Mulheres no mercado de trabalho: painel discute respeito aos ciclos femininos e aponta caminhos para mudanças culturais

Apresentação destaca a importância de reconhecer a menstruação, a maternidade e a menopausa como marcos que demandam mais empatia, políticas inclusivas e transformação no ambiente corporativo
Débora Veviani e Fê Carvalho Leite durante painel sobre os ciclos femininos no trabalho

Como respeitar as fases da vida das mulheres no mercado de trabalho? Essa foi a provocação central do painel “Mulheres no mercado de trabalho: o respeito necessário em seus ciclos de vida”, realizado durante o Fórum Eventos. A conversa foi conduzida por Fê Carvalho Leite, pesquisadora de comportamento com passagens por marcas como Coca-Cola, Farm, Nike e L'Oréal, e por Débora Veviani, doutora em Comunicação e Cultura (UFRJ) e analista cultural com mais de uma década de experiência.

O ponto de partida foi a pesquisa “Novas Mulheres: um estudo sobre maturidade e menopausa”, realizada pelas palestrantes em 2022. O estudo ouviu mulheres das classes ABC, com mais de 45 anos, residentes em São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre, que estavam vivendo o climatério. A pesquisa propôs um olhar sensível e realista sobre os marcos femininos mais citados pelas entrevistadas: puberdade, início da vida sexual, maternidade e menopausa.

Segundo Fê Carvalho Leite, também palestrante do TEDxPUC-Rio e especialista em tendências culturais, a menstruação, mesmo sendo uma experiência recorrente, ainda é um tema delicado no meio corporativo. “A licença menstrual tem sido discutida tanto no Brasil quanto em outros países. Por aqui, não há uma legislação federal que a garanta, embora projetos de lei estejam em tramitação. Em países como Japão e Espanha, essa política já é realidade, embora pouco conhecida”, pontua.

Débora abordou a maternidade a partir de uma pergunta de impacto: “Qual o efeito da maternidade na carreira das mulheres?” De acordo com os dados da pesquisa, mães seguem sendo penalizadas profissionalmente. Cerca de 24% deixam o emprego no primeiro ano após o nascimento do filho; 15% continuam fora do mercado dez anos depois. Já 42% saem do trabalho logo após o parto, e 35% permanecem afastadas durante uma década.

Apesar dos números, a pesquisadora trouxe exemplos positivos de acolhimento à parentalidade, como a iniciativa Maternidade nas Empresas, a Rede Mulher Empreendedora e a B2Mamy, todas lideradas por mulheres e focadas em soluções para os desafios da jornada feminina.

Um dado revelador citado durante o painel veio do IBGE: pela primeira vez na história, o número de grávidas acima dos 40 anos superou o de adolescentes gestantes, de acordo com dados do estudo Estatísticas de Gênero, de 2023. O mesmo estudo também indicou uma queda de 13% na média de filhos por mulher entre 2018 e 2023.

Menopausa: o vilão invisível

O painel também trouxe à tona dados sobre a menopausa. Segundo as palestrantes, até 2025, mais de 1,1 bilhão de mulheres estarão na pós-menopausa no mundo. Fê relembra que, na década de 1950, a expectativa de vida das mulheres era de cerca de 50 anos, ou seja, a menopausa coincidia com o fim da vida. Em 2019, essa média subiu para 80 anos, tornando esse ciclo um marco da segunda metade da existência.

Outro ponto destacado foi o conceito da “janela de vulnerabilidade”, período pós-menstrual em que aumenta a incidência de quadros depressivos. A menopausa, explicou Fê, costuma ocorrer justamente quando muitas mulheres estão no auge de suas carreiras, mas também é nesse momento que muitas se desligam do mercado. “O impacto profissional é enorme, repleto de microagressões. As pessoas não entendem os efeitos desse ciclo e ridicularizam as mulheres”, afirmou.

Como forma de mitigar esse cenário, a Sociedade Internacional da Menopausa lançou, no ano passado, um guia para empregadores com orientações de acolhimento. Entre as recomendações estão: ações educativas, flexibilização de horários, suporte em saúde e inclusão de políticas específicas.

O painel foi marcado por escuta ativa e participação engajada do público. Ao final, ficou o convite à reflexão e à ação: respeitar os ciclos femininos é também reinventar o trabalho como espaço de cuidado, dignidade e transformação social.

Tivemos muitos avanços sociais, mas ainda há uma construção patriarcal persistente. As mulheres caminharam, mas continuam sendo colocadas no papel de cuidadoras, o que as empurra para um ostracismo cultural. Ao mesmo tempo, vemos muitas reagindo, estudando, se reconectando com o corpo e produzindo criativamente”, concluiu Fê.

O Fórum Eventos 2025 segue até o dia 20 de maio, no Transamérica Expo Center, em São Paulo. Mais informações em: www.forumeventos.net

Utilizamos cookies essenciais e tecnologias semelhantes de acordo com a nossa Política de Privacidade e, ao continuar navegando, você concorda com estas condições.