Ao Mestre Com Carinho...

Por Rui Carvalho

Anualmente a Rextur reúne alguns dos principais clientes num seminário (intensivão de um dia) em algum lugar do Brasil. Desta vez coube a Foz do Iguaçu acolher tão ilustre visita. Com o apoio do Instituto de Promoção Turística de Foz do Iguaçu - Iguassu CVB, e seus parceiros, cerca de 25 pessoas, entre convidados e staff, passaram três dias na terra das cataratas. Todos sabemos que a Rextur é superlativa em tudo, seus números só não são mais impressionantes do que a capacidade de se reinventar e continuar surpreendendo o mercado com uma operação redondinha, uma estrutura competente e profissional, e uma direção tão afiada quanto longeva. 

Minha relação com esse gigante do turismo brasileiro não é de hoje. Conheço o Goiaci e o Cássio há mais de 30 anos, desde os tempos áureos da velha e boa Varig. Contingências de mercado, é certo, nos mantiveram afastados nos últimos anos, mas isso em nada arrefeceu a admiração que sempre tive por esse ícone da nossa indústria, tão respeitado quanto temido. De fato, passar algumas horas ao lado de figura tão carismática quanto o "Goia" é um privilégio impossível de traduzir em palavras. Mas não escrevo este texto para ficar babando ovo em cima do comandante da Rextur ou de sua equipe. Primeiro porque não sou muito afeito a esse tipo de veleidade. Segundo, e mais importante, porque ninguém ganha a simpatia do Goiaci puxando seu saco, essa é a verdade! Quem conhece esse líder empreendedor sabe que sua língua é mais afiada do que suas estratégias comerciais! Mas isso, longe de ser um defeito, é sua marca registrada, sua graça, seu diferencial competitivo. Mesmo os que o criticam, no fundo, sentem uma pontinha de inveja. Quanto mais não seja, por ele estar numa posição em que pode falar o que quer e o que pensa, sem se preocupar em ferir suscetibilidades ou arriscar a credibilidade de sua empresa, quanto mais sua subsistência!  

Ao longo de minha carreira também sofri muita incompreensão por minha língua destravada, mas nunca consegui domá-la. Confesso, é mais um de meus (muitos) defeitos. Mas, como não há duas sem três, junto com a língua solta vem também minha absoluta lealdade às empresas que defendo, aos amigos verdadeiros e a certos princípios. Desde cedo vi no Goiaci um exemplo a seguir. Pena que só consegui imitá-lo no jeito desbragado de falar, e nunca no espírito empreendedor e na inteligência comercial. Mas não importa, cada um faz seu caminho e o mais importante é que se preserve a essência. É claro que há, pelo menos, uma diferença fundamental: quando ele fala o que pensa, do alto de sua trajetória e autoridade, mesmo os que discordam, aplaudem e deixam escapar, no máximo, um sorrisinho de canto de boca, não vá o homem perceber e atacar com alguma tirada impossível de rebater! Já eu, quando faço algo parecido sou chamado de falastrão, de agressivo. Ele ganha fãs, eu perco o emprego. Pois é, também quem mandou eu não ser dono do meu próprio nariz, não é? Vivendo e aprendendo... 

Desta vez, em Foz, tive a oportunidade, rara, de passar alguma horas ao lado dessa figura que tanto admiro. Compartilhamos histórias, relembramos causos e trocamos ideias. Foi uma aula de estilo, franqueza e pragmatismo, sempre recheada, é claro, pelo cáustico bom humor. Desse ninguém escapa, e ninguém, com um pingo de autocrítica, pensaria em escapar. O fato é que tive a chance de ofertar ao Goiaci um exemplar do meu livro "Turismo de Eventos - Atuação e História dos Convention Bureaux no Brasil". Nele escrevi uma dedicatória que reafirma a inspiração que do mestre recebi para falar frontalmente aquilo que penso. Quem já leu sabe que escrevi um livro autoral. Nada mais "goiaciano" do que colocar pra fora, com destemor e coerência, o que observei no meu setor ao longo dos trinta e seis anos de carreira que completei há pouco. Goiaci leu a dedicatória, agradeceu da forma sincera que o caracteriza, e continuou focado no que o levara até Foz: o encontro com alguns de seus melhores clientes para discutir números, estratégias e planos. Provavelmente não lerá meu livro. Nem precisa. Afinal o que eu teria a ensinar a alguém como ele? Sinceramente? Não me importo. O simples fato de ter deixado claro de onde vem minha inspiração para perder o amigo, mas não perder a piada, já é recompensa bastante. Lavei a alma, missão cumprida. 

Nos dois dias seguintes o grupo passou a conhecer melhor os atrativos de Foz do Iguaçu, e minha satisfação ficou completa ao perceber a surpresa genuína de todos com relação à quantidade e qualidade de nossos atrativos, à precisão dos serviços e a excelência da infraestrutura. Conseguimos mostrar para um grupo de importantes agentes de viagens e formadores de opinião que Iguaçu não é destino para três dias, mas para uma semana, no mínimo! Mais uma missão cumprida. Resta esperar, como diria o próprio Goiaci, que não fiquemos no papo furado e consigamos transformar os excelentes contatos em negócios e resultados. Enquanto isso não acontece já valeu a pena ter passado essas horas ao lado do mestre. Afinal, aprender nunca é demais, e não ocupa espaço. O Brasil tem um mercado turístico maravilhoso que ainda é preciso aprofundar, amadurecer, profissionalizar. O Brasil, aqui entre nós, por mais que continue parindo novos líderes, jovens mentores (e inventores), precisa cada vez mais de Goiacis. Isso até eu, mesmo sendo português, aprendi com certa facilidade! Vida longa, amigo "Goia".