O turismo ganhou espaço na COP30 dentro do amplo leque de discussões que mobilizaram Belém nesta edição histórica da conferência, segundo informações da entidade. Foram dois dias inteiros dedicados a debates sobre o setor, com um espaço próprio: o estande Conheça o Brasil, do Ministério do Turismo, na Green Zone, que recebeu painéis ao longo de toda a programação. Foi nesse contexto que aconteceu o painel “Turismo e Clima: do compromisso global à transformação local”, reunindo Marina Figueiredo, presidente executiva da Braztoa, Cássio Garkalns, CEO da GKS Inteligência Territorial, e Jaqueline Gil, pesquisadora da UnB e fundadora da Amplia Mundo.
O encontro teve grande adesão do público e promoveu uma reflexão conjunta sobre como transformar compromissos da agenda climática em ações concretas no território, envolvendo viajantes, empresas e comunidades. A partir de três perspectivas complementares: a institucional, que destacou o papel das políticas públicas e compromissos assumidos pelo país; a conceitual, que contextualizou o debate com base em evidências, modelos e tendências globais; e a prática, que traduziu esses conceitos em exemplos reais, estratégias de mercado e ações aplicáveis no dia a dia do turismo, os três especialistas debateram o papel do setor como agente de transformação, capaz de regenerar territórios, repensar modelos de negócio e engajar viajantes em escolhas mais responsáveis.
O objetivo foi aproximar os debates climáticos de quem visita e vivencia os destinos. Diante de um público formado majoritariamente por visitantes e viajantes, a conversa buscou simplificar conceitos, explicar como funcionam as negociações da COP30 e mostrar de forma clara onde o turismo se insere nos compromissos globais. Os painelistas compartilharam exemplos, experiências e caminhos possíveis para que o setor avance em direção a um futuro mais resiliente, consciente e alinhado às demandas climáticas.
“O turismo precisa estar no centro da transição climática e ser parte da solução. Quando tornamos esse debate mais acessível e conectado à experiência real de quem vive o turismo, ncluindo as pessoas que viajam e as que fazem o setor acontecer, abrimos um caminho concreto para um turismo mais resiliente, responsável e preparado para o futuro. O desafio também passa por traduzir a agenda climática em decisões de mercado, em modelos de negócio mais inteligentes e em experiências que respeitem os territórios e envolvam os viajantes”, disse Marina Figueiredo, presidente executiva da Braztoa.
“O turismo, quando planejado com foco no território, pode gerar benefícios reais para as pessoas e contribuir diretamente para a redução de emissões e o fortalecimento das comunidades”, complementou Cássio Garkalns, CEO da GKS Inteligência Territorial
“Discutimos os compromissos climáticos, globais e brasileiros, e seu descompasso com a realidade e a prática no turismo. Muito disso se deve à falta de conhecimento dos gestores e dos líderes, públicos e privados, no turismo. Creio que a COP30 provocou a se olhar para esse tema com mais responsabilidade. O problema é sério, e a solução precisa ser urgente”, afirmou Jaqueline Gil.
Ao promover uma troca direta com o público, o painel reforçou que as transformações necessárias não dependem apenas de acordos internacionais, mas também das escolhas cotidianas feitas por todos que viajam, trabalham e vivem do turismo. A mensagem final destacou que a agenda climática só se torna efetiva quando chega aos territórios e a quem faz o turismo no dia a dia. Pela sua capilaridade e conexão direta com pessoas, natureza e comunidades, o turismo tem um papel estratégico nessa transição.
Braztoa leva agenda de sustentabilidade para Belém:
O Prêmio Braztoa de Sustentabilidade 2025 e o SEEDS levaram a pauta do turismo que transforma e inspira para Belém, epicentro dos debates globais sobre sustentabilidade em 2025. Entre os dias 8 e 9 de dezembro, a Braztoa reuniu na capital paraense lideranças, empreendedores, representantes de destinos, comunidades locais, gestores públicos, especialistas, parceiros institucionais e agentes do turismo de todo o Brasil em atividades que integraram reconhecimento, vivência prática e reflexões estratégicas, destacando o protagonismo da Amazônia nas discussões sobre o futuro do setor.
A programação contou com a cerimônia do Prêmio Braztoa de Sustentabilidade 2025, que aconteceu no Teatro Estação Gasômetro, na noite de 8 de dezembro, reconhecendo 15 vencedores e 2 menções honrosas, incluindo Empresas, Instituições, Parceiros e Comunidades Locais. Com a temática especial Amazônia incorporada aos critérios de avaliação, o prêmio direcionou o olhar para iniciativas que contribuem diretamente para a conservação, valorização e fortalecimento dos territórios amazônicos, além de marcar a criação de uma nova categoria dedicada às comunidades locais, valorizando projetos de povos originários, comunidades ribeirinhas, quilombolas, caiçaras e iniciativas de turismo de base comunitária.
A cerimônia contou ainda com apresentações culturais, como a Orquestra Jovem Vale Música e o tradicional Carimbó paraense com o grupo Instituto Cultural Mistura Regional, além de um um desfile do estilista Tony Palha com criações inspiradas na estética amazônica e transformada a partir de materiais reaproveitados, e troféu produzido pelo designer Ronaldo Guedes, que é um dos nomes mais expressivos da cerâmica marajoara contemporânea, reforçando a conexão entre cultura local e turismo regenerativo, e foi seguida por um coquetel de celebração que promoveu integração e troca entre os participantes.
Ainda no dia 8, pela manhã, os finalistas e convidados participaram da Vivência Local, experiência de benchmark e imersão na Ilha do Combu, um dos ícones do turismo sustentável e da gastronomia amazônica. A visita incluiu a experiência com iniciativas locais de turismo sustentável e regenerativo, o contato direto com comunidades e empreendedores e um almoço com produtos e saberes locais, representando o espírito do Prêmio Braztoa de Sustentabilidade de conectar, inspirar e aprender com quem está na linha de frente da transformação do turismo brasileiro.
Encerrando as atividades, no dia 9 de dezembro, foi realizado o SEEDS – Semeando a Excelência do Desenvolvimento Sustentável, ciclo de palestras projetado para promover uma cultura de turismo mais responsável, inovadora e orientada ao futuro. A edição aconteceu no recém-inaugurado Espaço Arena, no Polo de Bioeconomia, reunindo especialistas, gestores públicos, empreendedores locais e finalistas para dialogar sobre os desafios e oportunidades que se apresentam ao Pará neste novo contexto.
A programação contou com painéis, cases inspiradores e debates distribuídos em quatro temas centrais:
- Posicionamento e Identidade — o valor da gastronomia como expressão de território, marca e narrativa: Evidenciou como a gastronomia paraense, com sua autenticidade e diversidade, é um ativo estratégico para fortalecer o posicionamento do destino e sua diferenciação no mercado.
- Governança e Gestão Sustentável — sustentabilidade como estratégia de gestão territorial: Destacou o papel das políticas públicas e do planejamento integrado para consolidar o Pará no mapa global do turismo sustentável.
- O Pará em expansão — novos investimentos, estratégia e o cenário turístico do Pará pós-COP30: Trouxe reflexões sobre a construção de uma agenda de turismo sustentável, ressaltando o papel do poder público na orientação do desenvolvimento territorial e na definição de prioridades que geram valor real para as comunidades locais.
- Depois da COP30 — o novo momento do Pará e as oportunidades para o mercado de turismo: Apresentou caminhos para transformar as conquistas obtidas em legado duradouro, acelerando a criação de produtos, experiências e a comercialização do destino.
Entre os painelistas estiveram: Gabrielle Andrade (Embratur); André Godinho (Secretário Executivo de Belém para a COP30); Flavia Neri (Fundação de Turismo do Mato Grosso do Sul); Tainah Fagundes (Rota da Bioeconomia e ASSOBIO); Chef Saulo Jennings (Restaurante Casa do Saulo e Embaixador Gastronômico da ONU Turismo); Priscila Lima (Hotel Vila Galé Collection Amazônia); Paulo Sérgio Pinheiro (CNC e CETUR); Marcelo Micucci (Mundo Gekos); Priscila Godoy (Azul Viagens); e Caio Perez (Orinter). Os painéis foram mediados por Marina Figueiredo, Presidente Executiva da Braztoa.
O SEEDS reforçou que o turismo, quando integrado às agendas de clima, bioeconomia, inovação, inclusão social, conservação ambiental e valorização dos povos tradicionais, se consolida como um vetor estratégico de desenvolvimento sustentável e regenerativo. A troca de experiências e visões fortaleceu o compromisso coletivo de construir, a partir do Pará, modelos mais responsáveis e transformadores para o turismo brasileiro.
“Belém ainda respirava os reflexos da COP30, e tudo o que realizamos aqui reforça que esse trabalho não pode terminar com a conferência. Grandes encontros inspiram, mas a verdadeira transformação acontece depois, quando as ideias se tornam ações reais e contínuas. Vivemos dias intensos no Pará: celebramos iniciativas que já geram impacto, conhecemos histórias que ainda vão ecoar por muito tempo e fortalecemos conexões com quem acredita que o turismo pode — e deve — ser parte da solução para os desafios da Amazônia. O Prêmio Braztoa de Sustentabilidade e o SEEDS nos permitiram estar no território e reconhecer quem está construindo diariamente um turismo que gera valor socioambiental.O Pará nos recebe em um momento decisivo,e é daqui que reforçamos nosso compromisso de seguir impulsionando a transformação do turismo brasileiro. A agenda que vivemos no estado é apenas o começo de uma jornada que seguirá valorizando pessoas, territórios e iniciativas que deixam legado positivo por onde passam. Saímos ainda mais confiantes no poder do turismo como agente de transformação”, afirmou Marina Figueiredo, presidente executiva da Braztoa.
Confira os vencedores do Prêmio Braztoa de Sustentabilidade 2025:
Vencedores em ordem alfabética, por categoria e organização:
- Categoria: Gestão/Governança
- Destaque Operadoras
Vai Voando – BeFly (SP) - Criada para democratizar o turismo, a Vai Voando atua nas periferias e favelas do Brasil, oferecendo acesso a viagens e fomentando o empreendedorismo social. Com mais de 1 milhão de passageiros e 360 franquias, a iniciativa alia inclusão, sustentabilidade e impacto positivo, tornando o turismo uma ferramenta real de transformação e oportunidades.
Estrela Sustentável – Estrela do Formoso (MS) - Em Bonito, o Estrela do Formoso transformou sua operação turística em um modelo de gestão ambiental integrada. Com foco na preservação do Rio Formoso e no engajamento dos colaboradores, o projeto incorpora práticas como tratamento completo de efluentes, gestão de resíduos, compostagem e uso de energia solar. A iniciativa demonstra que a sustentabilidade pode ser o eixo central de uma empresa de turismo, unindo excelência ambiental, eficiência operacional e impacto positivo no território.
Gestão do Aquário de Ubatuba – Aquário de Ubatuba (SP) - Pioneiro no turismo educativo e na conservação marinha, o Aquário de Ubatuba alia pesquisa, educação e sustentabilidade. Desde 1996, integra experiências imersivas e ações de reabilitação da fauna costeira por meio do Instituto Argonauta, que já atendeu mais de 15 mil animais. Com energia solar, reaproveitamento de água e eliminação de plásticos de uso único, o aquário é referência em turismo responsável e na promoção de uma cultura oceânica consciente e transformadora.
Pacto pelo Mundo Amarante – MV4 Serviço de Hospitalidade (SP) - A Amarante consolidou a sustentabilidade como pilar estratégico de sua gestão, construindo uma robusta Estratégia ESG com metas públicas para 2025 e 2030. O modelo, baseado na escuta de mais de dois mil stakeholders, articula compromissos ambientais, sociais e de governança em programas como Amarante Sustentável e Amarante Social. A iniciativa traduz o propósito corporativo em ação concreta, fortalecendo a inovação, a ética e o impacto positivo nos territórios onde atua.
Hub Sertões Sustentável – Instituto Sertões (SP) - Presente nos biomas brasileiros por onde passa a Plataforma Sertões, o Hub Sertões Sustentável transforma o impacto de grandes competições em legado ambiental e social. Com ações de gestão de resíduos, neutralização de carbono, educação ambiental e doação de filtros e mudas, o projeto engaja comunidades locais, catadores e escolas em todo o país. Liderado pelo Instituto Sertões, mostra que eventos esportivos podem ser também motores de transformação e desenvolvimento sustentável.
- Categoria: Comunidades Locais
Amastour Turismo de Base Comunitária (RJ) - Iniciativa criada por moradores do Morro da Babilônia e Chapéu Mangueira, no Rio de Janeiro, que alia turismo de favela, educação ambiental e ações sociais, gerando renda e fortalecendo o pertencimento local.
Roteiros Caminhos da Pripioca – Movimento de Mulheres das Ilhas de Belém (PA) - Turismo de base comunitária conduzido por mulheres ribeirinhas da Ilha de Cotijuba, que integra vivências culturais, gastronomia e preservação ambiental, promovendo autonomia e regeneração.
TURIARTE – Tecendo Rendas e Conectando Saberes na Amazônia (PA) - Cooperativa que reúne comunidades indígenas e ribeirinhas dos rios Tapajós e Arapiuns, oferecendo experiências imersivas e sustentáveis que valorizam a cultura local e protegem o território amazônico.
Vila Turística dos Pescadores e Maricultores da Praia da Cocanha – AMAPEC (SP) - Projeto caiçara que promove vivências sustentáveis como a fazenda de mexilhões e o Festival do Mexilhão, unindo preservação ambiental, cultura tradicional e fortalecimento comunitário.
- Categoria: Experiência/Produto
Ibiti Projeto – Regenerando territórios através do turismo (MG) - Referência em turismo regenerativo sistêmico, o Ibiti Projeto transforma um território antes degradado da Serra da Mantiqueira em um ecossistema de restauração ambiental, aprendizado e valorização cultural. Em mais de 6 mil hectares, integra experiências turísticas com reflorestamento, saneamento ecológico e protagonismo comunitário, promovendo benefícios concretos ao meio ambiente e à economia local.
Expedição Katerre Ecoturismo – Nossas Sementes (AM) - A Expedição Katerre é pioneira no ecoturismo de base comunitária na Amazônia, articulando turismo, educação e geração de renda. Atuando com a Fundação Almerinda Malaquias e comunidades ribeirinhas de Novo Airão, apoia escolas, artesãos e projetos de conservação como o manejo do pirarucu e a proteção de quelônios. Um exemplo de turismo que fortalece a floresta e transforma vidas.
Xingu Adventure – Rota Turística Tartarugas da Amazônia (PA) - Desenvolvida em parceria com comunidades e órgãos ambientais, a Rota Tartarugas da Amazônia alia ecoturismo, educação e conservação nas Unidades de Conservação do Xingu. A iniciativa gera renda local, reduz a coleta ilegal de ovos e amplia a consciência ambiental, consolidando-se como um modelo inovador de turismo comunitário na Amazônia.
Muriki Cicloturismo – Roteiro Alter Tapajós (PA) - O Roteiro Alter Tapajós conecta natureza, cultura e comunidades por meio do cicloturismo sustentável na região do Tapajós. Desde 2019, a Muriki fortalece a economia local, promove inclusão e estimula o uso da bicicleta como meio de transporte limpo, valorizando territórios fora do eixo tradicional e fomentando o protagonismo comunitário na Amazônia.
Toca do Kaynã (SP) - A Toca do Kaynã é um espaço rural que une gastronomia, produção sustentável e educação ambiental. Em uma fazenda familiar, oferece experiências sensoriais e pedagógicas ligadas ao café, ao mel e ao fubá artesanal, com práticas de reflorestamento, energia solar, acessibilidade e inclusão. Um exemplo de turismo que comunica, inspira e pratica sustentabilidade no cotidiano.
Vivalá – Vivalá Amazônia: apoiando o desenvolvimento do turismo sustentável na região (AM) - A Vivalá atua em diversos estados da Amazônia Legal, integrando comunidades, empresas e governos em torno do turismo regenerativo. Com programas de volunturismo, etnoturismo e capacitação, a iniciativa fortalece negócios comunitários, valoriza saberes tradicionais e impulsiona a bioeconomia amazônica, gerando renda e preservando milhões de hectares de floresta.
- Menção Honrosa
Rancho do Peixe – Rancho do Peixe (CE) - Experiência/Produto - Referência em turismo sustentável, o Rancho do Peixe alia conforto, natureza e respeito ao território. Com bangalôs de materiais naturais, energia solar e contratação local, o empreendimento consolida há mais de 15 anos um modelo de turismo de baixo impacto e alta experiência, inspirando práticas conscientes no Preá e em todo o Brasil.
PLURAIS – área de Diversidade, Equidade e Inclusão – Grupo Cataratas (RJ) - Gestão/Governança - Com a área Plurais, o Grupo Cataratas integra diversidade, equidade e inclusão à sua gestão. Desde 2018, programas como T.E.R.R.A., Empodera Mulher e Afrorescer promovem representatividade, formação e oportunidades para diferentes grupos, tornando a empresa referência em responsabilidade social e cultura corporativa inclusiva no turismo.
“A edição deste ano do Prêmio chega em um momento simbólico, logo após a COP30, reafirmando que o turismo brasileiro está preparado para transformar compromissos globais em ações reais. As iniciativas vencedoras mostram que sustentabilidade e inovação já fazem parte da essência do nosso setor, e que o turismo pode, sim, ser um protagonista na construção de futuros mais sustentáveis e parte da solução. É isso que queremos celebrar e multiplicar”, comenta Marina Figueiredo, presidente executiva da Braztoa.

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