado e a indústria do entretenimento e turismo. 

Essa mesma lógica vale para outros setores. No ambiente corporativo, a análise prévia dos riscos reputacionais e operacionais é um fator determinante. Em projetos de larga escala, metodologias como a CSD antecipam falhas. Nos negócios do entretenimento,frameworks como a ISO 31000 permitem estruturar uma gestão integrada de riscos.

Multidões são, por natureza, imprevisíveis. Emoções coletivas se espalham com rapidez e intensidade. Por isso, não há espaço para improviso quando falamos em segurança. O sucesso ou o fracasso de uma operação está diretamente ligado à qualidade da análise de risco antecipada e à competência de quem coordena todo o processo.