Monique Lôbo (Rede Bahia)
Que Salvador tem poucos espaços para a realização de eventos culturais, todo mundo sabe. Essa é uma reclamação recorrente em mesa de bar, fila de bilheteria e reuniões de amigos. Mas o problema se intensificou nos últimos tempos depois que alguns dos principais endereços onde eram realizados shows e espetáculos foram fechados. Se já existia um déficit, ele se tornou ainda maior.
Em janeiro, a Arena já tinha passado pelo mesmo problema, devido a uma liminar que impedia a realização de shows até que fossem adotadas providências de isolamento acústico.
Queixas
Ela não está sozinha no coro dos insatisfeitos. Dalmo Peres, diretor da produtora Caderno 2, também lamenta a carência de locais para eventos culturais. “Eu acho que Salvador está bastante defasada nessa questão. No Nordeste, existem exemplos melhores em Recife e Fortaleza, por exemplo. E não era para ser assim, já que Salvador é uma cidade muito importante para o Nordeste”, diz.
Para o maestro Ricardo Oliveira, diretor-fundador dos Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia (Neojiba), a deficiência fica ainda maior quando se fala do Subúrbio.
Adaptação
Se o cenário é negativo, é preciso buscar alternativas. Por isso, muitos produtores encontraram a saída em outros espaços. O antigo parque aquático Wet’n Wild se tornou uma das principais opções para grandes shows. Com capacidade para 20 mil pessoas, o local é hoje um dos destinos centrais das produções musicais que chegam à cidade.
Outra possibilidade foi criar estruturas de shows em hotéis. O Gran Hotel Stella Maris, por exemplo, tem recebido grandes eventos. “Mas fica muito complicado para a receita cobrir o investimento. Porque tem que investir em estrutura, palco e, além disso, é preciso vender alguns pacotes de apartamentos da ala que fica próxima ao show e que não é comercializada para hóspedes”, esclarece Irá.
Tem ainda quem tente achar locais similares, mas sem o mesmo suporte. O Parque Costa Azul se tornou a alternativa para o projeto Música no Parque, realizado há 12 anos no Parque da Cidade. Já Zelito Miranda levou o Forró no Parque - também realizado no local - , para o Pelourinho.
“É a opção que se encaixa no momento. O nosso projeto não tem muita verba e o Parque Costa Azul já tem um palco, a Concha, vamos ter que complementar a estrutura. Se fôssemos para outro parque, por exemplo, seria complicado”, explica Dalmo, que realiza o Música no Parque.
A possibilidade de reabertura de alguns dos espaços é o único alento para quem depende deles para o fomento de projetos culturais. “Em alguns casos, como o do Parque da Cidade, a gente sabe que é para o bem da população. Mas a população sofre de qualquer jeito porque essa carência aumenta. Mas, pelo menos nesse caso, o sofrimento tem data para terminar”, conclui Dalmo.
Concha Acústica e Parque da Cidade devem reabrir em agosto
A luz no fim do túnel pode estar perto. Isso porque, tanto a Concha Acústica do TCA quanto o Parque da Cidade têm previsão de conclusão das suas reformas no segundo semestre. De acordo com Uelber Reis, diretor de Áreas Verdes, Parques, Jardins Botânicos e Horto - órgão da Secretaria de Cidade Sustentável - a expectativa é que o Parque esteja pronto em agosto. “Vamos ter uma praça com uma das maiores pistas de skate do país, um circuito de slack line e praça de meditação. Vamos inaugurar brinquedos interativos nos parques infantis e estamos ampliando o anfiteatro”, enumera o gestor. Segundo ele, o Anfiteatro Dorival Caymmi dobrará sua capacidade de 1.500 para 3 mil pessoas.
Já o TCA encerra no segundo semestre a primeira etapa de requalificação, que compreende a modernização da Concha. De acordo com a assessoria do TCA, a reforma garantirá mais acessibilidade, novos camarins e backstage, novas estruturas de banheiros, bar, lanchonete e tecnologia de ponta nas áreas de sonorização, iluminação e cenografia. Gerido pela Secretaria de Cultura do Estado, o Bahia Café Hall, por sua vez, passa por estudos e avaliações de manutenção. A intenção do órgão é manter o caráter cultural. O diretor de Bens e Imóveis, da Secretaria da Administração do Estado da Bahia (Saeb), adianta que ainda no próximo semestre serão abertas pautas artísticas para o espaço. A Arena Fonte Nova também reabrirá as portas para espetáculos. Em nota, a arena multiuso garantiu que está autorizada a realizar eventos não esportivos, depois de conquistar uma decisão judicial com efeito suspensivo, concedida em 11 de maio pela desembargadora Dinalva Laranjeira Pimentel, da 2ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Bahia.
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