Cenário Dramático para os Eventos no Brasil

Ficamos à mercê da sorte, que nem sempre estará presente. A queda da confiança nos produtores e organizadores é nitidamente percebida. A segurança é colocada como item não prioritário, se for preciso cortes são feitos, sem dó ou piedade. Sem compromisso com o bem estar e a vida de tantos.

Na última segunda-feira, dia 21 de fevereiro, um incêndio no Mavsa Resort, localizado em Cesário Lange, no interior de São Paulo, a 150 km da capital, deixou ao menos 20 feridos. O fogo iniciou-se por volta das 23h e foi controlado por volta das 3h da madrugada.

De acordo com os bombeiros, a suspeita é que o fogo tenha começado pelo uso de artefatos pirotécnicos durante um show para os hóspedes. Outra possibilidade menciona falha nos equipamentos elétricos dos músicos. Segundo testemunhas, a Banda Arquivo, apresentava o show Las Vegas para cerca de 40 pessoas no salão Dragon Bar. O incêndio começou quando faltavam 30 minutos para o espetáculo acabar.

Em nota, o resort informou que a brigada de incêndio foi rapidamente acionada, está colaborando com a investigação e que local mantém todos os alvarás de funcionamento em dia, sendo que a última vistoria foi em dezembro de 2021. E esse fato não pode ser considerado como algo notável, pois é o mínimo que se espera de empresas idôneas e éticas.

Antes mesmo da finalização do inquérito, esse caso demanda reflexões importantes de todo o segmento de eventos.

O momento é de extrema cautela com a retomada dos eventos presenciais, já que o setor vem de tempos de extrema dificuldades com as imposições originadas pela pandemia do Covid-19.

É notório que os recursos estão mais escassos, a concorrência baixando orçamentos, os contratantes pressionando por mais savings e a qualidade sendo não mais protagonista, mas sim coadjuvante, guiada pela máxima do mais em conta é melhor!

A segurança que teria tudo para tornar-se efetivamente o atributo de maior relevância dos eventos, com uma maior evidência das responsabilidades de todos os envolvidos, continua não sendo priorizada e acaba sendo ainda mais fragilizada pela atuação de amadores ou de profissionais inaptos para responderem por tais planos.

O déjà vu sentido com o incêndio no resort de luxo, expõe uma ferida que há muito sangra. O tempo minimiza a dor, porém se formos analisar a sequência dos fatos que ocorreram pós boate Kiss, no que diz respeito a uma real cultura preventiva de segurança em eventos, teremos até vergonha, de constatar a inércia existente e um movimento estagnado, que não foi além da comoção inicial, de alguns discursos inflados de políticos, autoridades e representantes de entidades de classe e... notadamente nada mudou.

Ficamos à mercê da sorte, que nem sempre estará presente. A queda da confiança nos produtores e organizadores é nitidamente percebida. A segurança é colocada como item não prioritário, se for preciso cortes são feitos, sem dó ou piedade. Sem compromisso com o bem estar e a vida de tantos.

Nessa fase de retomada, esse cenário seria o pior que poderíamos ter, pois deixa ainda mais vulnerável a cadeira produtiva dos eventos.