Tiradentes recebe o primeiro festival de artes integradas do Brasil: Artes Vertentes

De 9 a 23 de setembro, evento reunirá 54 artistas de 15 países diferentes e inúmeras propostas culturais

O Festival Artes Vertentes, organizado pela empresa Ars et Vita chega a Tiradentes (MG) com uma proposta inédita no Brasil: reunir artistas eruditos e populares, consagrados e ainda desconhecidos por aqui, em um evento que promoverá quatorze concertos de música clássica, dois concertos de música popular de várias partes do mundo, dez saraus literários, cinco exposições de artes visuais, sete sessões de cinemas, três espetáculos teatrais e diversas manifestações de arte urbana. Serão oito dias de intensa programação cultural entre 9 e 23 de setembro. "Vivi durante 14 anos na Europa, onde participei como pianista de vários festivais deste gênero. Sempre quis fazer algo parecido no Brasil, onde não existe um encontro de artes integradas com o nível artístico encontrado no exterior", explicou o diretor artístico do Festival Artes Vertentes, Luiz Gustavo Carvalho.

Um dos objetivos do festival é chamar a atenção para a riqueza do patrimônio histórico de Tiradentes e da importância de preservá-lo. Por esse motivo, a Matriz de Santo Antônio e a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos foram escolhidas para receber músicos como o pianista Nelson Freire, a violoncelista Svetlana Tovstukha e o violinista Geza Hosszu-Legocky, entre outros. O casarão colonial, que abriga o Centro Cultural Yves Alves, acolherá a exposição do fotógrafo lituano Antanas Sutkus. O Instituto Cultural Biblioteca do Ó terá saraus literários com escritores mineiros, brasileiros e estrangeiros. Nos concertos de música popular (música do mundo) se apresentarão músicos como o bandoneonista Rufo Herrera e guitarrista da música flamenca Pedro Soler, que terão como palco o mais belo chafariz de Minas Gerais, o de São José de Botas. O casario colonial receberá a coreagrafia de Morena Nascimento e a música de Banda Ramalho e diversas manifestações de arte urbana.

"Todos os participantes do Festival Artes Vertentes são artistas de altíssimo nível, vindos de vários países do mundo. Entre eles podemos destacar o Ivry Gutlis, um dos violinistas mais importantes do mundo, e o pianista Nelson Freire, que abrirá o festival no dia 9 de setembro. O fotógrafo lituano Antanas Sutkus, um dos mais conceituados, virá para a abertura de sua exposição "Nostalgia dos tempos da pureza". Entre os poetas que virão a Tiradentes estão a poetisa israelense Tal Nitzan – e os brasileiros Thiago de Mello, Ferreira Gullar e Adélia Prado”, adiantou Luiz Gustavo Carvalho.

  • Contatos para mais informações: Maria Vragova (21) 8634-5374 e imprensa@artesvertentes.com / www.artesvertentes.com
  • Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (estudantes e idosos). Passe para todo o Festival custa R$ 280 e R$ 140 (estudantes e idosos)
  • O ingresso para o concerto de abertura, com o pianista Nelson Freire, custará R$ 60 e R$ 30 (estudantes e idosos).
  • Os ingressos podem ser comprados nos site www.blueticket.com.br e no Centro Cultural Yves Alves, em Tiradentes (Rua Direita 168, Centro – tel: 32 3355-1503)
  • Classificação etária: livre

Programação:

9 de setembro, domingo

  • 11h - Concerto de Abertura do Primeiro Festival Internacional de Artes de Tiradentes: Artes Vertentes. Concerto do pianista Nelson Freire, na Matriz de Santo Antônio.
  • 15h - Abertura da exposição do fotógrafo Antanas Sutkus “Nostalgia dos tempos da pureza”, no Centro Cultural Yves Alves.
  • 16h30 - Abertura da exposição do artista plástico Ricardo Coelho “Em trânsito”, no Sobrado Ramalho (IPHAN).

14 de setembro, sexta-feira

  • 16h - Abertura da exposição “Janelas para arte”, na Rua Direita
  • 16h - Abertura da exposição do pintura do Quaglia “Scherzi”, na Cadeia 1
  • 16h - Abertura da exposição de fotografia do Ivan Yelizarov “As minhas noites são mais belos do que seus dias”, no Espaço Artes Vertentes
  • 16h - Abertura da exposição das “Ilustrações infantis, no Espaço Artes Vertentes
  • 17h - Sarau Literário com a participação do Celestino de Souza, Johanna Melzow e alunos das escolas públicas, no Largo do Sol
  • 20h30 - Concerto com a participação de Julian Arp, Luiz Gustavo Carvalho, Maurício Freire, Manuel Hofer, na Matriz de Santo Antônio

15 de setembro, sábado

  • 11h - Concerto com a participação de Julian Arp, Luiz Gustavo Carvalho, Helena Winkelman e convidados, na Igreja de Nossa Senhora de Rosário dos Pretos
  • 15h - Mesa redonda: “Patrimônio humano fazendo patrimônio histórico” com a participação do Paul Estienne, Maria Cristina Seabra e Marco Ferrari, com a moderação Maria José Boaventura, no Espaço Artes Vertentes
  • 17h - Concerto-leitura, com a participação de Fábio Enriquez, Luiz Gustavo, na Igreja de Nossa Senhora de Rosário dos Pretos
  • 19h - Espetáculo de dança “Quase Ela”, com Morena Nascimento, no Centro Cultural Yves Alves
  • 21h - Concerto com a participação de Pedro Soler e Philippe Mouratouglou, no Chafariz

16 de setembro, domingo

  • 11h - Concerto com a participação de Rufo Herrera, Svetlana Tovstukha, Helena Winkelman, na Igreja de Nossa Senhora de Rosário dos Pretos
  • 15h - Sarau literário com a participação da Maria José Boaventura e Johanna Melzow, no Largo do Sol
  • 18h - Concerto com a participação de Julian Arp, Luiz Gustavo Carvalho, Mark Denemark, Maurício Freire, Elisa Freixo, Manuel Hofer, Johanna Melzow, Tal Nitzán, Helena Winkelman, na Matriz de Santo Antônio

20 de setembro, quinta-feira

  • 16h - Mesa redonda "Artes Vertentes - um novo caminho" com a participação de Luiz Gustavo Carvalho, Maria Vragova, Ricardo Coelho, Sérgio Rodrigo, Julian Arp, Maria José Boaventura e Dorothy Lenner com a moderação da Flávia Frota, no Centro Cultural Yves Alves
  • 18h - Concerto com a participação de Mark Denermark, Luiz Gustavo Carvalho, Julian Arp, Svetlana Tovstukha, Manuel Hofer, Helema Winkelman, na Igreja de Nossa Senhora de Rosário dos Pretos
  • 21h - Sarau Literário com a participação da Tal Nitzan, Luca Argel e Charlotte Leport, no Largo do Sol

21 de setembro, sexta-feira

  • 11h - Lançamento do livro de fotografia e poesia Antanas Sutkus: “Nostalgia dos tempos da pureza” com participação de Antanas Sutkus e poetas, no Centro Cultural Yves Alves
  • 12h30 - Concerto com a participação de Julian Arp, Luiz Gustavo Carvalho, Ivry Gitlis, Fréderic Meinders, Svetlana Tovstukha, na Igreja de Nossa Senhora de Rosário dos Pretos
  • 15h - Mesa Redonda: “Os caminhos da fotografia”, com a participação do Antanas Sutkus, Eugênio Sâvio, Quaglia e Elena Ignatieva e moderação de Ricardo Coelho, no Espaço Artes Vertentes
  • 17h - Sarau Literário, com a participação de Thiago de Mello, Tal Nitzan e Dylan Thomas Hayden, no Largo da Igreja de São Francisco
  • 18h30 - Concerto Leitura, com a participação de Martha Nowill e Julian Arp, Manuel Hofer, Helena Winkelman, na Igreja de Nossa Senhora de Rosário dos Pretos
  • 19h - Companhia dos inventos, com a peça infantil "Santo seu Hilário", no Chafariz
  • 21h - Concerto com a participação de Marco Aurélio Brescia, Rosana Orsini, Svetlana Tovstukha, na Matriz de Santo Antônio

22 de setembro, sábado

  • 11h - Lançamento do livro da Lucia Castelo Branco "O menino e a lágrima de Venus", com participação da autora e de Maria José Boaventura, no Centro Cultural Yves Alves
  • 12h - Concerto com a participação de Julian Arp, Luiz Gustavo Carvalho, Mark Denemark, Helena Winkelman, na Igreja de Nossa Senhora de Rosário dos Pretos
  • 14h - Mesa redonda: “Exílio - caminho forçado” com a participação de Antanas Sutkus, Thiago de Mello, Ferreira Gullar, Tal Nitzan e Marcelo Siqueira, com moderação de Ivan Alves Filho, no Espaço Artes Vertentes
  • 16h - Sarau Literário, com a participação de Ferreira Gullar, no Largo do Sol
  • 18h – Espetáculo de dança: “TABI”, com Dorothy Lenner e Emilie Sugai, no Centro Cultural Yves Alves
  • 21h - Concerto com a participação de Julian Arp, Luiz Gustavo Carvalho, Mark Denemark, Ivry Gitlis, Fréderic Meinders, na Igreja de Nossa Senhora de Rosário dos Pretos

23 de setembro, domingo

  • 14h - Mesa redonda: “Os caminhos da música no século XXI”, com a participação de Sérgio Rodrigo, Helena Winkelman, Samir Odeh-Tamimi e Julian Arp, com a moderação de Luiz Gustavo Carvalho, no Espaço Artes Vertentes
  • 16h - Concerto com a participação de Julian Arp, Luiz Gustavo Carvalho, Ivry Gitlis, Helena Winkelman, na Igreja de Nossa Senhora de Rosário dos Pretos
  • 19h - Concerto de encerramento do festival: Adélia Prado. Leitura: Marco Aurélio Drummond. Regente: Orquestra de Câmara do Sesiminas, na Matriz de Santo Antônio

Entrevista:

Três conceituados artistas, que participarão do Artes Vertentes, falam nesta entrevista sobre arte, suas expectativas do Festival e sobre ele ser realizado numa cidade do interior.

1) Cada linguagem artística, seja a música, as artes visuais, a dança, o teatro, o cinema ou a literatura, tem suas especificidades e sutilezas. No entanto, o mundo contemporâneo mediado pelas tecnologias digitais tem nos forçado a dilatar nossa percepção de maneira cada vez mais multi-sensorial. Estamos nos acostumando a ver/ouvir/falar/cheirar e tocar ao mesmo tempo, sem nos darmos conta dos limites de nossa própria percepção. Tal realidade se apresenta ora de maneira negativa, ora de maneira a produzir interessantes diálogos na colaboração entre artistas vindos das mais distintas formações.

Como parte desse contexto, como você vê a realização do Artes Vertentes, Primeiro Festival Internacional de Artes de Tiradentes, reunindo diferentes culturas e artistas das mais diversas linguagens expressivas?

Antanas Sutkus - O Homem desfruta de inúmeras possibilidades de expressão. Independente do segmento artístico, a expressão é o meio mais importante de comunicação entre pessoas e culturas. Graças às forças que possibilitam a criação, o artista pode atingir os cantos mais secretos da alma humana. E se uma alma é tocada por uma imagem visual, por um som ou por uma palavra, a percepção artística torna-se mais rica. O Festival Artes Vertentes é uma idéia corajosa. Para mim será muito interessante observar qual língua e o que as minhas fotografias lituanas transmitirão ao público brasileiro.

Tal Nitzan - A possibilidade de anular distâncias e superar diferenças é uma graça, uma qualidade mágica das artes, que as diferenciam de outros aspectos da existência. Graças a este privilégio, o encontro entre literatura e dança, poesia e vídeo cria algo novo que vai além do que a simples ilustração ou interpretação.

Sérgio Rodrigo - A ideia de um festival multidisciplinar me parece, antes de mais nada, se posicionar na contramão de uma tendência de se formar o artista apenas do ponto de vista técnico, distanciando reciprocamente as formas de expressão. Ao aproximar distintas formas de arte, o que se revela é sempre algo mais profundo, relacionado ao próprio dinamismo da criação artística, potência transformadora cuja dimensão deve vir primeiro em relação a uma apreensão meramente técnica dos meios de expressão.

2- Uma outra característica deste Festival é reunir num mesmo local artistas consagrados como o pianista Nelson Freire, o violinista Ivry Gitlis, o guitarrista Pedro Soler e o fotógrafo Lituano Antanas Sutkus ao lado de jovens artistas.

Como você entende e o que podemos esperar dessa opção curatorial?

Antanas Sutkus - É um olhar inovador para a arte contemporânea. O mais importante para mim é sentir o pulso do mundo contemporâneo, e principalmente no meu mundo: a arte. O contato com os jovens representantes do nosso círculo artístico desperta a fantasia e confronta cada artista com a sua própria percepção da arte nos dias atuais.

Tal Nitzan - Aqui gostaria de limitar a minha resposta à minha experiência pessoal: o contato da minha poesia com a fotografia de Antanas Sutkus me causou emoção e agradecimento, pela possibilidade de uma nova dimensão.

Sérgio Rodrigo - Acredito que a dinâmica de um festival tem a priori uma vantagem em frente a formas de ensino mais acadêmicas, que diz respeito tanto a algo de uma relação que tende a ser mais informal entre os participantes, como a uma possibilidade de intensificação dessas relações decorrente do próprio caráter de imersão característico dos festivais. Sendo assim, essa opção curatorial se alinha à ideia de festival enquanto espaço de convivência e troca de experiências, realidade indispensável ao ambiente artístico.

Um papel importante em qualquer Festival de Arte e Cultura no mundo é, sem dúvida alguma, possibilitar o enriquecimento do público em geral e, em especial, das crianças que puderem assistir aos espetáculos ou participarem das oficinas oferecidas durante o evento.

Como você vê o papel de formação deste Primeiro Festival Internacional ao optar por uma cidade do interior de Minas Gerais? O que se pode esperar dessa iniciativa?

Antanas Sutkus - Hoje em dia, a fronteira entre o conceito de cidade e província está desaparecendo. Todas as informações são acessadas muito facilmente de qualquer parte. Desta forma, só o pensamento pode ser provinciano. É o fato mais desagradável. As pessoas, seja nos grandes centros ou nas cidades pequenas, sempre podem encontrar o que precisam. E mesmo assim, uma cidade pequena no Brasil muitas vezes poderia ser uma metrópole na Lituânia. A necessidade do belo não pode depender do tamanho ou do número de habitantes de uma cidade. A reação às minhas fotografias é sempre muito para mim. E as perguntas mais difíceis me são feitas pelas crianças e não pelos historiadores de arte.

Tal Nitzan - A escolha de um lugar tão único como Tiradentes é outro privilégio das artes: não submeterem-se somente ao “centro”, porém levar o “centro” por onde passem. Alimentar os esfomeados, não os saciados.

Sérgio Rodrigo - Optar por uma cidade do interior favorece numa mobilização geral, o que num contexto de cidade grande tende a se perder, a se dispersar. Um festival deve afetar a rotina da cidade e envolver seus moradores, mas também deve dialogar com eles, buscando colher aprendizagens decorrentes dessa possibilidade de se relacionar em duas vias, de maneira respeitosa e íntima.

Fonte: Sistema FIEMG l Imprensa