Maior exposição da cultura e dos atrativos turísticos das cidades poderia ter melhorado a distribuição dos gastos dos turistas durante o torneio. Esse será o grande desafio para a Copa de 2014, avaliaram especialistas durante o evento. Ainda com relação ao levantamento do Ministério do Turismo/ Fipe, os pontos negativos do campeonato para os turistas foram a alimentação nos estádios, o atendimento em outros idiomas e a qualidade do transporte público.
O americano apresentador do quadro "Olhar Estrangeiro", do programa Tá na Área, do canal SporTV, Mark Lassise, contou sua experiência ao visitar as sedes durante a Copa das Confederações. "'As cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília estão preparadas para receber grandes jogos, pois estão acostumadas com grandes eventos. Já em Fortaleza, tive problemas de comunicação. O Castelão era fantástico, mas era um pouco longe e, se eu não tivesse ajuda, não conseguiria chegar ao estádio", afirmou Lassise, que entende português, mas não fala a língua.
Ao longo do debate foi consenso que a Copa em si não deve trazer incremento econômico significativo. De acordo com análise da FecomercioSP sobre diversos estudos e levantamentos, o Brasil pode atingir crescimento de 0,7 ponto percentual no PIB e de 0,5 na geração de empregos durante o campeonato. A estimativa oficial é de 600 mil turistas estrangeiros, mas a Federação acredita que o número deve chegar à metade, como aconteceu na África do Sul.
Para o presidente do Conselho de Turismo e Negócios da FecomercioSP, Marcelo Calado, as expectativas positivas parecem exageradas frente aos investimentos efetivos e a capacidade da economia nacional. "Haverá benefício na imagem do País para o resto do mundo, mas, mesmo assim, não é pequeno o risco de desapontamento", ponderou.
A pesquisadora em turismo urbano e professora da USP, Mariana Aldrigui, acredita que a estratégia mais correta para atração de turistas precisa ter duas vertentes: o poder público deve se concentrar no bem estar dos moradores das cidades e a iniciativa privada no atendimento ao turista. "A gestão pública tem de focar no morador e não na experiência do turista, pois se as instalações, transporte e serviços forem satisfatórios para quem habita a cidade, o visitante vai para casa com a positiva sensação de desejar viver ali. Com certeza ele voltará", explica.
Apesar de pessimista com relação ao evento, para Mariana, as possíveis falhas estruturais serão superadas e absorvidas pelos serviços. "As falhas no transporte público serão supridas com a oferta de táxis e vans fretadas, por exemplo". A maior preocupação, segundo a pesquisadora, é a qualidade das telecomunicações e a infraestrutura para transmissão de dados. Nas outras Copas do Mundo as redes sociais não eram tão fortes e aparelhos como smartphones e tablets ainda não tinham se popularizado. A experiência da cobertura simultânea por milhares de pessoas começa a existir nesta edição da Copa e isso pode definir uma imagem positiva ou ruim do Brasil para o mundo.
O setor hoteleiro não deve ter resultados muito acima da média em cidades como São Paulo. Apesar de hospedar o fluxo de turistas nacionais e internacionais estimados, os hotéis deixam de receber, no período da Copa, eventos corporativos. De acordo com o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Estado de São Paulo e coordenador da Câmara Temática da Copa 2014 no Conselho Estadual de Turismo de São Paulo, Bruno Omori, o conflito de agendas, no entanto, não deve prejudicar o setor, pois há uma tendência de remanejamento dos eventos corporativos e não de cancelamento.
A hotelaria brasileira já conta com número de leitos superior ao exigido pela FIFA e o setor já investiu R$12 bilhões nos últimos cinco anos e deve investir mais R$ 7 bilhões até o ano que vem para a prestação de serviços, conta o presidente do Fórum dos Operadores Hoteleiros do Brasil, Roberto Rotter, que também participou das discussões.
Das diversas intervenções, seja da plateia, seja dos participantes das mesas de trabalho do encontro, conclui-se que: o impacto da Copa das Confederações foi de cerca de R$250 milhões, muito pouco se considerarmos o investimento realizado; as cidades que receberam os jogos não prepararam materiais para promover a cultura local, o que fez com que os turistas permanecessem no próprio hotel; não existem estudos consistentes sobre os ganhos que serão proporcionados pelos estádios e parte deles com certeza se tornarão elefantes brancos, ficando as cidades com um enorme ônus para manutenção destes estádios; o Brasil perdeu a oportunidade de realizar uma Copa Verde; a maioria das cidades que receberão turistas “da Copa” em detrimento do turista “de negócios ou de eventos”, devendo-se observar que o gasto diário do primeiro é de apenas R$300, enquanto o de negócios deixa R$521 por dia em permanece no destino e, finalmente, que a decretação de feriado nos dias dos jogos favoreceram e certamente irão favorecer os Movimentos de Rua.
O diretor do Portal Eventos e membro do Conselho de Turismo da FecomercioSP, Sergio Junqueira Arantes, dividiu sua intervenção em dois aspectos: diversamente do que se tem dito nos últimos dias,, colocando em dúvida a validade dos investimentos públicos em mega eventos, é fundamental que o setor refute esta imagem, mostrando que Turismo, Eventos e Entretenimento são responsáveis por 20% dos empregos gerados no mundo (no Brasil cerca de 10%, o que mostra o gap de crescimento possível), e que tão importante quanto saúde, educação e moradia é o Trabalho e que os mega eventos são sinônimo de Trabalho.
Em seguida, Junqueira lembrou que no período em que as cidades de Barcelona e Sidney sediaram Olimpíadas, alçaram o topo do ranking da ICCA e que o Rio de Janeiro na mesma situação permanece na 27ª colocação. Ressaltou ainda que muito se tem realçado que o Brasil é o 7º país que mais recebe eventos internacionais segundo a ICCA, mas que se considerarmos o ranking pelo critério do número médio de participantes, o Brasil cai para a 13ª colocação. E isso se deve, segundo Junqueira, à falta de centros de convenções no país: “dentre os 150 maiores do mundo, o maior do Brasil ocupa a 105ª colocação (Santos), seguido pelo Rio de Janeiro (RioCentro), ficando o maior de São Paulo (Anhembi), na 142ª posição. Este é mais um legado da Copa, e das Olimpíadas, que perderemos”, finaliza Sergio Junqueira.
Apesar das ponderações, o presidente do Conselho de Turismo da FecomercioSP vê a Copa como uma oportunidade. "Após um evento desta magnitude, a imagem deixada, seja ela positiva ou não, gera impactos para um País por cerca de dez anos. Temos que saber trabalhar para passar uma imagem positiva e colher mais frutos no futuro", afirmou Calado.
FecomercioSP
A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) é a principal entidade sindical paulista dos setores de comércio e serviços. Responsável por administrar, no estado, o Serviço Social do Comércio (Sesc) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), representa um segmento da economia que mobiliza mais de 1,8 milhão de atividades empresariais de todos os portes e congrega 154 sindicatos patronais que respondem por 11% do PIB paulista - cerca de 4% do PIB brasileiro -gerando em torno de 5 milhões de empregos.
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