David Neeleman assina compra da Tap e promete novos destinos para os EUA e Brasil

Dono da Azul Afirmou Que 'nova Tap' Poderá Ter de Oito A Dez Novos Voos Para O Brasil; Frota Será Renovada Com Novos Aviões da Airbus

David Neeleman, o fundador da Azul. O empresário é paulistano de nascimento, porém morou a maior parte da vida nos EUA e também é cidadão americano 

O governo português assinou na manhã desta quarta-feira (24/06) o contrato de venda de 61% do capital da companhia aérea portuguesa TAP para o consórcio Gateway. O contrato foi assinado pelo empresário David Neeleman, dono da Azul, e o sócio português Humberto Pedrosa, do grupo de transportes Barraqueiro.

Durante a cerimônia, Neeleman prometeu expandir as operações com os Estados Unidos, onde prevê dez novas rotas, e também para o Brasil, onde poderia voar para até dez novas cidades. "Vamos expandir muito para os Estados Unidos. Nós achamos que temos muitas oportunidades lá e também no Brasil. Podemos ter mais de dez destinos nos EUA e mais oito ou dez no Brasil. Tem mais 20 destinos. Essa vai ser a nossa história de crescimento", disse durante a cerimônia de assinatura do contrato de compra da estatal na sede do Ministério de Finanças, no centro de Lisboa.

A expansão das rotas da TAP vai, segundo Neeleman, "fortalecer o hub (centro de distribuição de voos) em Portugal". "Nosso consórcio se chama 'Gateway' que quer dizer porta de entrada. Queremos ser a entrada da Europa", afirmou o empresário ao comentar que o contrato exige a permanência do hub português por 30 anos. "O acordo prevê o compromisso de 30 anos, mas falei: puxa, podemos dar 100 anos. Porque esse é o melhor lugar, o melhor povo e melhor produto", disse.

Durante o discurso, Neeleman fez uma série de elogios aos 12 mil empregados da TAP que deixam de ser funcionários de uma empresa pública e passarão a responder a ele e a Pedrosa. Os empregados têm liderado o principal movimento contrário à privatização. "São 12 mil trabalhadores. Vidas dependem dessa empresa. Esse país precisa dessa empresa. Eu só queria dizer para vocês: podem confiar na gente", disse, ao prometer "tratar melhor as pessoas e trazer as melhores aeronaves". "Pode ser a melhor (aérea) da Europa", destacou.

Ao iniciar o discurso em português, Neeleman pediu desculpas à plateia pelo carregado sotaque norte-americano. O empresário se declarou "brasicano" por ter nascido no Brasil e criado nos EUA. "Então, tem essa mistura de português e inglês", disse, arrancando risos da plateia.

53 aeronaves Airbus

David Neeleman também anunciou que a companhia portuguesa comprará no mínimo 53 novos aviões da fabricante europeia Airbus. Os novos modelos permitirão à empresa ter um papel mais importante nas rotas transatlânticas entre Lisboa e os Estados Unidos e o Brasil. A novidade é o uso de aviões menores - de um corredor - entre os dois continentes, o que reduzirá custos para a TAP e ainda permitirá aumento do número de destinos e frequências.

Durante entrevista coletiva após a assinatura do contrato de compra de 61% da aérea portuguesa, Neeleman anunciou o plano com o qual pretende reerguer a empresa que sofre com o aumento da dívida e prejuízos. A ideia é renovar a frota para permitir maior número de voos entre Portugal e os Estados Unidos e o Brasil. Ainda não foi assinado o contrato, mas o consórcio Atlantic Gateway prevê a compra de 14 A330-900NEO - avião de fuselagem larga e dois corredores internos - e 39 aeronaves dos modelos A321NEO e A320NEO - modelos de fuselagem estreita e corredor único.

Com esse plano, foi cancelado o antigo pedido de compra de modelos A350 - avião de fuselagem larga, dois corredores e alcance maior que o A330. A grande novidade desse plano é cruzar o Atlântico com um avião menor: o A321, modelo usado atualmente, por exemplo, pela TAM em rotas domésticas e algumas para a América do Sul. "O A321 nos dará muito mais flexibilidade. A TAP voa para Natal, por exemplo, três vezes por semana. Com o A321, poderá fazer sete vezes por semana", disse. O novo acionista da TAP explicou que a nova versão de longo alcance do A321 tem autonomia para voar entre Lisboa e diversas cidades no Brasil (como Manaus, Belém, Fortaleza, Recife e Salvador) e nos EUA (como Nova York, Boston, Chicago e Washington).

Além disso, o avião também poderá ser usado nas rotas europeias. Em Lisboa, a TAP poderá levar passageiros norte-americanos e brasileiros para outros destinos europeus, especialmente nos países do sul europeu, como Espanha, França e Itália. "E poderemos alcançar cidades secundárias", disse. A intenção do empresário é transformar Lisboa "no melhor centro de distribuição de voos" para a Europa. "Onde o passageiro faz a conexão mais fácil e rápido", explicou. Neeleman explicou que optou pelos modelos porque quer "competir no lado do mundo onde pode fazer dinheiro". A frase faz menção à Europa e às Américas. "Infelizmente, todas as empresas que estão indo para o leste estão tendo problemas com a concorrência com as empresas do Golfo Pérsico. Faremos o lado do mundo em que podemos ganhar dinheiro. Não estamos aqui para queimar dinheiro", disse, ao afirmar que um voo entre Lisboa e a China com o A350 "acabaria com o capital da TAP". "Essa é a realidade", disse.

TAP

Presidente da companhia aérea portuguesa TAP há 15 anos, o brasileiro Fernando Pinto disse que a assinatura do contrato de venda da empresa para o grupo Gateway gera a sensação de "missão cumprida". Apesar disso, o executivo, que já dirigiu a brasileira Varig, não descarta continuar à frente da empresa se os novos acionistas, David Neeleman, dono da Azul, e Humberto Pedrosa, do grupo Barraqueiro, o convidarem.

"Eu vim para a TAP no ano 2000 já com a empresa no caminho da privatização. Na época, com a Swiss Air. Para mim, pessoalmente, é missão cumprida", disse o executivo após a cerimônia de assinatura do contrato de venda da empresa para o consórcio formado por Neeleman e Pedrosa.

Fernando Pinto foi questionado pelos jornalistas sobre o rumor de que poderia permanecer no cargo mesmo após a troca do controle acionário. "Eu sempre falei que a minha missão acabaria quando fizesse a passagem de testemunho. Obviamente, tem todo um processo de transmissão de tudo o que fizemos. A partir daí, vai depender. Eu quero sair da TAP quando perceber que a empresa está no caminho do crescimento", disse.

"A partir daí, depende de me convidarem e em que condições", completou. O atual presidente da TAP disse que "a grande vantagem agora é ter acesso a capital". "Nós nunca tivemos acesso a capital como teremos agora. Mesmo assim, conseguimos crescer. Agora, isso nos traz muita facilidade", disse. Fernando Pinto falou ainda que não é apenas o dinheiro que fará diferença na companhia. "Teremos novas ideias, sangue novo e uma visão estratégica muito importante".

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Fonte: Época Negócios