Hoje quero conversar com você sobre os 100 anos do Copa e e a importância da família Guinle...
Falar no “Copa” é iniciar meu texto, com uma reverência aos Guinle. O emblemático hotel foi construído em 1923 por Otávio Guinle e projetado pelo arquiteto Joseph Gire, se tornando um dos maiores ícones do Rio, com o Pão de Açúcar e o Corcovado, além de estar presente no imaginário dos que sonham com hotéis, que hospedam grandes personalidades e se caracterizam pela imponente construção.
Sim,ali se hospedaram Lady Di e o atual monarca britânico, Walt Disney, Mick Jagger, Franco Zefirelli, Henry Fonda... para citar apenas alguns.
O mais apropriado livro sobre o hotel, escrito por Ricardo Boechat, amigo da família, traz muitas curiosidades e fotos lindíssimas.
Devemos, sem dúvida alguma, a D.Mariazinha Guinle e a seu filho José Eduardo uma gratidão imensurável, pela forma como contribuíram para inovar a hotelaria carioca e sobretudo ajudar o Rio, colocando o Copacabana Palace, gratuitamente, à disposição para eventos, promoções e revoluções silenciosas de amor incondicional a Cidade Maravilhosa.
Conheci Zé Eduardo, como era carinhosamente conhecido pelos amigos, quando presidiu a AHT - Associação de Hotéis de Turismo, que congregava os 4 e 5 estrelas. Vi nascer o Convention Bureau, a Deat, o BPTUR, como inovações efetivas de uma cidade que precisava se renovar.
Foi então que comecei a frequentar o Copa. Tinha uma carteirinha para usar a piscina e a academia. Em algumas manhãs, encontrava D.Mariazinha circulando pelo hotel, para checar todas as fases da operação glamorosa e grandiosa de um grupo de colaboradores que se empenhava em fazer da estadia de cada hospede, uma experiência única. Inúmeras vezes, me convidou para tomar café da manhã e trocávamos ideias sobre projetos em prol do Rio, que à época desenvolvia na Riotur. Ela e seu filho tinham uma atenção especial comigo,como se fosse da família.
Não posso esquecer quando fui convidado para me hospedar na suíte presidencial. Foi um dia de príncipe, com um acolhimento dos que trazem no sangue a arte de servir.
Talvez,poucos sabem mas foi a mãe o filho que contrataram Ricardo Amaral ,para iniciar um dos mais famosos Réveillons do mundo - o da praia de Copacabana, que teve início no Copa, com fogos de artifício. Me lembro, como se fosse ontem, a suntuosidade do espetáculo e a forma como ajudava, e ainda o faz, na promoção institucional do Rio.
Me tornei um amigo, acredito, de José Eduardo e vi em nossa relação um apoio a projetos como o programa de capacitação turística para as forças de segurança do Rio, por exemplo, que criei e manteve acesa a formula de apoio constante aos integrantes da Segurança Turística. Mais tarde, fui assessor especial na Riotur e Secretaria de Turismo do Zé Eduardo, que conduziu com respeito e criatividade os rumos do turismo carioca.
Um projeto também criado na gestão do ex prefeito Saturnino Braga, os Embaixadores do Rio teve o apoio decisivo dos Guinle, com lindas festas no Golden Room, que marcaram a caminhada de uma das mais importantes formas de promover o Rio, quando a Riotur era presidida por Alfredo Laufer.
O Rio de Janeiro tem uma dívida com os herdeiros dos gestores aqui mencionados, que já se foram. Não posso deixar de mencionar os inúmeros almoços e jantares oferecidos no Copa, com uma certeza de que queriam fortalecer sempre o Rio.
O hotel sempre manteve um código de ética de nunca revelar excentricidades de seus mais importantes hospedes e nunca divulgar em colunas que haviam escolhido o hotel. Astros que destruíram suas suítes, como Alice Cooper, vieram à tona no livro de Boechat. Até Rod Stewart foi convidado a se retirar por disputar uma partida de futebol na suíte presidencial. Num dos meus aniversários, no Pergula, um estrelado carioca, lembro de D.Mariazinha tentando resolver uma pendência com uma socialite hospedada, que queria fazer topless.
Com a venda do hotel para o grupo Orient Express, hoje Belmond, pertencente a holding LVHM em 1989, parte das instalações foram modernizadas. Philip Carruthers, o executivo que tomou conta do Copa, imprimiu um novo jeito de gerenciar, tenha deixado a marca de um especialista que conseguiu manter o estabelecimento em pé e com bons resultados comerciais.
O Hotel começa então a perder sua carioquice e a forma gentil e delicada de se relacionar com o Rio de Janeiro. Os eventos passam a um formato diferente, voltados para um publico que não era habitué do hotel e que usava sua ida, para um upgrade social, com blocos e bailes já descaracterizados.
Aos poucos o hotel foi perdendo sua alma e se transformando em mais um do segmento de luxo, com colaboradores nem sempre bem qualificados e uma falta de atualização tecnológica e até nos pesados uniformes e em preços fora da realidade em serviços ofertados. Copacabana ganha novos hotéis do mesmo universo, preocupados em oferecer experiências atuais de estadia.
Quando o hotel completa 100 anos, me dou conta de como a administração Guinle faz falta. Sei que ninguém é insubstituível, mas o legado de José Eduardo, que atuou como consultor nos últimos anos, traz um formato de administrar com a razão, mas com o coração presente e encantado.
A recente reforma da piscina, com um amontoado de cadeiras, estabelece um conceito diferente. Fora alguns móveis nos salões internos que merecem ser substituídos. São Novos Tempos! Não é o Copa que conheci e que tenho saudades até hoje mas que torço para que continue no cenário carioca, como um ícone da gratidão que o Rio deverá ter eternamente com a família Guinle.
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