Futuro, ESG e experiências humanas marcam debates no Meeting Festuris 2025

O encontro reuniu especialistas, autoridades e personalidades como a ex-ginasta Daiane dos Santos e o filósofo Luiz Felipe Pondé que discutiram inovação, comportamento e os caminhos do turismo mundial em dois dias de palestras e trocas de ideias
Marta Rossi, Priscila Bentes e Eduardo Zorzanello no palco Meeting Festuris

O Meeting Festuris 2025, realizado nos dias 7 e 8 de novembro, no Serra Park, em Gramado (RS), reuniu centenas de profissionais e especialistas do setor em torno de um tema comum: o futuro do turismo e o papel das pessoas em meio às transformações tecnológicas, sociais e ambientais. Ao longo dos dois dias de programação, o evento apresentou reflexões sobre sustentabilidade, inteligência artificial, hospitalidade, comportamento humano e o poder das experiências que conectam viajantes e destinos.

O futuro do turismo com identidade e propósito

O primeiro dia do Meeting contou com a presença de cerca de 800 participantes e foi aberto com uma discussão sobre o futuro do turismo e a importância de valorizar as singularidades de cada destino. O arquiteto e urbanista Leônidas Oliveira e o secretário de Turismo do Rio Grande do Sul, Ronaldo Santini, destacaram o papel das vivências culturais na construção de experiências autênticas. “Viajar é compreender e dar sentido à sua existência a partir da experiência da sua viagem”, afirmou Oliveira. Santini, por sua vez, exaltou o chimarrão como símbolo da identidade gaúcha, lembrando que “Não é só um chá, é um ritual. Aquilo que muitas vezes escondemos por vergonha passou a ser nosso maior ativo turístico", defendeu.

A manhã também foi marcada por palestras que destacaram como a hospitalidade da rede hoteleira pode impactar positivamente a experiência dos turistas, movimentando o setor econômico de um município. Para falar sobre o assunto, o palco recebeu Cris Mors, diretora de Vendas e Marketing da Rede Laghetto, e Michel Daros, presidente da Associação Brasileira de Turismo Social (Abrastur).

O Turismo Social, conceito que prevê a democratização das viagens e a promoção do acesso ao turismo e lazer para todas as camadas da sociedade, tem impulsionado modelos de negócios combinando inteligência de dados e tecnologia de forma estratégica para fortalecer o setor que deve movimentar mais de meio bilhão de reais no Brasil ao longo de 2025. “Contando com inteligência de dados e com parceiros que atuam em sinergia de propósito, nosso modelo de negócios se mantém firme no propósito de atender mutuamente o assinante que busca viabilizar os seus sonhos de viagem com diárias mais competitivas e a rede hoteleira, a partir de uma maior previsibilidade das ocupações”, afirmou.

Segundo dados da entidade, somente em 2025, o Turismo Social será responsável pela utilização de dois milhões de diárias no Brasil e pelo movimento de mais de R$ 500 milhões. “O Turismo Social, através dos modelos de assinatura de viagens, é um modelo que conecta propósito e resultado econômico. Todos esses movimentos em cadeia democratizam o turismo, geram maior engajamento e fidelização por partes dos diferentes atores, aquecendo o mercado, gerando emprego e desenvolvendo as comunidades”, explicou Daros.

Tecnologia com presença humana

Daiane dos Santos, influenciadora esportiva

Com mediação de Lu Thomé, um dos destaques do primeiro dia do palco Meeting Festuris foi o bate-papo inspirador com Daiane dos Santos, campeã mundial de ginástica artística, que emocionou o público ao refletir sobre representatividade, oportunidades e o papel humano nas experiências turísticas e sociais. “Nossas experiências são feitas por gente. Ao falar em experiência, estou falando de pessoas, de contato, de memórias”, disse.

A influenciadora esportiva destacou a importância de levar chances reais às comunidades, lembrando que sua trajetória foi transformada pela educação, pelo esporte e pelo privilégio de ter a presença constante dos pais ao seu lado. Defendeu a necessidade de preparar equipes para acolher com empatia e respeito pessoas negras e os povos originários, garantindo pertencimento e igualdade de acesso aos espaços de cultura, lazer e turismo. Ao falar sobre tecnologia, reforçou que o futuro digital é inevitável, mas que experiências reais nascem do contato humano. Para Daiane, “representatividade sem presença não existe”. 

Daiane dos Santos apontou o amor como o segredo do sucesso e a diversidade no esporte e no turismo como pontos de atenção: “Com o amor, durante a jornada, quando vemos coisas que não são tão boas, seguimos adiante porque aquilo faz sentido para a gente. Mas, sem oportunidades e a inclusão de todas as pessoas, nada disso importa. Como mulher negra e como pessoa negra no Brasil, quando a gente fala de turismo, muitas vezes os espaços não estão preparados para acolher e fazer as pessoas negras, os povos originários, as pessoas diversas em geral, pertenentes desses espaços e desse turismo que a gente tanto deseja. então, hoje, a gente precisa que esses espaços e que essas equipes estejam preparadas, também, para acolher, e bem-receber a diversidade”, afirma. "Esse futuro que tanto queremos reinventar e reimaginar é responsabilidade de cada um de nós", finaliza. 

Ainda no Meeting Festuris, o conselheiro de empresas Roberto Lopes trouxe reflexões sobre o uso responsável da inteligência artificial. “Não viva sem, mas não se torne refém”, alertou, destacando o potencial da IA para otimizar a gestão e personalizar experiências no turismo euquando Aline Miranda, gestora de turismo do Sebrae/SC, também compartilhou a experiência no desenvolvimento de produtos e roteiros turísticos. Como exemplo, apresentou a história da criação da Georrota, localizada na divisa do Rio Grande do Sul com Santa Catarina. “Foi um grande desafio implementar esse roteiro, pois abrange dois estados, sete municípios e mais de 250 empresas”, contou.

Do astroturismo ao turismo sustentável: Destinos e conscientização no setor

Entrega do SeloXIS ao Festuris no palco Meeting

O segundo dia do Meeting ampliou as discussões com foco na sustentabilidade e na inovação. A empresária Priscila Bentes apresentou o SeloXIS, certificação ESG voltada ao turismo responsável, que já reconhece mais de 20 empreendimentos e foi entregue oficialmente ao próprio Festuris. “Criamos o selo para garantir que as futuras gerações possam conhecer a mesma Amazônia e Jericoacoara que conhecemos hoje”, destacou.

Outro destaque foi a participação de Diego José Baeza Martignago, da Subsecretaria de Turismo do Chile, que encantou o público ao apresentar os roteiros de astroturismo do país, onde o céu limpo e as condições geográficas únicas possibilitam experiências de observação estelar em mais de 40 observatórios.

A diretora de Turismo de Luxo da Matueté, Gabriela Figueiredo, abordou o novo papel do agente de viagens, agora visto como travel designer, um profissional que gerencia o tempo e as experiências do viajante. “Hoje, o tempo livre é o bem mais valioso que temos — e cabe ao travel designer transformá-lo em experiências significativas”, explicou. Já o especialista em inovação Luiz Candreva provocou o público ao afirmar que “o futuro não é um lugar distante, mas algo que se constrói agora”. Para ele, a inteligência artificial já atua como “copiloto da humanidade”, e as profissões do futuro serão aquelas voltadas à resolução de problemas complexos.

O filósofo Luiz Felipe Pondé

Encerrando o evento, o filósofo Luiz Felipe Pondé fez uma análise profunda sobre as mudanças sociais que moldam o comportamento humano e o turismo. Ele argumentou que o futuro não surge de previsões idealizadas, mas do que já está acontecendo. “O século XXI não trará milagres, mas o desdobramento do que já está posto diante de nós”, afirmou. Pondé também destacou que a queda da natalidade, a ascensão das mulheres no mercado e a transformação dos meios de comunicação são fatores reais que redefinem o modo de viver e viajar.

Durante os dois dias, o Meeting Festuris reafirmou seu papel como espaço de reflexão e inspiração, conectando líderes, pensadores e profissionais que acreditam em um turismo mais humano, sustentável e inovador — onde o futuro é construído a cada experiência vivida no presente.