Companhias de cruzeiros suspendem operações no Brasil até 21 de janeiro, após surtos de Covid a bordo

Um dia antes, Anvisa recomendou paralisação imediata, após dezenas de casos em navios. Governo concordou com decisão e diz que fará novas reuniões para avaliar possibilidade de retorno.

A Associação Brasileira de Navios de Cruzeiros (Clia) divulgou na tarde desta segunda-feira (3) que as companhias suspenderão suas operações no Brasil até o próximo dia 21.

A decisão acontece um dia depois de a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) reforçar a "urgência" de uma interrupção imediata da temporada de cruzeiros, após surtos de Covid em navios.

Horas depois de as empresas anunciarem a paralisação, o governo federal anunciou que concordou com a medida e que fará novas reuniões para avaliar a possibilidade da retomada das atividades.

Para quem estava com viagem marcada para o período de suspensão, a Clia indica procurar as empresas responsáveis pelos cruzeiros e verificar a política de cada uma para essa situação.

A Anvisa suspendeu embarques em dois navios, no último domingo (MSC Splendida) e nesta segunda (Costa Diadema), em Santos (SP), após dezenas de passageiros testarem positivo para Covid os últimos dias.

No Splendida, houve 78 infectados em uma viagem de réveillon e a embarcação atracou às pressas no Porto de Santos, no último dia 30. Os passageiros tiveram de ficar isolados em suas cabines.

Uma nova viagem seria iniciada no último domingo, mas a Anvisa cancelou o embarque de cerca de 2 mil turistas que esperaram por horas para entrar no navio. E o Splendida entrou em quarentena.

No Costa Diadema, foram diagnosticados 68 casos e o navio ficou atracado em Salvador, com 4 mil pessoas em quarentena desde o último dia 30. Ele atracou em Santos nesta segunda, para desembarque dos passageiros, e teve as próximas duas viagens canceladas pela Anvisa.

Outro navio da MSC, o Preziosa, teve 28 infectados, que desembarcaram no Rio, e foi liberado para seguir viagem no último domingo (3), após 8 horas de atraso do embarque.

O que diz o governo

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse que uma decisão "a nível de governo" sobre a recomendação da Anvisa de encerrar a temporada de cruzeiros estava sendo tratada sob a coordenação do gabinete civil da Presidência da República, pelos ministérios da Saúde, da Infraestrutura e da Justiça.

Na noite desta segunda, foi divulgado um comunicado das três pastas, mais o Ministério do Turismo e a Casa Civil, confirmando a suspensão temporária, após reunião com empresas do setor.

Segundo o governo, houve também uma reunião com secretários de Saúde de estados e municípios "para discutir o atual plano de operacionalização da atividade de cruzeiros diante do aumento de casos da variante ômicron".

E que novos encontros serão realizados com municípios, estados e empresas "para, juntos, reavaliarem a possibilidade do retorno das atividades".

Mais cedo, logo após as companhias anunciarem a paralisação temporária, Queiroga disse que já era esperado que casos de Covid pudessem ocorrer nos cruzeiros.

"Nós tínhamos uma portaria que oferecia segurança para realização dos cruzeiros e previa situações como essa, de ter casos de Covid. Ali já tinha toda a normativa", afirmou o ministro, na tarde desta segunda (veja no vídeo abaixo).

"Se as companhias de cruzeiro estão fazendo isso (a suspensão das atividades), naturalmente que estão observando o que está escrito na portaria e a segurança de quem contrata esses passeios", completou Queiroga.

A retomada das operações dos navios de cruzeiro para a temporada de 2021/2022 foi prevista pela Portaria Interministerial CC-PR/MJSP/MS/MINFRA nº 658, de 5 de outubro de 2021, em cenário epidemiológico anterior à notificação mundial sobre a identificação da nova variante de preocupação, Ômicron, que foi relatada pela primeira vez à Organização Mundial da Saúde (OMS) no dia 24 de novembro.

O que dizem as empresas

A associação das empresas de cruzeiros diz que os casos identificados consistem em "uma pequena minoria da população total a bordo", mas que "busca alinhamento com as autoridades do governo federal, Anvisa, estados e municípios para resolver as diferenças de interpretação e aplicação das medidas previamente aprovadas com este novo cenário".

Os cruzeiros que estão atualmente em navegação vão finalizar seus roteiros conforme previsto, diz a Clia.

"A atual temporada, após o término da suspensão, poderá ser cancelada na íntegra se não houver adequação e alinhamento entre todas as partes envolvidas para possibilitar a continuidade da operação", conclui a nota.

A Costa Cruzeiros, operadora do navio Costa Diadema, afirma que "tem cumprido as medidas de saúde e segurança exigidas pelas autoridades brasileiras e que prontamente reforçou as medidas preventivas a bordo desde a confirmação de casos positivos".

A Costa vem adotando rígidos procedimentos de saúde para embarque de passageiros no Brasil e no exterior por meio do Protocolo de Segurança Costa, respeitando as determinações das autoridades locais. "O Protocolo de Segurança Costa, que reúne uma série de medidas relativas a todos os aspectos do cruzeiro, vai além dos protocolos de saúde em vigor e determina que todos os hóspedes e tripulantes estejam totalmente vacinados e apresentem exames negativos no momento do embarque", completou.

"Durante os cruzeiros, a Costa realiza a testagem diária de 10% dos hóspedes, além de manter 100% da tripulação regularmente testada. As medidas estabelecidas pelo Protocolo de Segurança Costa colocam os navios entre os locais de férias mais controlados e monitorados, e têm se mostrado eficazes em mais de 18 meses de operações seguras em todo o mundo”.

Estela Farina, diretora geral da NCL Cruzeiros, informou em nota que, em princípio, a empresa não concordava com a recomendação da Anvisa de encerramento a temporada no Brasil.

"O principal motivo é pela experiência que temos tido em nossos navios, onde os rígidos protocolos têm se mostrado eficientes", afirmou.

Segundo Estela, "o percentual de positivos é bem pequeno em relação ao volume de passageiros e tripulantes, somados, e, como são todos vacinados, a maioria está assintomático ou com sintomas leves".

Mas a diretora disse que acreditava que as companhias, juntamente com a Clia, saberiam "encontrar a solução para este momento".

MSC e Promoação também foram procuradas, mas não deram retorno até a última atualização da reportagem.

Fonte: G1