Aviação doméstica tem retração em agosto

Depois do recuo muito acentuado do viajante corporativo, demanda de lazer já não é suficiente para sustentar o crescimento do setor. Com o câmbio se deteriorando, companhias aéreas, que têm 60% de custos dolarizados, veem um cenário muito desafiador

Confirmando a tendência de desaceleração detectada desde o segundo semestre de 2014, e apesar dos esforços das companhias para manter os níveis de procura pelo transporte aéreo neste ano, a aviação doméstica decresceu em agosto. A demanda1 por viagens aéreas nacionais registrou queda de 0,6% em relação ao mesmo mês de 2014. A oferta2 permaneceu praticamente estável na mesma base de comparação, avançando 0,1%. O fator de aproveitamento das operações, que foi de 78,7% no mês, teve uma queda de 0,6 ponto percentual. Foram pouco mais de 8 milhões de viagens domésticas em agosto, alta de 0,9 sobre o ano anterior. Os dados estatísticos são referentes às operações domésticas das companhias AVIANCA, AZUL, GOL e TAM, integrantes da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (ABEAR).

“Com a alta acentuada do dólar, disparando 55% na comparação de agosto contra agosto, mas superior a isso se olharmos do início do ano passado até hoje, os custos das companhias tiveram uma elevação muito expressiva”, relata o presidente da ABEAR, Eduardo Sanovicz.

O elemento inicial que levou à presente queda da demanda doméstica foi a retração acentuada e persistente do público corporativo, que predomina no cotidiano da aviação doméstica, e que passou a prenunciar os efeitos da crise econômica na segunda metade de 2014. Com a perda desse público, o baixo crescimento dos dois primeiros quadrimestres de 2015 estava sendo garantido pelo público geral, que vinha respondendo minimamente aos estímulos das aéreas, com esforços de vendas e tarifas promocionais. Com o agravamento da situação econômica, a demanda passa a cair de forma generalizada.

“Os estímulos para o consumo já não são suficientes para manter o crescimento do ano e comprometem nossas metas. Isso é bastante preocupante. A aviação se sustenta pelo crescimento econômico ao mesmo tempo em que induz o desenvolvimento. Romper esse ciclo é muito ruim para o país”, avalia o presidente da ABEAR. “Na última década fizemos toda nossa lição de casa de aumento de eficiência das companhias. Algumas de nossas associadas já comunicaram expressiva redução de capacidade por conta do cenário de demanda mais fraca e custos mais altos”, explica. “Medidas que dependem de outros atores incluem reduzir o peso de itens de custo que poderiam aliviar a pressão sobre o setor. Por exemplo, não podemos mais continuar tendo o querosene de aviação mais caro do mundo para os voos domésticos", enfatiza Sanovicz.

Em queda no mercado internacional, seguindo a cotação do petróleo bruto, o combustível de aviação, mesmo para voos dentro do país, é impactado pelo dólar. A tributação via ICMS, variando entre 12% e 25% nos estados, encarece ainda mais o preço. No final, o insumo no Brasil custa até 52% mais do que a média internacional (dados do Panorama ABEAR 2014). O combustível para voos internacionais, por outro lado, é isento de tributação.

Participação de mercado4 – Com 38,27% de market share, a TAM liderou a aviação doméstica em agosto. A GOL figurou a seguir, com 34,74%. A AZUL registrou 17,15% e a AVIANCA obteve 9,84% de participação.

Acumulado – De janeiro a agosto de 2015 a demanda doméstica acumula expansão de oferta de 2,9%, para uma demanda que evoluiu 3,8%. Dessa forma, o fator de aproveitamento subiu 0,7 ponto percentual, para 80,3%. O ano registra 63,7 milhões de passageiros transportados, 3% a mais do que no mesmo período de 2014.

Internacional – Na parcela do mercado internacional detida pelas empresas brasileiras, aproximadamente 30% do total, as estatísticas continuam a ser impactadas pela expansão de oferta resultante do início das operações da AZUL no segmento. A oferta total nesse caso registrou alta de 18,8%, para uma demanda que avançou 16,3%. Como resultado houve uma queda de 1,8 ponto percentual no fator de aproveitamento, que ficou em 83,5%. O total de passageiros internacionais se aproximou de 670 mil no mês, com alta de 16,9%.

Entre as companhias brasileiras, a TAM registrou a maior participação de mercado no mês: 78,89%. A GOL teve uma parcela de 13,66% da demanda e, a AZUL, 7,40%. A AVIANCA teve participação inferior a 1%.

Em oito meses a oferta acumulada tem crescimento de 15,8% e a demanda avança um pouco menos, 14,7%. O fator de aproveitamento, de 81,27%, tem queda de 0,8 ponto percentual. O total de viagens internacionais no ano se aproxima de 4,9 milhões, com crescimento de 16,1%. As participações ficam divididas da seguinte forma: TAM – 78,22%; GOL – 14,17%; AZUL – 7,55%; AVIANCA, menos de 1%.

Cargas – Em agosto, as associadas ABEAR transportaram pouco mais de 28 mil toneladas de carga no mercado doméstico, o que representa uma retração de 12,3% em relação ao mesmo mês de 2014. O segmento internacional, por outro lado, teve alta de 11,5%, somando 15,7 mil toneladas transportadas.

No acumulado do ano o mercado doméstico registra um total de 214,2 mil toneladas de cargas transportadas por via aérea (-8,6%), enquanto mercado internacional soma 112,9 mil toneladas movimentadas (3,9%).

Aviação deverá ter déficit de caixa superior a R$ 7,3 bilhões em 2015

A aviação comercial brasileira deve encerrar 2015 com um déficit de caixa superior a R$ 7,3 bilhões, informou hoje a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (ABEAR). É o pior resultado da história do setor, equivalente à soma dos resultados líquidos negativos registrados em três anos consecutivos pelo transporte aéreo (2011 a 2013), ou R$ 7,4 bilhões, segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC).

Esse déficit está sendo impulsionado pela escalada da cotação do dólar em relação ao real e pelo aumento de custos de 24% previsto para este ano, enquanto a receita deve crescer bem menos, ou 3,7%.

“Esse cenário coloca em risco uma década de conquistas, pois saltamos de um patamar de 30 milhões para 100 milhões de passageiros. Com o câmbio nesse valor, não é admissível trabalhar com custos muito acima da média mundial, como é o caso do combustível”, afirmou o presidente da ABEAR, Eduardo Sanovicz. O executivo lembra que, até agosto, a cotação do dólar acumula valorização de 55%, na comparação anual. Cerca de 60% dos custos da aviação são dolarizados.

Para 2016, as projeções indicam uma déficit de caixa de até R$ 12,2 bilhões, caso a cotação do dólar fique em torno de R$ 4,44. Se a moeda americana for cotada na casa dos R$ 3,88, as perdas poderão se situar em R$ 11,4 bilhões.

“Se esse cenário não for enfrentado com maturidade, as pessoas vão voltar para o ônibus”, disse Sanovicz. A ABEAR apresentou, na semana passada, seis propostas para enfrentar a atual situação econômico-financeira ao ministro da Secretaria de Aviação Civil (SAC), Eliseu Padilha. Nesta quinta-feira, será a vez do ministro da Fazenda, Joaquim Levy.

Entre tais medidas está o alinhamento do preço do querosene de aviação (QAV) com o mercado internacional, a eliminação da incidência do ICMS sobre o combustível, um “waiver” das tarifas aeroportuárias e de navegação com financiamento via Fundo Nacional de Aviação Civil (FNAC) e a revisão da regulação das Condições Gerais do Transporte Aéreo, entre outros temas.

“Não estamos propondo a isenção de subsídios. Nossas contas nós assumimos. O que a gente não pode mais é trabalhar num cenário no qual os insumos que recaem sobre as empresas tenham preços tão díspares em comparação com o mercado internacional”, afirmou Sanovicz.


Fonte: Assessoria