A mais antiga operadora de turismo em atividade do mundo, a Thomas Cook, fechou as portas nesta segunda-feira (23) após 178 anos. A companhia foi fundada em 1841 em Leicestershire pelo empresário que deu nome à companhia.
A falência da operadora deixou cerca de 600 mil turistas abandonados em centenas de lugares do mundo, gerando a maior operação de resgate de britânicos desde a 2ª Guerra. Batizada de Operação Matterhorn, a força-tarefa conta até o momento com 45 aeronaves que farão 64 rotas nesta segunda — uma escala que corresponderia à quinta maior companhia aérea do país.
A quebra, avaliam os especialistas, deveu-se não apenas à intransigência de alguns bancos, principalmente RBS e Lloyds, mas também por anos de gestão arriscada, pelo Brexit e por uma concorrência feroz na internet.
Apesar de muitos terem se surpreendido com a falência, ela não foi uma surpresa para quem é do ramo. A saúde do grupo já vinha se deteriorando há dez anos, com uma dívida que já ultrapassava 1 milhão de libras.
Nos últimos dois anos, a operadora enfrentou uma onda de crises graças às incertezas geradas pelo Brexit, que incentivaram muitos turistas a adiarem suas férias; à queda da libra, que pesou na contabilidade; e a uma onda de calor que incentivou muitos europeus a passarem o verão perto de casa, em vez de viajarem para destinos distantes.
Mas a questão pode ser bem mais simples e complexa ao mesmo tempo. Mais de um especialista concordou com a mesma análise: “A Thomas Cook não se preparou para o século 21". Afinal, hoje todo mundo pode ser seu próprio agente de viagem. Todo mundo consegue comprar uma passagem, fazer reserva de hotel ou alugar um carro em qualquer lugar do mundo sem muita dificuldade.
O modelo de negócio muito baseado no varejo offline, com lojas de rua ("High Street-focused", na expressão britânica), fazia da empresa uma fraca candidata à sobrevivência.
O desfecho melancólico deu-se na sexta-feira (20), quando suas ações entraram em colapso. No fechamento, valia apenas 3,45 pence, ou seja, 0,0345 libras, em comparação com 1,2 libra no início de 2018.
Falando hoje em Nova York, primeiro-ministro Boris Johnson criticou os diretores da Thomas Cook por terem embolsado cerca de 20 milhões de libras nos últimos cinco anos, apesar da incapacidade da empresa em reposicionar seus negócios.
Há alguns meses, foi anunciado o interesse de aquisição pelo grupo chinês Fosun, mas a avaliação do mercado foi de que o Fosun tinha muito a perder, dada a precariedade da situação da Thomas Cook. Diante disso, ninguém quis investir nas negociações de última hora em Londres, sobretudo porque o princípio do governo conservador britânico é não intervir em caso de falência de empresas privadas.
Com o colapso da icônica empresa, 22 mil funcionários serão afetados, 9 mil deles no Reino Unido.
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