Fórum discutiu inquietudes e proposições dos megaeventos

Com base em pesquisas recentes da Revista Meio & Mensagem 98% da população brasileira, isto em 2013 e 2014, acredita no superfaturamento e corrupção.



Imagina na Copa? A frase jargão dita pelos brasileiros nos últimos meses para expressar a insatisfação com os gastos públicos e os problemas de infraestrutura no país também foi tema de destaque nas palestras realizadas pelo Fórum Eventos 2014. Alfredo Carvalho, diretor da Sport Promotion, apresentou um estudo realizado pela Sinaenco (Sindicato da Arquitetura e da Engenharia) sobre os 12 estádios construídos especialmente para o campeonato mundial. Segundo ele, foram necessários R$ 8 bilhões, 287% superior ao previsto em 2007. Oito deles tiveram erros de planejamento financeiros superiores a 20%, sendo a média de custo relativo a cada arena, de R$ 370 milhões, em 2009, para R$ 667,8 milhões, em 2013.

Com base em pesquisas recentes da Revista Meio & Mensagem 98% da população, isto em 2013 e 2014, acredita no superfaturamento e corrupção. Se tivesse a chance de decidir, 61% e 75% não faria a Copa no Brasil. Outra curiosidade inquietante apresentada por Carvalho foi a de que o campeonato Potiguar, Amazonense e Mato-grossense, sedes do evento, possuem média inferior a 1 mil pessoas por partida. “A média de ocupação dos estádios na Alemanha é de 95%. O Brasil caiu de 19ª para 31ª posição. Os 61,6% dos espaços não utilizados, equivalem a 7.9 milhões de ingressos ou próximo de R$ 300 milhões para os cofres dos clubes”, apontou o executivo. E ainda, até 2010, todas as Copas juntas consumiram US$ 75 bilhões e, no Brasil, esse consumo individual já atingiu US$ 40 bilhões.

Alfredo ressaltou ainda o alerta da realidade sul-africana. O Estádio Soccer City, em Johannesburgo, é usado somente para Rúgbi e shows; o Green Poin (Cidade do Cabo) possui manutenção de R$ 9 milhões anuais e foi usado somente 12 vezes desde 2010. Já a expectativa de retorno com o turismo era entre US$ 930 milhões e US$ 1,69 bilhões para um fluxo de 450 mil turistas. O resultado foi de U$ 527 milhões dos 309 mil turistas que lá estiveram. Após o evento, o emprego anual diminuiu 4,7% no país, com perda de 627 mil postos formais de trabalho.

Na sequência, José Estevão Cocco, diretor presidente da J.Cocco Sportainment Strategy confessou sempre ter sido um defensor do evento esportivo, do seu legado e oportunidades para pequenas, médias e grandes companhias. “Com o passar do tempo meu entusiasmo foi diminuindo e tive de modificar minhas palestras, apresentando um lado realista e outro otimista. Em 1950, a Copa do Mundo no Brasil foi realizado com o Maracanã inacabado. De lá para cá não aprendemos absolutamente nada. Agora, não adianta chorar sobre o leite derramado”, disse. Nas palavras do diretor, todos os problemas tinham sido previstos em 2009, com muito a se fazer em termos de logística e infraestrutura. “Sabemos que dentro dos estádios faremos um espetáculo maravilhoso, com gente vibrante. Mas preocupante é a imagem do Brasil lá fora”. 

Cocco se mostrou apreensivo ainda com a geração de novos e importantes eventos e a perda de tantos outros. “O público que virá ao Brasil é composto de homens solteiros, eles não serão propagadores do nosso potencial turístico”, ressaltou. O diretor prosseguiu com as críticas ao destacar o terreno fértil para quem quiser falar mal de uma nação e de todas as oportunidades perdidas. “Não entrou dinheiro no país, nós só gastamos. As Fan Fest estarão completamente esvaziadas e os patrocinadores assustados e resistentes em associar suas marcas a um evento que gerou tantos protestos. Espero que seja diferente nas Olimpíadas de 2016”, completou.

Mário Ruggiero, diretor de Desenvolvimento de Novos Negócios da Nielsen Sports, demonstrou outra inquietante pesquisa. Nela, em setembro de 2012, 71% dos brasileiros eram a favor da realização da Copa do Mundo no Brasil. Em dezembro de 2013, pulou para 47%. Cerca de 60% das grandes e importantes patrocinadores ainda não possuem um plano completo de divulgação para o evento. “As oportunidades existem sim, em especial nas categorias de consumo de refrigerantes, cervejas, snacks, biscoitos. A ativação eficaz da marca, comunicação clara e valorização das ações sociais através do investimento no esporte são os fatores chave de sucesso”, avaliou.