Correndo atrás do rabo

O quanto deixamos de curtir a vida por medo de mudar, mesmo sabendo que somos muito bons em nos adaptar às mudanças. A pandemia está ai para provar.

Correndo atrás do rabo

Estes dias um amigo me disse: - Partiu “Projeto Verão”! Que legal, perguntei: - Que negócio é esse? Ele me explicou que era uma mistura de contratar e frequentar uma academia, junto com o penoso ato de fechar a boca durante todo o último trimestre do ano. Tudo pra desfilar orgulhoso no verão com um “corpinho sarado”.

Isso me lembrou o quanto, de certa maneira, agimos assim o ano todo. Quantos de nós não trabalha de 12 a 14 horas, dividindo o tempo entre o fardo do trabalho e alivio do final de semana. Quantos de nós ainda espera o período de férias para poder curtir a vida.

Correndo atrás do rabo Um.a Diversidade Criativa
Este comportamento, revela a dificuldade que temos em lidar previamente com mudanças pessoais. Evitamos pensar muito sobre estas coisas, justamente para não termos que nos esforçar mudando hábitos. As vezes procrastinamos tanto algumas decisões que até parece que gostamos de ficar “correndo atrás do próprio rabo”.

A questão é que este comportamento impacta muito na nossa vida. Quantas histórias não conhecemos de gente que trabalhou dos 15 aos 60 anos para acumular o máximo de dinheiro possível para, depois de velho, estressado, sem saúde e sem família, acabar não conseguindo usufruir da “recompensa”? Quantas pessoas, chefes de família, conhecemos e que infelizmente, não conseguiram viajar com suas companheiras ou companheiros, porque elas ou eles não estavam mais lá; quantos pais não conseguiriam acompanhar o crescimento de seus filhos porque estavam ausentes, lutando pelos recursos que pareciam prioritários para a sobrevivência deles?

Quantos desencontros causamos por falta de tempo. E quanto deixamos de evoluir ou ir além por preguiça de ressignificar as coisas. E por fim, quanto deixamos de curtir a vida por medo de mudar.

A pandemia nos provocou que somos muito bons em nos adaptar às mudanças. Mostrou que é possível ter vida pessoal no trabalho e trabalhar numa boa a partir de nossas casas. Nos lembrou que como adultos, gostamos de responsabilidade e autonomia. Tanto é verdade, que hoje no mundo corporativo, difícil conhecer alguém que queira voltar a trabalhar das 9h às 18h em um lugar especifico, sem ter a liberdade de tomar decisões em relação ao espaço e o tempo.

Claro que não é fácil desligar o automático e resistir a olhar nossas redes sociais pela vigésima vez no dia, mas precisamos investir mais tempo em nos conhecer melhor, saber mais sobre nossas crenças e valores, e, assim, passar a agir em sintonia com estes sentimentos. Passar a dizer sim para aquilo que de fato acreditamos e concordamos, e a dizer não, para tudo aquilo que não concordamos e não queremos mais para nossas vidas.

Observamos que as geração X e Y (pessoas como eu, nascidas entre os anos 1965 e 2000) não conseguiram resolver bem estes conflitos, mas em compensação, parece que conseguimos deixar filhos mais preparados para lidar com estas questões.

As gerações mais jovens podem dar conta destes desafios, justamente porque são mais leves e menos comprometidas com coisas materiais ou sentimentos de segurança que tanto nos seduz. Os jovens hoje em dia buscam coisas mais simples e possíveis para suas vidas. Coisas que necessitam ou desejam, mas que acima de tudo, podem ter e usar já.

Por isso, é tão saudável a conexão entre as gerações. Essa troca diversa entre pessoas de diferentes idades e experiências é um convite para repensar escolhas e criar novas sinapses e soluções para velhos hábitos.

Então, ao contrário de acelerar esforços para termos corpos sarados, deveríamos pensar em educação alimentar e equilíbrio para gozar de uma vida saudável e prazerosa o ano todo. Deveríamos focar esforços no resultado do trabalho, para resolver rapidamente nossos desafios profissionais, e assim, termos mais tempo para viver, conviver e viajar com os amigos já no próximo final de semana. Deveríamos repensar nossa expectativa de futuro feliz, para que ele chegue mais rápido em parcelas reais e possíveis, que possam ser usufruídas na companhia saudável das pessoas que amamos.

Precisamos de mais coerência em nossas decisões do dia-a-dia para que possamos viver com menos ansiedade e depressão. As pesquisas mostram que passamos mais de 3 horas por dia nas redes sociais. Bora sair um pouco delas, refletir sobre nossos desejos reais e tomar decisões que criem semanas mais produtivas e melhores. Coisas simples, que qualquer um pode repensar e fazer diferente, a partir de agora.

E no mundo corporativo, temos que aproveitar estas janelas de humanidade que as empresas estão abrindo, para nos posicionar explicitando nossos desejos e necessidades nestes novos tempos. E assim, criar uma cultura mais conectada às pessoas, que inclua, provoque e motive a todos, inclusive aquelas pessoas que ainda preferem viver fugindo da vida.

Ronaldo Bias Ferreira Jr é Sócio-diretor da um.a Diversidade Criativa - Formado em Comunicação Social e Marketing, é empresário, empreendedor e fundador do programa de capacitação MDI Mestre Diversidade Inclusiva, em parceria com a Pearson Educacional. É membro permanente do conselho da Ampro - Associação Brasileira de Live Marketing e atua ampliando a voz de protagonistas, como um forte aliado da diversidade, equidade e inclusão no mundo corporativo.

,https://www.linkedin.com/in/ronaldobias/

https://linktr.ee/Ronaldobias

Fonte: um.a Diversidade Criativa