
Supostos prejuízos financeiros enfrentados por Costa do Sauípe, a 76 km ao norte de Salvador, desembocaram numa sucessão de rumores sobre a possível venda do complexo. Alexandre Zubaran, presidente do empreendimento, em entrevista à EVENTOS®, nega qualquer especulação nesse sentido. Segundo Zubaran, a PREVI – Fundo de Pensão dos Funcionários do Banco do Brasil, proprietária de Sauípe, nunca colocou em pauta a venda do resort.
Notícias recentemente divulgadas pela imprensa informaram que, desde sua abertura, o complexo não sai do vermelho, somando atualmente um prejuízo de quase um bilhão de reais. Zubaran, no entanto, é enfático ao afirmar que tudo não passa de uma inverdade. "Isso nunca existiu. Sauípe teve um investimento de R$ 300 milhões e uma perda de pouco mais de R$ 10 milhões nos primeiros anos. Desde 2004, estamos tendo saldos positivos na taxa de ocupação e lucratividade. Não existe crise", pontua.
Contrariando a tese de que "onde há fumaça, há fogo", Zubaran tem, na ponta da língua, a justificativa para tantos rumores sobre o resort. "Existe um interesse escuso de alguns por traz de todas essas especulações. Mas eu não posso comentar sobre isso nem entrar em detalhes", alfineta.
Mistérios à parte, a realidade é que Sauípe, mesmo antes de sair do papel, já gerava polêmica. Construído para se tornar um dos maiores pólos de turismo da América Latina, o complexo foi alvo de críticas que perduram até hoje, em virtude do enorme investimento que foi feito para dar vida ao projeto. Segundo a revista Exame, publicada em 9 de abril, o resort, que completa oito anos de vida, ainda não consegue caminhar com as próprias pernas e está longe de emplacar como destino turístico internacional. Isso se deve ao fato de que, ainda baseado na revista, apenas 50% dos hóspedes de Sauípe são estrangeiros, o que torna o empreendimento vulnerável às oscilações e sazonalidades da economia brasileira.
Zubaran nega veementemente todas as informações publicadas na revista. Para ele o fato da predominância de visitantes que freqüentam o resort ser brasileira nada tem haver com uma ínfima divulgação do complexo no exterior, ou mesmo a dificuldades de venda do empreendimento fora do país. "O que aconteceu foi que, em função da grande queda do dólar, todos os empreendimentos se voltaram para o mercado nacional. As tarifas nesta moeda tiveram perdas superiores a 30%, obrigando o desvio do foco para o mercado interno", esmiúça.
A verdade, no entanto, é que a Previ ao desenvolver o projeto de Sauípe prestou um enorme serviço ao país, abrindo as portas para a implantação de outros mega projetos no Nordeste, que nestes anos vêm se constituindo num grande pólo de atração de investimentos portugueses, espanhóis e, mais recentemente, americanos e italianos. O pioneirismo da operação de um mega resort, numa região desprovida de recursos e experiência resultou nos problemas enfrentados inicialmente, que aos poucos foram sendo resolvidos, redundando nos últimos anos numa operação vitoriosa.
Saída do complexo
A primeira rede hoteleira a deixar Sauípe foi a Accor, que administrava os Hotéis Sofitel Suítes e Sofitel Costa. No último dia 26 de março foi a vez da americana Marriott anunciar sua saída do complexo. A partir de junho Sauípe vai tomar para si a responsabilidade de administrar os hotéis deixados pelo grupo – Renaissance e Marriott – assim como fez com aqueles deixados pela Accor.
Com a despedida das duas redes ficam ainda no empreendimento a jamaicana SuperClub Breezes, com um hotel, e o grupo português Pestana, que administra as seis pousadas. Zubaran não quis comentar o motivo da saída do grupo, mas adiantou que foi um consenso de ambas as partes, em beneficio tanto dos acionistas, quando do resort.
Em seus primeiros anos na presidência do empreendimento, Alexandre Zubaran levantou as necessidades do empreendimento e, em seguida, procurou implementar um novo modelo de gestão, privilegiando uma relação custo x beneficio mais adequada, que permitisse, inclusive, aumentar a qualidade e a visibilidade do empreendimento. A não concordância com as alterações propostas, especula-se no mercado, teria levado as duas redes a deixar Sauípe. O importante, segundo Zubaran, é que apesar de, após ter assumido a operação dos dois hotéis, suas taxas de ocupação terem diminuído no primeiro momento e, mais recentemente, tido um ligeiro aumento, a rentabilidade dos hotéis aumentaram significativamente, "o que confirma o acerto do novo modelo de negócio".
Quem conhece o mercado hoteleiro sabe da importância de um constante investimento no aprimoramento do produto sob pena do mesmo, apesar de sua qualidade, acabar obsoleta (vide Meridien e Glória no Rio de Janeiro e Mofarrej, em São Paulo – empreendimentos cujo processo deteriorização obrigou ao fechamento para uma completa reforma). A questão que se coloca, portanto, é do interesse da Previ realizar os investimentos necessários para que Sauípe se posicione à altura dos grandes "players" internacionais, com os quais concorre.
Com a perspectiva da Costa dos Coqueiros ter uma oferta, nos próximos anos, de mais de 10.000 apartamentos, a concorrência se tornará autofágica se não ocorrerem fortes investimentos que gerem novas demandas, a exemplo, da construção de um grande centro de convenções que coloque a região no circuito internacional dos grandes congressos e eventos mundiais.
Quem sair na frente beberá água limpa. E Sauípe tem todas as condições de ser a grande vitoriosa nesse processo, desmentindo opiniões como a do presidente da ABAV, Carlos Alberto Ferreira, que em entrevista à mesma Exame, afirmou que "a força da Previ para alavancar Sauípe é zero, já que o fundo não nenhuma experiência no ramo".
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