Na atualidade, independente de qual seja a tipologia de eventos, a busca pelo conhecimento, pelo aprendizado e sobretudo pela experiência em deparar-se com algo novo, útil e interessante, vem sendo considerada o estratagema para o sucesso do projeto.
Ficou óbvio convidar aqueles que são a referência em seu segmento ou então convidar aquele que virou o que chamamos de forma sarcástica de “arroz de festa”, pois está em todas as programações dos eventos de sua área, o que em algum momento pode até gerar uma certa credibilidade, mas ao ter sua participação analisada de forma mais aprofundada, soa como algo “requentado” ou simplesmente concebe uma sensação de pleno “dejà-vu”.
É preciso pensar de forma muito sagaz a construção do temário, seus subtemas e quem serão os atores que irão concretizar a performance de transmissão e o que mais queremos, de encantamento de seu público. E esse é uma das principais tarefas de um curador dedicado ao conteúdo em evento.
Muita pesquisa, muita averiguação, muitos contatos, muitas horas frente as mídias sociais, depurando materiais e checando informações, pois em época de pós-verdades, é muito comprometedor a falta de integridade de muitos que no alto de suas vaidades e por que não dizer desonestidade, já que lhes autopremiam, se outorgam títulos e vivências imaginárias, na tentativa de se projetarem e terem seus quinze minutos de fama.
Um dos trabalhos que mais tenho sido requisitada, principalmente por minha vertente acadêmica e pelo vasto networking que construí ao longo de décadas de mercado, é a curadoria de conteúdo em eventos.
Mas ainda tem gente que acredita que é um investimento que pode ser absorvido pela equipe organizadora do evento e por isso mesmo considera até não prioritário esse tipo de contratação... Só podemos lastimar, quem pensa assim.
Pois a curadoria, não evoca só realizar as pesquisas e indicações, tem toda a tratativa, as negociações, o acolhimento, as providências solicitadas, logística de participação, enfim, provém o relacionamento, sendo o intermediador da comissão organizadora com o key note speaker/atração.
Inclusive em questões que demandam uma gestão de crise, como é o caso que está nos noticiários e que culminou com a equipe de curadoria de um evento declinando de seu posto, após uma situação delicada ocorrida.
A organização da Festa Litero Musical (Flim), tradicional evento literário realizado em São José dos Campos, anunciou na noite desta quarta-feira (17) que decidiu adiar o evento deste ano, que estava previsto para ter início na próxima sexta-feira (19). A nova data ainda não foi definida.
O anúncio de adiamento ocorreu após o prefeito da cidade vetar a participação da jornalista e escritora Milly Lacombe na feira. Com o veto, houve uma onda de cancelamentos dos participantes convidados para a FLIM, que desistiram do evento ao apontar censura, e, como forma de apoiar Lacombe diante do ocorrido.
O Prefeito de São José mandou cancelar a participação da jornalista no evento após a repercussão de declarações dadas por ela ao podcast “Louva a Deusa”, no fim de julho deste ano. No episódio, ela fez críticas ao conceito de família tradicional, mas o recorte feito sem a devida contextualização foi considerado ofensivo na ótica dos gestores públicos que financiam o evento.
Alegando censura e desrespeito, o jornalista e escritor Xico Sá e a própria equipe de curadoria da FLIM anunciaram, na noite da última terça-feira (16), que abandonaram os trabalhos à frente da festa literária em São José dos Campos. Já nesta quarta-feira, aos menos 16 convidados da FLIM anunciaram que cancelaram a participação na Flim, o que acabou provocando o adiamento do evento.
Soa até surreal, o tema da 11ª FLIM que trazia o conceito de Ubuntu — eu sou porque nós somos — como ponto de partida para lembrar que nossa existência não se sustenta sozinha: é sempre na relação com o outro que nos constituímos. Somos por meio de outros e de outras. Ontem, hoje e amanhã.
Em tempos de isolamento, desigualdade e rupturas, esta edição tinha como proposta o contrário: pensar a coletividade como fundamento.
Certamente tudo foi discutido, validado e homologado pelos envolvidos. Os nomes foram meticulosamente escolhidos, cientes de seus posicionamentos e perfis.
Identificar problemáticas às vésperas do evento com relação aos convidados e não estar abertos para um canal dialogal importante, demonstra que o tema era muito bom, mas não factível para os anseios e objetivos dos promotores.
Não dá para ser algo se não o é!
A curadoria tem que ter alinhamento com tais premissas e não pode ser desrespeitada, já que é uma construção em parceria com os organizadores e promotores.
Em cenários de polarização, de nervos à flor da pele, ser agente de espaços para debates saudáveis e diferentes é o caminho para uma sociedade na qual a civilidade impere.
Há sempre dois lados da moeda e apresentar ambos é sinal de empatia e senso de diplomacia.
Ao final, o público é quem irá decidir o que lhe mais convém e se identifica.
E nesse caso, com o ti-ti-ti, cancelamento e adiamento, a perda real, foi de todos nós!
Torcendo para que a 11º edição seja logo anunciada e comissão organizadora, promotora e curadoria consigam apaziguar os ânimos e buscar entendimentos em prol de todos!

Comentários