Caio Inaugura sua FENIT

“Os sonhos existem para tornarem-se realidade”. Walt Disney

Queridos leitores, as notícias sobre o Caio e sua FENIT, saiam todos os dias e em todos os meios de comunicação, enquanto milhares de propagandas espalhadas por todos os lugares, entravam em todos os lares e iam aguçando a curiosidade das pessoas que jamais tinham visto uma Feira antes, e não sabiam muito bem ao certo do que se tratava esse negócio. Mas a grande vantagem, garantiam os anúncios, era que se tratava de um evento de moda para homens e mulheres elegantes terem acesso ao glamoroso mundo da moda, e que para isso bastava comprar um ingresso.

O buchicho em torno da Feira estava sendo enorme. Em São Paulo, não se falava de outra coisa. Antes que outubro chegasse ao fim, Caio liberou o Pavilhão do Ibirapuera para que os expositores começassem a montar seus estandes, garantindo dessa forma, que no dia da inauguração a FENIT estivesse pronta. Caio e sua equipe para acompanhar a montagem, mudaram-se para o Pavilhão para seguir de perto aquela que estava sendo uma operação de guerra, justamente, para dar suporte aos industriais que naquele momento estavam vivendo a novíssima experiência de serem expositores. Caio percebeu que eles não estavam medindo esforços para se destacarem de qualquer jeito, e teve a sensação de que os expositores estavam muito mais empenhados em fazer bonito, do que em vender os seus produtos. E se sua percepção estava certa, pensou com seus botões, ele teria sérios problemas pela frente.

Depois ele veio a saber, que a maioria deles estavam contratando arquitetos e decoradores para construírem os seus estandes, porque de fato tinham como objetivo se sobressaírem frente aos seus concorrentes, só que não tinham a menor ideia do que eles queriam expor, nem de que maneira eles queriam expor os seus produtos e o pior de tudo, não tinham a menor ideia do que esperar da Feira. A preocupação em “aparecer” era tão grande que alguns chegaram até mesmo durante a montagem mudar completamente o projeto original dos seus estandes, quando cismavam que o do concorrente estava ficando mais bonito.

JK em visita à FENIT
JK enxergava na FENIT que o Caio acabava de criar, e naquelas que ele pretendia realizar, verdadeiros “showrooms” da industrialização. Um dia, Juscelino, confessou ao Caio que ele acreditava que as Feiras seriam as melhores armas de propaganda que o iriam auxiliar na sua politica “nacional-desenvolvimentista”. JK tinha tanta fé nas Feiras que ele sempre dizia ao Caio, que elas o ajudariam a mostrar aos brasileiros e ao mundo que a grandeza do Brasil era possível, e que elas seriam uma prova de que o Brasil ultrapassaria a barreira do subdesenvolvimento, e que chegaria a ocupar um lugar especial no mundo, mostrando sua pujança, sua riqueza e que um dia o povo brasileiro conseguiria mostrar ao mundo o seu valor.

No dia da inauguração da FENIT, Caio chegou bem cedinho no Ibirapuera, para dar tempo de fazer uma inspeção bastante rigorosa. Estacionou de propósito seu carro debaixo de um ipê branco escandalosamente florido, para ficar perto das flores e dos passarinhos, que juntos com os jornalistas, faziam plantão. Só que os pássaros com a vantagem de estarem pousados nos galhos mais altos tinham uma visão mais ampla do que estava acontecendo, e alegres com isso, cantavam a plenos pulmões.

Às 18 horas em ponto daquele 15 de novembro de 1958, qualquer pessoa que quisesse poderia ligar a sua televisão e assistir as solenidades da inauguração da FENIT. O Brasil tinha nessa época 344 mil aparelhos que permitiam que os brasileiros acompanhassem o que ia acontecer no Parque Ibirapuera. A temperatura do cair da tarde estava muito agradável a despeito do calor que tinha feito durante o dia. Aqueles que estavam em casa assistindo a transmissão pela televisão, ficaram impressionados com as expressões emocionadas quando as câmeras focalizavam o rosto das pessoas.

O Pavilhão ficou apinhado de convidados, as pessoas conseguiam fazer apenas um aceno de mão para os amigos que nem estavam tão distantes assim, mas como andar era impossível, elas preferiam ficar paradas no mesmo lugar, onde pelo menos conseguiam colocar os dois pés no chão, porque não tinham condições de se movimentarem muito, correndo o risco de pisarem no pé de alguém ou serem pisadas por alguém. O famoso “tchauzinho” poupou a todos, dos empurrões. Entre os inúmeros presentes estavam Francisco Matarazzo Sobrinho, o embaixador e o cônsul da Inglaterra, o cônsul da Itália e inúmeras personalidades importantes do mundo dos negócios e da política sem falar na alta sociedade de São Paulo e do Rio.

O grande momento estava para acontecer. O desfile dos costureiros internacionais. O aroma do Chanel nº5 impregnava o ar. As mulheres tinham tirado do cofre suas joias mais valiosas e as ostentavam numa nem tão sutil competição. Enquanto os homens de smoking, pela primeira vez na vida iam assistir a um desfile de moda, estavam entusiasmados devido a propaganda que corria de boca em boca a respeito da beleza das manequins internacionais que todo mundo garantia serem de tirar o folego. Os industrias franceses, que vieram a convite do Caio, disseram nas entrevistas que deram à imprensa, que ficaram encantados com o requinte das mulheres brasileiras, e que nunca tinham visto bolsas e sapatos forrados com o mesmo tecido do vestido.

Os desfiles dos costureiros internacionais causaram uma verdadeira comoção no Pavilhão. Uma multidão de jornalistas, fotógrafos, cinegrafistas amontoavam-se na porta do salão oficial e um exército de seguranças formavam um corredor humano, para garantir que os convidados conseguissem entrar. As luzes dos holofotes iluminavam tudo e espalhando-se por todos os cantos alvoraçavam os sentimentos. Cada um dos convidados entrava no salão dos desfiles com a reverência de quem ia assistir uma cerimonia sagrada de uma religião desconhecida, e tanto os homens quanto as mulheres não sabiam muito bem como deveriam se comportar. Sentia-se uma eletricidade no ar. As luzes da sala apagaram-se e só um foco de luz iluminou a passarela. Começaram os desfiles...

O vai e vem constante das moças na passarela, mostrando os modelos e as tendências da moda europeia, despertaram admiração nos homens e paralisaram as mulheres de inveja. As manequins eram lindas, seus penteados absolutamente maravilhosos, elas eram tão elegantes que se moviam como se flutuassem no ar, ao som das mais belas musicas brasileiras. Todos os vestidos foram confeccionados em algodão, tecido que jamais tinha sido usado pelas mulheres da alta sociedade brasileira. Para terminar a noite, Silvio Caldas se apresentou e ao terminar foi aplaudido de pé. A primeira noite da FENIT tinha sido perfeita. Um grande sucesso.

Vocês não vão acreditar que apesar de tanto glamour, de tanto sucesso, essa primeira FENIT fez com que o Caio amargasse um prejuízo épico de Cr$ 80 milhões. Ele jamais imaginou que podia perder tanto dinheiro assim. Seguiu à risca os mandamentos de Snitow: não deu desconto a nenhum expositor, não prorrogou a duração da Feira e nem adiou, não distribuiu os ingressos que sobraram aos montes. A despeito do prejuízo, Caio estava satisfeito por ter conseguido cumprir tudo que tinha prometido aos expositores: trouxe os grandes estilistas estrangeiros, acarpetou os 20 mil metros quadrados do Pavilhão e montou toda a infraestrutura de apoio para os expositores e para o público em geral. Meus queridos leitores, essa é uma das histórias mais impressionantes do Caio, da sua garra, e da sua certeza que um dia “Vai dar Jacaré”. Qualquer pessoa normal e sensata teria parado por aqui mesmo.

Se você gostou da gotinha de história que você acabou de ler e, para matar a sua curiosidade e sua sede de conhecimento, sinta-se à vontade para comprar o livro inteirinho.

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