Poder Público detonou o Anhembi e agora chama iniciativa privada para salvá-lo

Temendo concorrência, Prefeitura chama empresas para modernizar Anhembi. Segundo Haddad o complexo não pode ficar obsoleto e pretende privatizar o Anhembi, estimando que o valor a ser investido por parceiro seja de R$ 1,5 bilhão.

Pavilhão de Exposições do Anhembi
50 anos sob administração da Prefeitura de São Paulo transformaram o Pavilhão de Exposições do Anhembi, que na década de 70 era considerado uma joia da arquitetura num empreendimento a beira da obsolescência, com perda de clientela (a Couromoda em janeiro transferiu-se para o Expo Center Norte), reclamações de seus usuários etc.

Nesse período, a cidade cresceu, transformou-se na Capital dos Eventos, assistiu à construção de inúmeros centros de convenções com um acréscimo de 180.000 m², com destaque para o Expo Center Norte, São Paulo Expo e Transamérica Expo Center, nos quais se concentram eventos que recebem 8,2 milhões de visitantes, 64 mil expositores e 4 milhões de metros quadrados disponíveis para eventos, movimentando R$16,2 bilhões anualmente, respondendo por 78% da ocupação hoteleira da cidade.

Atualmente, dois empreendimentos estão em fase de ampliação (Expo Center Norte e São Paulo Expo), com a perspectiva de novos e modernos centros de convenções e uma oferta de mais 80.000 m². Tudo isso foi feito pela iniciativa privada e é hoje prestigiada pelos promotores de feiras e expositores, pois oferecem melhor condição de trabalho do que o velho e obsoleto Anhembi.

Esta semana, a Prefeitura de São Paulo, por meio da São Paulo Turismo (SPTuris), empresa de turismo e eventos da cidade, anunciou o lançamento de um chamamento público para receber propostas para ampliação e modernização do Anhembi, maior complexo de eventos do país.

O prefeito Fernando Haddad afirmou que o Anhembi não pode ficar para trás em relação a concorrentes como os centros de exposições Expo Center Norte, o Transamerica Expo Center e o São Paulo Expo, na Rodovia dos Imigrantes, que pertence ao governo do Estado e está sendo reformado e ampliado pela iniciativa privada.

"Nós temos concorrentes (...). Se nós não modernizarmos o Anhembi, ele vai ficar obsoleto. É o melhor lugar da cidade para fazer uma exposição, mas você precisa dar as melhores condições para os expositores", afirmou o prefeito Fernando Haddad.

Considerando que São Paulo em 2017 terá 250.000 m² de pavilhões de exposições, mais do que a metragem dos grandes pavilhões de cidades com larga tradição como centros expositivos internacionais, a pergunta que se faz: a cidade precisa de mais um pavilhão? O acirramento da concorrência será benéfico para o sistema? O rebaixamento dos preços resultante desta concorrência beneficiará o promotor e expositor, ou levará a um novo processo de deterioração dos pavilhões, tornados deficitários?

Espera-se que os estudos contratados pela SPTuris respondam adequadamente à estas questões, demonstrando haver espaço no mercado para oferta de mais 100.000 m² de pavilhões na cidade.

O lamentável, é que a verdadeira lacuna da cidade continua fora da esfera de preocupações do poder publico: a necessidade de um grande centro de convenções, com vocação para grandes congressos e eventos corporativos. A realização ainda este ano do Congresso Internacional do Rotary e do World Skills, monstra a capacidade de captar eventos da cidade, mas também será uma demonstração de sua incapacidade de realizar eventos de grande porte. Os dois eventos serão realizados em condições precárias, à um custo acima do suportável.

O Chamamento - Segundo o presidente da SPTuris, Wilson Poit, a ideia é ouvir o mercado nos próximos 120 dias e receber propostas.

Queremos sentir a temperatura do mercado, a gente imagina um edifício-garagem, uma revitalização do pavilhão, com climatização, melhor instalação elétrica, uma instalação de TI, mais um prédio de hotel e uma interligação com o Metrô", disse.

O objetivo do chamamento é buscar projetos de parceria com a iniciativa privada para reformar e aumentar a atual área de eventos localizada na zona Norte da cidade, de modo que a administração economize recursos públicos ao mesmo tempo em que proporcione modernização, otimização, expansão e manutenção ao Anhembi, oferecendo à população um equipamento e serviços mais adequados.

Em troca do direito de exploração do Anhembi, a iniciativa privada deverá modernizar suas instalações e construir dois novos edifícios. De acordo com o Secretário Municipal para Assuntos de Turismo e presidente da SPTuris, Wilson Poit, o modelo da futura parceria ainda não está definido. "Não se trata de privatização. Poderá ser uma concessão, sociedade ou outro tipo de parceria com a iniciativa privada", explica. "O chamamento servirá para apresentação de projetos e soluções, mas caberá à Prefeitura modelar, regular e dispor sobre os termos e condições da parceria e da execução dos serviços", completa Poit.

Após o recebimento dos projetos - que devem abranger plantas de engenharia, arquitetura, estudos de viabilidade técnica e econômica, exploração comercial do local e outros -, uma comissão será responsável pela análise e pela elaboração de um caderno técnico com o modelo e as obrigações definidas. Só então será lançado o edital para licitação. "As melhorias no Anhembi poderão ser feitas sem afetar o projeto arquitetônico original das áreas tombadas e vão deixar o potencial do complexo de eventos ainda maior, que já tem datas reservadas até 2020", lembra Poit.

Um dos pedidos para os potenciais parceiros será a busca de soluções de estacionamento, considerando que será viabilizado o incremento no acesso ao local por meio de transporte público, ação que poderá consumir algumas vagas atuais. Entre as exigências para melhoria no acesso está a construção de uma interligação do Anhembi com o metrô.

A área que será objeto do chamamento público tem quase 300 mil m² (no total, o Anhembi tem cerca de 400 mil m²) e compreende o Pavilhão de Exposições (76 mil m², que deverá ser reformado), o Palácio de Convenções do Anhembi, o Auditório Elis Regina e o estacionamento. O Polo Cultural e Esportivo Grande Otelo (Sambódromo) não será incluído.

Outro chamamento público foi lançado em janeiro deste ano para outra área do complexo: trata-se de um terreno de mais de 21 mil m², ao lado da concentração do Sambódromo, que hoje possui apenas parte da sede administrativa da SPTuris e que poderá abrigar uma arena multiuso indoor para 20 mil pessoas.

A apresentação projetada na coletiva e a integra do Chamamento estão disponíveis no endereço: www.spturis.com/novoanhembi .

O Anhembi - O Anhembi completa 45 anos em outubro e ainda é o maior complexo de eventos e exposições da América do Sul, além de ser o mais antigo e tradicional da cidade. É administrado pela SPTuris, empresa de turismo e eventos ligada à Prefeitura de São Paulo.

Localizado em área nobre, na Marginal Tietê, está incluído na região do projeto municipal do Arco do Tietê. Todo o complexo do Anhembi tem cerca de 400 mil m² que englobam o Pavilhão de Exposições, o Palácio das Convenções, o Sambódromo, duas arenas para shows descobertas, o Auditório Elis Regina e o Espaço Anhembi, além do estacionamento e sede administrativa.

Somente o Pavilhão de Exposições tem 76 mil m² e tem a maior área coberta contínua de exposição do país. Já no Palácio das Convenções são 36 mil m² de halls, salas modulares e quatro auditórios, entre eles o Celso Furtado para 2,5 mil pessoas.

Ao todo, o Anhembi acomoda em média 300 eventos por ano dos mais diversos tipos e segmentos, como Salão do Automóvel, Salão Duas Rodas, a Bienal do Livro e a Francal, além de festivais de música e congressos. Esses eventos atraem mais de seis milhões de visitantes anualmente e mantém o complexo com taxas de ocupação que giram em torno de 65%.

A capital paulista se consolida como destino de eventos. Segundo último levantamento da International Congress and Convention Association (ICCA-2015), São Paulo é primeira no Brasil e 34ª cidade do mundo que mais recebe eventos internacionais, à frente de destinos tradicionais, como Rio de Janeiro, Lima, Nova York, Toronto, Vancouver, Milão e Dubai. O resultado paulistano contribuiu para a 10ª colocação do Brasil, com 291 grandes encontros mundiais, sendo 22,68% realizados em São Paulo.

Consultas realizadas pelo Observatório de Turismo e Eventos da SPTuris com 30 empresas de eventos em São Paulo durante os meses de janeiro e fevereiro de 2015 demonstram que os negócios do setor encontram-se em expansão de 10%, revelando situação menos favorável do que as registradas nas mesmas épocas de 2013 e de 2012, porém, ainda em crescimento. O ano de 2014 é considerado atípico por conta da realização da Copa do Mundo, prejudicando os fatores de comparação, ainda assim, o crescimento registrado em 2014 foi de 5%.

Além disso, em geral os centros de convenções e pavilhões de exposições da cidade manifestaram intenção de realizar investimentos. As áreas/atividades onde se concentrarão os investimentos programados são a de melhora da infraestrutura e a de aquisição de novos materiais e equipamentos.

O Observatório também realiza consultas periódicas com o mercado de eventos, avaliando as necessidades dos empresários e serviços que desejam oferecer aos clientes de espaços de exposição. Entre as principais solicitações estão:

  • Espaços modulares, adequados a qualquer tamanho de evento, mas com pé direito elevado, proporcionando a construção de estandes com mezanino;
  • Climatização da área de exposição (ar condicionado);
  • Localização de fácil acesso de rodovias, aeroportos e terminais rodoviários;
  • Estrutura de cabeamento elétrico, água e esgoto e internet adequados;
  • Banheiros limpos e confortáveis;
  • Estacionamentos amplos, de preferência no próprio centro de eventos;