Panorama ABEAR chega à 3ª edição ampliado, abordando 17 temas do setor aéreo

Estudo acompanha e analisa a evolução da aviação brasileira em perspectiva global

Tarifas em queda, em oposição à evolução da taxa de inflação do país e dos custos de operação das empresas, desde o fim da regulação pública de preços. Transferência dos ganhos de produtividade, com melhorias na qualidade dos serviços, com pontualidade e segurança em linha com mercados de referência, na medida em que se aprimora a infraestrutura nacional. Um grande potencial de desenvolvimento, que pode se deslocar do eixo dos principais polos econômicos, nos quais ainda se concentram as operações, e ser plenamente realizado em função da continuidade de investimentos no setor. Mas que depende também do próprio progresso econômico nacional. Esse é o retrato da aviação brasileira revelado pelo Panorama 2014, publicado pela Associação Brasileira das Empresas Aéreas (ABEAR), disponível a partir de hoje para consulta e download no site da entidade.

“Com o Panorama, vamos além de um anuário tradicional e oferecemos publicamente um estudo de inteligência, alvo de intensa pesquisa de nossa equipe. Mostramos os resultados concretos e benefícios dessa indústria de alta tecnologia no Brasil, inclusive derrubando alguns mitos”, nota o presidente da ABEAR, Eduardo Sanovicz. “É um trabalho cuidadoso, voltado para o mercado e para a academia, mas também fonte de consulta para a mídia e agentes públicos, além de todos os que têm interesse no setor”.

Em comparação à primeira edição, de 2012, o Panorama 2014 está mais abrangente e aprofundado: dobrou o número de páginas e passou das sete seções iniciais para 17 grandes temas. Foi ampliada a ênfase na qualidade dos serviços prestados pelas companhias aéreas brasileiras, em perspectiva com os índices de outros mercados internacionais de destaque.

Maurício Emboaba, consultor-técnico da ABEAR e especialista à frente da publicação, dá detalhes do trabalho. “Usamos dados de fontes públicas e de credibilidade. Eles são processados para trazer informações relevantes. Por exemplo, usamos os dados que as próprias companhias enviam para a ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil), que os compila em um gigantesco database, e fazemos as análises em cima da fonte oficial. Também reunimos informações dos fabricantes de aeronaves e entidades como OACI (Organização Internacional de Aviação Civil), IATA (Associação Internacional de Transporte Aéreo) e DOT (Departamento de Transportes do Estados Unidos), entre outras. A cada ano incorporamos mais fontes para buscar novos pontos de vista e elementos de pesquisa”, relata o consultor.

PANORAMA 2014 – DESTAQUES

Em Panorama 2014 está dividido em 17 seções que explicam a competitividade no setor aéreo, apresentam estatísticas operacionais, de frotas e funcionários das companhias, trazem indicadores de qualidade dos serviços prestados, registram a oferta, demanda e market share das empresas para os segmentos de passageiros e cargas, avaliam o grau de concentração de mercado e de penetração do transporte aéreo em perspectiva global, identificam os principais eixos de realização das operações, revelam os níveis de segurança de voo, apontam dados de consumo de combustível e impactos ambientais, analisam indicadores de eficiência operacional, a evolução de custos do setor e preços praticados e informam o papel da aviação no sistema de saúde pela iniciativa de transporte voluntário de órgãos para transplante.

Confira a seguir alguns dos principais destaques dessa edição:

Pontualidade e razões de atraso

A pontualidade média dos voos domésticos no Brasil (critério de 15 minutos de variação em relação ao horário programado, o mesmo adotado pelo DOT) passou de 84%, em 2013, para 85%, em 2014, superando o índice dos EUA, onde o indicador observado foi 79% e 78% em 2013 e 2014, respectivamente.


Nas situações em que houve impontualidade, o Panorama 2014 separa as razões sob reponsabilidade das operadoras (ou seja, dentro do controle das companhias, como problemas de manutenção ou da tripulação, limpeza de aeronaves, carregamento de bagagem, abastecimento etc.), do sistema aeronáutico (um amplo conjunto circunstâncias, sob a gestão de diversos atores, como condições meteorológicas extremas, operações aeroportuárias, volume de tráfego pesado e controle de tráfego aéreo) ou segurança (dificuldades nas inspeções de passageiros ou bagagens, por exemplo), além de outros fatores diversos.

Essa análise mostra que, em 2014, de todos os atrasos apurados, 19% foram de responsabilidade exclusiva das companhias. Por outro lado, 72% foram decorrentes de problemas no sistema aeronáutico; 2% foram atribuíveis à segurança e 7% a outras causas.


Manuseio de bagagens

Da mesma forma que no ano anterior, o desempenho das empresas ABEAR foi em 2014 de 3,1 ocorrências por mil passageiros embarcados. Ou seja, menos da metade da média mundial (7,1 ocorrências por mil passageiros embarcados), equivalente ao verificado na América do Norte e muito melhor do que o apurado na Europa.

Para a análise dos dados do Brasil, como o universo de registros é muito pequeno em relação à base global, são utilizados os dados da ANAC de período anuais acumulados a partir de 2008. A estatística nacional, de 1,5 acidente por milhão de decolagens, mostra que o desempenho das empresas brasileiras segue os melhores padrões mundiais de segurança.


Atendimento nos aeroportos

O Panorama deu uma nova leitura aos resultados da pesquisa trimestral de satisfação quanto aos serviços prestados nos aeroportos, conduzida pela Secretaria de Aviação Civil. Os 48 indicadores avaliados por entrevistas com 13 mil passageiros domésticos internacionais que circularam em aeroportos envolvidos com a realização da Copa do Mundo foram agrupados para que se pudesse ter uma noção geral da qualidade dos serviços de cada um dos prestadores.

A compilação revela que o grau de satisfação com relação aos serviços prestados pelas empresas aéreas é alto, com nota 4,09 (na escala de 1 a 5). Os serviços dos órgãos públicos tiveram avaliação de 4,29, os serviços operacionais dos administradores aeroportuários ganharam nota 3,99, o transporte público foi avaliado com nota 3,97 e os serviços comerciais nas dependências dos aeroportos tiveram nota 3,29.










Evolução do PIB, Demanda e Yield Domésticos

Utilizando dados disponíveis desde a década de 1970 até 2014 e aplicando análises econométricas, o Panorama 2014 revela o gradual amadurecimento do mercado doméstico brasileiro de aviação nas relações de elasticidade entre a demanda do setor, preços praticados e o Produto Interno Bruto Nacional. Esse amadurecimento é percebido pela relação mais direta, de um para um, típica dos mercados mais desenvolvidos, entre os indicadores a partir da liberalização do mercado com o fim do controle público de tarifas.

Outro aspecto relevante é a tendência persistente de queda do yield (tarifa média paga pelos passageiros por quilômetro voado) no transporte aéreo doméstico no Brasil. Com valores corrigidos aos níveis de 2014, o yield doméstico caiu de R$0,8003 em 1970 para R$0,2377 em 2014, uma queda média de 2,7% ao ano, ou acima de 70% no período de 45 anos. Essa taxa anual corresponde às médias históricas do setor, considerado mundialmente, e se aproxima dos aumentos médios de eficiência da indústria decorrentes do avanço tecnológico das aeronaves e dos sistemas operacionais, além da maior produtividade dos operadores. Vale notar que a maior queda do yield ocorreu a partir de 2002 (ano da liberalização tarifária). Desde então até 2014 a taxa média de queda anual do yield foi de 6,76% ao ano, ou 57% em 12 anos.


Segurança de Voo

O Panorama 2014 coloca a segurança da aviação comercial no Brasil em perspectiva de comparação mundial. Para o cenário global, como a base de registros é muito volumosa, incluindo as operações das companhias aéreas em todo o mundo, é utilizado o relatório da OACI do ano 2014. Consideradas as diferentes regiões que compõem o estudo, o índice mundial apontado é de 2,8 acidentes por milhão de decolagens.







Eficiência Operacional

Uma das novas seções do Panorama 2014 deixa claro como o longo período de falta de investimentos da infraestrutura aeronáutica vem penalizando a aviação nacional desde a liberalização do mercado, que possibilitou o grande crescimento do número de passageiros transportados, expondo gargalos. O fato é evidenciado usando como referência os cálculos dos fabricantes de aeronaves das distâncias médias cumpríveis em uma hora de voo em circunstâncias ideais de sistema (sem interferências meteorológicas ou congestionamentos no ar ou em terra, por exemplo, entre outros fatores).

A análise mostra que, a partir de 2005, os dados operacionais reais registrados pelas companhias aéreas associadas começaram a se afastar dos parâmetros de referência dos fabricantes até, a partir de 2011, se estabilizarem em um patamar de 11%. Esse descolamento pode ser traduzido por ineficiência – não se voa tudo aquilo que se poderia voar em uma hora de operação –, incorrendo em desperdícios como maior gasto de combustível, maior impacto ambiental, utilização desnecessária das tripulações, desgaste adicional de equipamentos, entre outros. A título de comparação, a trajetória brasileira é apresentada juntamente com a do mercado norte-americano, considerado como referência pela infraestrutura abundante, e no qual as defasagens variam consistentemente em apenas 1% ao longo do tempo.

Vale observar que o período em análise não reflete ainda totalmente a retomada dos investimentos na infraestrutura aeronáutica nacional e no aprimoramento de processos, seja com melhorias no desenho de rotas, controle de tráfego aéreo ou construção e reforma de aeroportos, com o início do processo de concessão dos terminais brasileiros, que trazem uma perspectiva de diminuição do gap operacional. Os indícios dessas melhorias já aparecem, por outro lado, na melhoria da pontualidade das companhias aéreas.


Fonte: Assessoria