A ESPERANÇA É IRMÃ DA DECEPÇÃO!
O fato é que, em que pese a crise que tem devorado o poder de compra dos europeus, não é possível abandonar aqueles mercados sem correr o risco de transformar o trabalho de anos em terra arrasada. As crises na Europa, ao contrário da brasileira, costumam ser passageiras, ou seja, crises, e não o reflexo permanente da falta de alicerces sustentáveis, como parece ser o nosso caso. Mesmo em países teoricamente empobrecidos, como Portugal ou Espanha, onde a massa de desempregados é perturbadoramente alta em relação ao Brasil, há que ter cuidado e olhar a situação pela perspectiva adequada. Em poucos anos esses países vão recuperar-se e é bom que estejamos preparados e atentos para dar continuidade ao trabalho de captação de turistas e eventos que vinha sendo feito até 2010. Costumo dizer que a crise nesses países é crise de rico, pois eles lutam nas ruas para não perder direitos que nós sequer sonhamos em conquistar por aqui! A Espanha, por exemplo, já apresentou leve crescimento no último trimestre. Não que isso signifique que a crise passou, mas é um sinal de que nem tudo está perdido e a roda da economia voltou a girar. Em economias mais maduras como as europeias isso pode significar a volta ao jogo muito antes do que pensávamos. Neste exato momento preparo-me para receber em Foz do Iguaçu um grupo de empresários espanhóis em busca de possibilidades de investimento. Deixar de apostar nos mercados europeus por conta da crise é uma temeridade, pois ainda recebemos milhares de turistas de lá e não devemos anular o trabalho de anos que foi feito para mostrar que o Brasil tem um portfólio de produtos muito além do carnaval e do futebol. Embora os asiáticos e russos estejam em alta, e o número deles que têm o Brasil como destino venha aumentando, seria um erro grave deixar de demarcar território em terras europeias. É para esse trabalho de recuperação que precisamos dos EBTs funcionando em sintonia com o setor privado e alinhados com estratégias de mercado vencedoras. Deixar essa tarefa a cargo de burocratas ou acadêmicos é um luxo que não podemos bancar. Vamos dar um voto de confiança ao projeto da EMBRATUR, esperando que, desta vez, tudo se acerte. Minha intenção com este texto é apenas a de provocar uma reflexão sobre qual seria o modelo mais adequado para que aproveitemos as oportunidades da ocorrência dos grandes eventos esportivos no país. A janela de oportunidade está em vias de fechar-se, e não vejo no horizonte um movimento capaz de amenizar a aridez da paisagem que nos cerca. Nossas esperanças no mercado internacional estão muito ligadas à excelência do trabalho que será realizado pelos EBTs, mas esperanças, como se sabe, são artigo de pouca utilidade num mercado competitivo e feroz. A grande questão é saber se o deslumbramento típico dos príncipes brasilienses será capaz de evitar a armadilha de fazer mais do mesmo. Enfim, é esperar para ver, mas é bom que os destinos que dependem do turista internacional, ou que tenham pretensões de disputá-lo, arregacem as mangas, busquem fontes sustentáveis para financiar suas ações de promoção, e não confiem nos ares que sopram do planalto central, pois eles podem estar, se não irremediavelmente poluídos, pelo menos algo viciados. E como se sabe ar viciado não faz nada bem aos pulmões, se é que me entendem! Se a esperança é a última que morre, é conveniente lembrar que ela não é nada sem a companhia de sua irmã gêmea, a decepção. Acreditem, nunca torci tanto para estar errado!
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