Cancelamentos de Megas Turnês Mascaram Problematização do Setor

Infelizmente, a transparência no showbusiness brasileiro é algo raro, e quem sofre, mais uma vez são os fãs, que ficam à mercê de uma estrutura que parece ser condicionada a tudo, menos ao profissionalismo e respeito com seu público.

E foi assim, de uma só vez, duas das mais populares cantoras do país, que arrastam multidões por onde passam, Ludmilla e Ivete Sangalo decidiram comunicar ao público e a imprensa que estavam em processo de cancelamento da produção de suas turnês nacionais, em função da produtora 30e — responsável pelas apresentações de cada uma — não estar apta a fornecer e garantir as condições necessárias, e previstas em contrato, para que os megashows pudessem acontecer em segurança.

A produção incluía a organização, planejamento e comercialização das datas dos shows “LUDMILLA IN THE HOUSE” e “A Festa” que em 2024 marcariam a comemoração respectivamente de 10 anos e 30 anos de carreira das artistas.

Vale ressaltar que as séries de shows eram de responsabilidade da produtora 30e – que também está na estrada atualmente com a exitosa “SUPERTURNÊ”, de Jão. Além disso A 30e foi também responsável pela turnê “Titãs Encontro”. A 30e também está fazendo a produção de shows de bandas nacionais como Natiruts, Sepultura e Forfun, e de artistas internacionais, como Gorillaz, Bring Me the Horizon, Pantera, Jungle e Judas Priest, sem contar festivais, como Knotfest, Ultra, Mita e GPWeek.

As justificativas para o cancelamento de “LUDMILLA IN THE HOUSE” e “A Festa” giram em torno de problemas por parte da produtora que prejudicariam a viabilidade e logística dos shows.

As duas anunciaram a decisão em uma aparente ação co-planejada, com comunicados postados quase ao mesmo tempo nas redes sociais com a mesma justificativa: a falta de garantia de segurança e estrutura por parte da produtora.

Os comunicados, ainda tem tom de lamúrias e tristezas pelo ocorrido, não apresentando mais eloquências argumentativas e informando que os fãs que já compraram ingressos deveriam buscar informações junto a produtora e ticketeira para reembolsos.

E o panorama torna-se ainda mais frustrante em função da data que a decisão foi tomada, já que está às vésperas da realização dos shows de abertura das respectivas turnês. A turnê de Ludmilla, que celebraria toda a diversidade musical da artista, indo do funk ao pagode, teria pontapé inicial em dez dias, no próximo dia 25 de maio, no espaço Rio Arena, partindo depois para a estrada brasileira de Norte a Sul em 19 datas.

Já Ivete faria a estreia da turnê “A Festa” em 1º de junho, em Manaus, dando continuidade às comemorações de seus 30 anos de carreira, que tiveram início com um show emblemático no Maracanã, em dezembro passado. A série de shows se desdobraria em 31 datas, com um espetáculo de encerramento programado para abril de 2025, no Estádio Nilton Santos (Engenhão), no Rio de Janeiro.

As cantoras combinaram com suas respectivas assessorias a divulgação do comunicado em sintonia, mas não o fizeram com a produtora, que somente 05 horas depois, pronunciou-se sobre o fato.

Veja o comunicado da 30e na íntegra:

“A produtora lamenta, mas respeita a decisão unilateral das artistas e esclarece que, em nenhum momento, avaliou o cancelamento das duas turnês. Em relação à turnê “Festa”, por questões de demanda, a empresa propôs à artista e sua equipe uma readequação da estrutura e produção e foi surpreendida com o comunicado publicado. Em relação à turnê “Ludmilla in the house tour”, não houve nenhuma negociação anterior à decisão exclusiva da artista, e seu comunicado. A 30e divulgará o mais breve possível os procedimentos relacionados ao reembolso para os fãs que já haviam adquirido ingresso.

Com mais de três milhões de pessoas impactadas anualmente pelos eventos que promove, realiza e produz, a 30e pode afirmar sua integral capacidade para cumprir seus compromissos com seus clientes, parceiros e patrocinadores, e informa que as demais turnês anunciadas estão confirmadas e ocorrerão”.

É, tem muito mais que a preocupação com o público, sua segurança e operação dos shows.

Infelizmente, a transparência no showbusiness brasileiro é algo raro, e quem sofre, mais uma vez são os fãs, que ficam à mercê de uma estrutura que parece ser condicionada a tudo, menos ao profissionalismo e respeito com seu público.

Uma situação dessa deveria ser comunicada por meio de uma coletiva de imprensa com todos os atores envolvidos presentes, com planejamento de gestão da crise gerada, demonstrando realmente atenção e comprometimento com o público.

Mas estamos no Brasil, e o jeitinho brasileiro prevalece e só amplia o precipício do amadorismo, da desconfiança e frustração.

Certamente, há muito mais por debaixo dos panos... E não podemos deixar de considerar que as vendas não estavam sendo o sucesso almejado, já sinalizando, em algumas praças, que dificilmente os espetáculos iriam ocorrer.

Mas, o público é tratado como o aforismo conhecido de “cônjuge traído, é sempre o último a saber” e geralmente sem detalhes.

A gente nessa cadeia é meramente coadjuvante, no pensamento dos magnatas do entretenimento ao vivo.

Isso precisa mudar!!!